terça-feira, dezembro 26, 2006

Ante-Véspera

Aquilo a incomodou o dia inteiro, aquela possibilidade. "Não era amor, apenas esperanças de amor". Isso mudava tudo. Ela no final das contas então não conhecia nada, não estava pronta para nada. Era terrível, uma constatação terrível. Ela não sentira nada verdadeiro até agora. Mas como saber se era ou não amor? Que lhe diria se era ou não?Como essa outra pessoa poderia saber com certeza se o que ela também havia sentido não era só algo próximo de amor, mas não amor em si? Isso complicava tudo, justo para ela que só queria que tudo fosse um pouco mais leve.
Decidiu comprar um livro, mas não um qualquer, precisava ser ficção científica, de preferência algo bem longe de amor. Não estava preparada para pensar nisso de novo. Quando não se quer pensar em determinado assunto, nada melhor do que se evadir dele. Enquanto andava se percebeu falando sozinha, e já fazia semanas que falava sozinha.
Era dia 23 de dezembro, a livraria quase decente mais próxima era a do shopping. Seria um inferno, ela tinha certeza. Muita gente desde a rua, muita gente pra atravessar, muita gente para entrar, muita gente para sair. Nem precisava olhar do alto para compará-las a formigas. Odiava insetos, odiava mais ainda se imaginar parte deles. Mas era preciso esquecer "aquele" assunto. Nisso as formigas foram de grande ajuda.
Andava e falava sozinha, tentando ignorar as formigas. Por um momento se permitiu olhar para elas. Quanta feiúra, eram todas feias, muito feias. Todas procurando inutilmente parecer um pouco bonitas e, talvez por isso, eram muito mais feias do que imaginavam. "Vocês não percebem que são todos horrorosos?" as formigas pararam por um instante, "Feios, todos muito feios. V-O-C-Ê-S S-Ã-O M-U-I-T-O F-E-I-O-S". Formigas atônitas, ofendidas, logo elas tão bonitas, quem era aquela maluca? "Minha senhora, vou ter de pedir para senhora se acalmar", "Você é o mais feio, com esse uniforme branco. Acha que você inspira alguma autoridade? Com toda essa feiura saindo pelos poro?", o segurança vermelho, mais de vergonha do que de raiva,tentou se aproximar "Minha senhora vou ter de pedir para senhora ir se retirando deste shopping, vou lhe levar à saída". Que absurdo aquela criatura além de feia, usava gerúndio e queria pegar nela "Não toca em mim e não não usa gerúndio comigo".
Precisou de mais dois guardas para conseguir botá-la para fora do shopping "Mas eu ainda não comprei mei livro. Eu quero comprar meu LIVROOOO". Se debateu o mais que pôde, mas era magra, ombros estreitos de mulher magra, tudo de mulher magra que só consegue se debater, e eles além feios eram homens, grandes, truculentos. Ainda tentou entrar duas vezes, mas os três ficaram ali na porta. Passou o dia inteiro reclamando do acontecido, nem pensou mais no "assunto"

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Quero Ser Caio

Tem uns autores que gritam comigo. Sim, gritam, o que eles escrevem me impacta de uma forma tão grande que é como se gritassem. Clarice com certeza é uma, mas no caso dela acho que isso acontece com todos. Agora o Caio é diferente, ele é um querido, sempre presente, sempre me contestando. Que contestando nada, ralhando mesmo, com uma voz afetada, nunca a ouvi, mas sempre imagino que fosse bem afetada "Deixa de ser Irene bofinho, a onda é ser Jacira". Sempre com cigarro na mão, acho que minhas vontades repentinas de fumar vêm dele, de beber vodka até cair também, acho que simpatizo com ela por causa dele. Sempre tem uma frase, as vezes textos inteiros, dele que eu gostaria de ter escrito. Não tenho a ousadia que ele tinha, toda vez que me pego pensando isso, ele invade meus pensamentos ralhando, mandando eu ir viver a vida. Acho que é porque eu não queria a minha vida, eu queria a dele, final trágico e tudo, com direito a texto dizendo "Eu ainda não morri, porra". Acho que me apeguei mais a ele porque ele grita comigo não só pelos textos, mas em pessoa. Contato é uma coisa muito importante.

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Marisa (S&R Letras)

Ela acordou decidida, hoje era o dia de conquistar o boybem. Maquiagem leve, vestido, óculos escuros à Lady Vengeance, brincos e é claro salto. Se tivesse algum, colocaria um chapéu, completaria o efeito desejado. O boybem já foi escolhido, era apenas questão de atraí-lo, ele já sabia o quanto ela era inteligente, divertida, simpática, só faltava perceber o quanto ela é bonita. Nada que um ar blasé e uma boa produção não dessem jeito.
Vive la Fête no som do carro, pronto, trilha sonora. Agora era percorrer a cidade a caça do boybem, do seu boybem. Já sabia onde poderia encontrá-lo, na verdade sabia RG da vítima, sabia que com toda certeza naquela hora ele estaria tomando vinho com alguns amigos em algum lugar charmoso da cidade. Estacionou. Procurou. Achou, agora era linha reta no alvo, olhar penetrante, um pé na frente do outro pro andar ter mais cadência, óbvio sem exageros. Gostava de pensar que percorria muito bem a linha da sensualidade sem nunca pular por lado negro da força, a vulgaridade. Sorriu, e quase acertou, ele estava bebendo vinho sim, mas sem os amigos. Estava no balcão com uma garota. Ela teria de desculpar-lhe, mas iria roubar o boy.
A única coisa que ela precisava era um olhar. Senta numa mesa pra decidir o que fazer. Quando está tirando os óculos escuros um garçom deixa cair um copo, desviando todos os olhares – esse é um daqueles dias em que nada podia lhe atrapalhar. Quando as pessoas estavam voltando ao que estavam fazendo seus olhares se cruzaram. Suas mãos ainda seguravam os óculos, deu um meio sorriso só com os lábios e acenou de leve. Assim que a viu não podia deixar de falar com ela. A outra moça nem tinha chance, não naquele dia:
___ Posso sentar?
___ Claro - Seus olhos tinham um certo brilho, devia ser por causa do desejo.
___ Estás bebendo o que?
___ Não sei, um chileno que o garçom recomendou.
___ Me veja o mesmo que ela, por favor.
___ Precisamos brindar.
___ Bem, a que vamos brindar?
___ A nós!
___ E a “ocasião” é importante?
___ Somos nós, eu decidi que de hoje não passa, eu te quero e vim aqui exatamente pra isso, pra te trazer de uma vez por todas pra dentro de uma parte da minha vida da qual tu só fazes parte na minha cabeça.
___ Tenho escolha? - Ele sorri com o canto dos lábios e lança o olhar para baixo.
___ Ainda resta dúvida? Sabe quantos no mundo podem se dar ao luxo de falar que já me tiveram aos seus pés? Dois, contigo três e aprendi não deixo mais passar, acordei decidida a te ter.
___ Já me tens, somos amigos.
___ Eu quero mais. Não, não é “mais” a palavra certa, eu já tenho muito de ti, eu quero algo diferente. Além disso, amigos eu já tenho de sobra, você eu quero pra outras coisas.
___ Essas outras coisas ao que me constam não são feitas entre inimigos.
___ Eu quero essas coisas só comigo, quero também tardes de mãos dadas pela rua, quero rotina compartilhada, quero momentos imbecis infantilizados, quero a preferencial das tuas escolhas.
___ E o que eu ganho com tudo isso?
___A certeza de divertimento ou a devolução.
O silêncio e uma olhada para o lado, o que significaria isso? Um gole no vinho, voltou o olhar pra ela, e a perguntava continuava, o que significa isso?
___Estou assustado
___Não era esse o objetivo, na verdade só não queria deixar passar de hoje, essa situação está sendo protelada há algum tempo, sou impaciente, como meu amigo tu sabes disso.
___E como teu amigo eu também sei que tens uma péssima mania de vilanizar os que não te obedecem.
___Isso significa que a tua resposta é não? Ela já devolveu os óculos para os olhos, virou a cara e deu uma golada poderosa no chileno que descia na garganta como se fosse uma dose de cachaça que custou 0,50 centavos.
___Eu falei alguma coisa? Na verdade me deixaste falar alguma coisa, alguma vez?
___ Não acredito que vamos ter uma “DR”, sem nem ter começado o “R”.
___ Isso não é uma discussão, é uma constatação, não me deixas ter escolhas, és como um mar, ao mesmo tempo em que fascina, dá medo. Nunca sei o que realmente fazer.
___ Eu vilanizo os desobedientes e tu os incompreensíveis. Deu uma risada, tomou mais um gole e deixou o clima da conversa mais leve.
___ Quer saber honestamente o que está passando pela minha cabeça?
___ Com certeza, com mais certeza até de que eu sabia que você ia deixar a menina do balcão pra vir sentar comigo.
___ Você me assusta. Não é bem isso, é que... a idéia de gostar de você me assusta...
___ Que absurdo. Você tem medo de mim?
___ Não é isso, calma.... é que a única coisa que passa pela minha cabeça é um gostar irracional, daqueles que faz com que você não pense em outra coisa... e isso me assusta.... muito.
___ Sabe, eu vim decidida a sair dessa eterna sala de espera. – Ela fecha os óculos – Tô cansada de ter paciência, eu te queria agora, “Mas você tem medo de me perder como amiga” também não é?
___ Essa frase é velha, né?
___ Muito, vai, a menina ainda ta no balcão. Vou dar mais um tempinho aqui eu e o “olhar de fotografia de verão”.
___ Mas...
___Vai cão, antes que eu me emputeça.
Esqueci de dizer, os textos do S&R Letras são escritos por mim e a Dra. Sexy SIC e são postados tb em http://sic8.blogspot.com

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Pedido

A coisa que eu mais queria dessa vida nos últimos tempos era leveza, mas é o tipo de coisa que ela tem o prazer de negar, é a grande ironia dela para conosco. É sobre as coisas mais simples que nós ficamos nos perguntando "Porra, por que eu não tenho só isso?", vai ver que é pedir demais sim. Além do que, pedir pra quem? Porque parece que todo mundo ao meu redor não acredita mais em Deus, um deles nem sabia que eu acreditava. Foi uma cena de espanto bastante autêntica "Mas... VOCÊ acredita em Deus?!". Eu devia só ter dito "sim", apesar de ultimamente ele ter sido só aquele cara que me nega as pequenas coisas, em vez disso debati o assunto. As vezes eu acho que precisava de provas mais contundentes ou de problemas psicológicos mais graves, como esquizofrenia, que me fizessem ter mais certeza, mas sempre tem alguém pra falar sobre fé, geralmente de uma forma bem tacanha. Também tenho de confessar que ando bem chato, alguns anos atrás eu até daria um sorriso pra eles. Não sorrio mais, não pra eles. Mas continuo acreditando. Ah, esse foi o centésimo texto do meu blog, eu também gostaria de ter mais coisas a dizer. Será que já sou leve e não sei?

sábado, dezembro 16, 2006

Rascunho

Outro dia enquanto lia uma crônica tentei recriar a cena na minha cabeça. Percebi uma impossibilidade minha, não que não conseguisse imaginá-la, mas ela era incompleta, era uma cena em duas dimensões apenas, nada tem volume. Tentei lembrar de alguma outra coisa, percebi que minhas lembranças poderiam até mesmo ser sistematizadas, lembraças de cheiros, de tato, visuais, mas juntar tudo parece impossível. As vezes tudo começa no cheiro, me leva a uma imagem, mas assim que ela chega até mim o cheiro já se foi. As vezes era só um gesto. Fico desesperado tentando juntar tudo. Passa tudo como se eu fosse um espectador, uma tela de cinema. Bato um pouco na cabeça pra ver se tudo cai nos seus devidos lugares. Inútil. Incompletude. Me pergunto se sou o único que experiencia as lembranças dessa forma. É terrível não saber se alguém é capaz ou tão incapaz quanto você. É um problema de companhia.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Respingos

Ele colocou a cara pra fora da janela, a chuva caia naqueles pingos que mais parecem navalhas. Lembrou de algum filme ou música que dizia "blame it on the rain", mas não tinha muito o que culpar a pobre da chuva, o maior dos problemas da sua vida era simplesmente não gostar muito dela. Se afastara de todos, amigos, família, relacionamentos são custosos. Sempre imagina o Caio com o turbante que usava naquele conto, excêntrico, afetado, lhe brigando, mandando ir viver a vida. Muito complicado viver a vida se você não gosta dela, por isso tinha se afastado, todos com tantos problemas e acontecimentos, ligados demais a vida. Resolveu ficar ali, como sempre esteve, meio quieto, descobriu que os outros provavelmente nem se importavam, porque ninguém notou quando ele parou. Tudo andava mais acelarado enquanto ele ficava parado, todo mundo era protagonista do flash da década de 90, aquele ator não conseguiu mais fazer nem um papel de destaque. Qual era o nome do ator do flash? Só lembrava que ele estava velho já, fez papel de pai em outro seriado. Pessoas precisam pagar as contas, ter empregos das 9:00 às 17:00. Se passasse por ele, provavelmente ia passar correndo também. Enxergava tudo embaçado, a chuva de pingos de navalha já tinha lhe encharcado o rosto, a cidade inteira agora lembrava o flash. Era bonito de se ver.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

Ana me Contou

Ele ia para o trabalho como todos os outros dias. Marcava o ponto às oito, tomava o café e travalhava até às cinco da tarde. Quando chegava em casa, ele não havia dito a ninguém, mas ela não estava mais lá. Arrumava tudo. Colocava o porta retrato com a foto do casamento, o melhor paleto e esquentava o jantar. Numa das vezes o telefone até tocou, mas era sua irmã. Uma vez a campainha tocou, era uma pedinte. Nunca era ela. Ele nunca desistiu, espereva todos os dias. Eles eram muito diferentes, era o que todo mundo dizia, mas ele sabia que não era preciso ser compatível a cada segundo do dia, bastava que o entendimento deles sobre amor fosse igual. E era.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Hoje

Ela desvia o olhar da tv, desce da poltrona e se dirije a sua mãe:
- Mãe, eu preciso ir no médico.
- O quê? - distraída fazendo o café, demorou um segundo pra entender o que lhe foi dito - Médico? Por quê?
- Acho que eu tô morrendo - ela falou como se estivesse comunicando uma descoberta dessas de criança, como algo aprendido na aula de ciências, que nunca tomam a devida proporção quando contadas a um adulto.
- Que isso filha? Por que você acha uma coisa dessas?
- Eu sei. É linfoma. Tenho entre 3 e 4 meses de vida.
- Que absurdo. Já pro teu quarto, você está de castigo - algumas lágrimas rolaram até chegar no seu queixo - Você tem 10 anos de idade, crianças de 10 anos de idade não têm linfomas.
***
- Está bem claro pra mim que sua filha está deprimida.
A garotinha solta a mão da mãe e levanta da poltrona, num daqueles momentos em que crianças tentam parecer adultas e são até razoavelmente bem sucedidas:
- Você é um gênio.

domingo, novembro 26, 2006

Wake Up Alone

Eu costumava guardar o teu lado da cama, só dormia no meu, o teu ficava intacto. Não melhorei não, acho que tô até pior do que antes. Agora eu durmo do teu lado da cama. Nem quero mais saber do meu. Fico tentando sentir algum resquício de perfume que possa ter sobrado, ou alguma presença fantasmagórica tua. Impossível, você não tá morta. Mas mesmo assim eu durmo ali, tentando ocupar o espaço que você deixou. Não importa se o meu fica vazio, o teu é que anda fazendo falta. Nada mais tem o teu cheiro em casa, só o olfato que fica pregando peças, sinto o teu cheiro e me viro, mas era só a lembrança de algum dia que você passou por aquele canto e eu senti o teu cheiro. Não tem mais nada teu aqui, exceto toda a mobília, a cor das paredes, o faqueiro feio, os guarda-chuvas quebrados, as revistas velhas. Não, isso é tudo meu também, mas a tua mania de se apossar das minhas coisas. Pra mim parece que tudo aqui é teu. Até filho, se nós tivéssemos algum, seria "nosso" filho e "teu" filho, mas duvido muito que fosse "meu" também. Ainda bem que não tivemos nenhum, era capaz de você ir embora e deixar o coitado aqui. Você não tem coração. E eu, que fico fungando lençol lavado, que não tem mais nada de ti, não tenho um pingo de amor próprio. Um dia desses deixei tudo branco, peguei tudo, joguei na máquina e enchi de alvejante. Ainda bem que tinha pouca coisa no cesto, ficou horrível. O pior de tudo é acordar, porque seja um dia bom, seja um dia ruim, a gente sempre precisa acordar. E dias bons apenas significa acordar e você não ser o primeiro pensamento do dia. Porque isso é inevitável, uma hora do dia eu vou pensar em você. Desalmada. Nem te xingar decentemente eu consigo. Mas é só ao vivo, porque na minha cabeça já ensaiei todas as vezes em que "santa" foi o último dos nomes que chamei pra você, humilhações em público, baixaria mesmo. Pode ter certeza que na minha mente já fui vingado. Acho que é por isso que te perdôo, já fiz e falei tanta coisa. Sinto até um pouco de vegonha.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Lado B

O perfume era fatal pra mim. Ela sabia disso, sempre vinha cheirosa. Não importava onde eu colasse minha cara, lá estava aquele cheiro doce. Me dava ânsia de puxá-la pela cintura "Não é assim que você me conquista". Com ela tinha de ser diferente, era tudo na base dos pequenos gestos. Toques suaves, um pouco de dança, nisso eu sempre me complicava, pés chatos e pesados desde que nasci. Ela se divertia com meu embaraço. Na verdade acho que só não me largou antes porque eu a divertia. Fazia tudo certo só que nos dias errados. "Dessa vez eu resolvi dar uma chance pro homem errado". Odiava meu cigarro, mas eu sempre pude dizer que ela me punha estressado. Era verdade mesmo. Me dava uma dor estranha no peito toda vez que a via, parecia que por meio segundo meu coração parava. Esse, que já não era dos melhores, me foi tomado. Percebi isso quando perdi o equilíbrio, era a falta dele no peito que me fazia andar penso, atropelando os próprios pés. Isso não me deixou mais leve não, fez eu me sentir oco, isso sim. Nunca acertei as flores favoritas "Você nunca consegue passar da obviedade". Acho que ela me odiava, mas pelo menos não me mandava embora. Dessa vez eu acerto. Desalinhado, com uma garrafa de vodka e molhado da chuva. Desssa vez ela vai dizer que eu sou o certo. Vai me receber em casa. Vai ter aquele perfume. Aquele que é fatal pra mim. Tá frio, será que ela vai ligar de eu tomar um pouco? Não, quando eu chegar lá vai me fazer sentar no chão perto da poltrona pra secar meu cabelo e eu vou ficar quieto, sentindo seu cheiro, não vou mais sentir o frio. Vou me declarar, vou dizer que a amo. Ela não teria coragem de me jogar um salto de novo. Não teria essa maldade. Deve ter sim, mulheres são todas más. Elas vêm pra essa vida só pra fazer o inferno do homem. Não só jogava, como ia acertar bem na testa de novo e iria gargalhar da minha cara. Mas o cheiro daquela diaba. Ah, o cheiro, dá vontade amassar a cara no poste só pra não ceder a tentação. Porta fechada. Não adianta, vô ficar aqui no batente, vô tomar só um pouco pra esquentar.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Para Você (Totalmente Descontrol) - Wake Up Alone

Fico andando ao redor da mesa tentando queimar o álcool. Não adianta nada porque eu bebo cada vez mais. Até a hora que eu caio, nas primeiras vezes consegui levantar e continuar andando, andando pra fingir que a sala não tem fim ou que ela tem fim, mas eu ainda não consegui chegar lá. Mas dessa vez eu não consegui mais levantar. Ou então a sala acabou. Cheguei no final dela. O pior de tudo é que tá que nem o início, vazia. Só eu, bêbado, jogado, fedendo com barba de um mês já. Só consigo levantar o suficiente pra vomitar. Caindo de novo, droga não quero encostar no vômito. Nojo. Eu consigo enxergar ele. Não tá se espalhando, não vai chegar em mim. Merda, lá se vai meia garrafa de vodca. Quando eu acordo, já tá seco, mas a sala tá fedida. O gosto na boca é o pior. Tenho de trabalhar hoje. Faz três dias que eu não apareço. Não vou trabalhar. A água foi cortada. Coloco o resto de vodca na boca, balanço lá por dentro depois engulo de uma vez. Será que eu já acostumei com o gosto por isso não parece tão ruim? Será que eu tô fedido? Pelo menos o álcool não manchou a roupa. O traveco na rua me chama de "gato", vai ver que eu não tô tão fedido ou ele queria minha vodka. Merda de tontura, se quebrar essa garrafa não tenho mais nada. Sai daqui pivete. Odeio pivete. Vô beber um pouco antes de chegar em casa pra conseguir acordar direito. Que horas são? Essa porcaria amarelada deve ser o Sol nascendo. EU TE ODEIO DESGRAÇADO. Filho da puta, se não fosse por ele não tinha fotossíntese, nem oxigênio, nem vida, nem porra nenhuma. Agora essa porcaria só serve pra dar câncer, pior que cigarro essa merda. Essa é minha última garrafa. Eu juro. Depois eu vou pro escritório, preciso trabalhar. Não tem água. Não tem problema. Não tô fedido. Até de gato o cara me chamou. Eu sou bonito. Sempre fui. Ninguém vai notar, eu vou sentar na mesa e ficar invisível. Nunca falo com ninguém. Nunca falei. Lá tem café. Será que vão notar se eu pôr vodka nele? Amanhã eu vou pro trabalho. Tô sem sapatos. Onde será que deixe o meu sapato? Odeio essa vizinha com essa cara histérica. Fala a verdade sua bruxa. Ninguém te come faz anos, não é? Ninguém nunca fungou teu pescoço ali embaixo da orelha. Mal comida. Isso, vai pra dentro mesmo, vai fuxicar pros teus gatos sobre mim. Merda de porta que não fecha. A cadeira, é só encostar ela na porta. Vô beber aqui mesmo. Batendo com a cabeça na porta assim, até parece que é alguém que veio me visitar que tá batendo.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Miles To Go Before I Sleep

Ele voltava a pé pra casa. Sempre voltava a pé e sozinho. Cantarolando baixo e fora do tom. Não importava muito fazer bonito, afinal estava só, podia cantar do jeito que quisesse, até errar a letra. Próximo havia um travesti se prostituindo "E aín amor? Tudo bom?". Lembrou que fazia anos desde que alguém lhe perguntava isso. Ele nem parou "Tô, tô bem sim. Obrigado por perguntar".

terça-feira, novembro 14, 2006

Mudança de Planos

Dia cinzento hoje. Daqueles que te fazem ficar meio pra baixo, ainda que você não esteja mal de verdade. Saindo da aula teve um pouco de garoa, fui andando mesmo assim. Nada de guarda chuva hoje. Eu sou o garoto estranho do guarda chuva gigante, já me conscientizei disso. Dia ruim. Como saber se ele é ruim? Eu disse que é, pra mim isso basta, tenho minha própria palavra em alta conta. Até tentei melhorar, escrevi um texto sobre um casal se reconciliando, perdi o texto. Fico ouvindo as esculhambações da Amy, são todas pra mim, o inútil que se acha super inteligente "Are you gay?". O quarto tá uma bagunça, se eu quiser usar a cadeira preciso encher a cama de livros, se quiser dormir, o mesmo, mas eu tenho dormido pouco. As vezes parece que tô tentando abrir espaço na minha cabeça à martelada. Ontem o arte moderna dormiu do meu lado, acordei porque dei de testa no livro. Joguei na cadeira junto com o resto, isso na verdade é um exercício de harmonia e equilíbrio. Ainda preciso de mais um tempo debaixo da cama. Dia ruim, definitivamente.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Mesmice

Eu passo o dia inteiro pensando em dizer "eu te amo", mas toda vez que me aproximo tenho uma certeza idiota que você já sabe disso. Acabo não dizendo nada. Olho você e dou te dou um sorriso com os lábios apertados, acho que meus olhos devem brilhar nessa hora. Obviedade, meu grande defeito, sempre pode-se saber o que passa pela minha cabeça, uma meia dúzia de frases de efeito, um pouco de pornografia e o verniz de cultura que eu passo na cara. Esse último é o que me preocupa mais. É demais pra mim conseguir ser perfeito, encontrei minha impossibilidade. No final das contas acabo descartando a simpatia, se além de tudo eu ainda for obrigado a ser simpático, eu explodo. Sou simpático com você sim, mas isso não é de graça não, meus sentimentos justificam boa parte da minha simpatia. Eu tenho todas as intenções do mundo de que você pense primeiro em mim. Não vejo nada de errado nisso.

segunda-feira, novembro 06, 2006

Amor (Sempre)

O tema mais abordado nesse blog é o amor, recalque em segundo lugar. Nada de ficção hoje. Hoje o tema é "Por que diabos eu não consigo falar de outra coisa que não seja relacionamentos". Sempre pula alguma pessoa, ajeitando os óculos numa atitude pseudo freudiana, pra te dizer "Ah, é óbvio. Você só não consegue controlar bem esta parte da sua vida, por isso você tende a dar mais atenção a esse aspecto da sua vida". Tá, eu sou a única pessoa que eu conheço que consegue se interessar por duas outras ao mesmo tempo sem que nenhuma das duas me ache minimamente interessante. Mas por outro lado, meu estágio é a coisa mais medíocre que já fiz na vida, eu fico tão desocupado que sobra tempo até pra escrever no blog aqui. Passo os dias inventando apelidos para os usuários dos computadores, tipo o "Estudante_fogoso_22". Ele vem aqui todos os dias e fica em salas de bate-papo, eu deveria expulsá-lo, mas me compadeci da situação do pobre, buscando sexo casual, não vejo mal algum nisso. Tem a vesga, essa eu odeio, não sou preconceituoso contra vesgos, também não sou simpático com eles, mas dela eu não gosto mesmo. Isso porque um dia dia desses tinha um pobre dum rapaz romantizando horrores com a vesga. Não é recalque porque ele estava romantizando com ela não, é raiva porque a energumina tava fazendo o maior cu doce pro coitado. Virava a cabeça pro lado tentando fazer a cena dos cabelos esvoaçantes, que falhou lógico, e o coitado foi embora cabisbaixo. Minha vontade era de pegar a vesga pela orelha "Vem cá. Fala com ele. Romantiza com o coitado. Vesga abestada". Tem também a estudante de psicologia que passa a tarde no guruweb jogando tarô on line, pelo menos eu me consolo de não ser o maior desocupado a frequentar o local.
Em casa é um pouco problemático, como eu recomecei a universidade do zero, ainda tenho de morar com a família, que é relativamente pequena, se você não considerar também quatro domésticas, que não conseguem fazer muita coisa porque passam boa parte do dia brigando pelos materiais de limpeza e panos de chão e por quem foi que estragou a roupa dessa vez. Além disso, não importa o quão inteligente você seja, é muito difícil conseguir respeito de alguém que sempre pode usar o argumento de que já teve de limpar suas partes íntimas. Acreditem esse é um argumento forte. Especialmente quando você larga uma "carreira" que iria incluir doutoramento antes dos 30, já tem 23 e continua não tendo um trabalho comum do tipo 8:00 às 17:00, numa casa onde todo mundo tem um desses desde antes de você entrar na universidade pela primeira vez. Um dia desses me disseram "Tu és o artista da casa, né?". Devo ser como aquelas crianças que cagam e espalham a merda na parede.
Mas existe uma coisa que eu faço bem, sou um excelente aluno. Agora eu sou, antes eu gazetava pra ir comer na padaria, tudo culpa do meu gordo interior. O foda é que não dá pra institucionalizar estudante como uma profissão que pague, tipo aquelas das 8:00 às 17:00.
Tudo isso pode não ser muita coisa comparado aos problemas de outras pessoas, mas eles são meus, me reservo o direito de choramingar por todos eles. Só não entendo por quê estar sozinho acaba sendo mais relevante que o resto. Enfim, eu sou tão autosuficiente, eu vou no cinema sozinho, compro livros só, vou ao restaurante sozinho, já aprendia limpar as partes íntimas sozinho até sexo eu faço só, esse último não por minha culpa. Então por que eu não consigo viver sozinho também? Se alguém ousar dizer que "o homem não é uma ilha" leva um all star na cara. Mas a verdade é que o que incomoda mesmo é o sentimento de que eu vim ao mundo com uma placa na cabeça com os dizeres "NÃO SERVE".

sexta-feira, novembro 03, 2006

Nada de Mais (Broken Hearted)

- Eu só queria saber o que faz dele tão especial que não te permite olhar pra mim.
- Não sei - desvia o olhar pra calçada, dificilmente se sente tão constrangida quanto quando recebe uma declaração.
- É só isso? Você não sabe?Essa é a única resposta que a tua aclamada profundidade consegue produzir?
- Essa conversa não vai levar a lugar algum. Não sei nem por quê eu tô respondendo.
- Porque eu tô dizendo sem exagero algum, sem ilusão alguma que eu te amo. É impossível não se sentir comovida com uma declaração dessas.
- Sim, você acordou e decidiu que me amava? Simples assim? Vou te dizer o que é isso, muito filme água com açúcar na tua vida.
- Não. Foi mais uma constatação científica. "Acima de tudo temos de ser científicos" lembra? Convivemos bem, temos carinho um pelo outro, atração física existe, pelo menos eu sei que eu sinto. Você...não sente?
- Isso não vem ao caso. Eu gosto... mais dele.
Ele senta na cama:
- Vem cá, deixa eu romantizar só mais um pouquinho.
- Já tenho de ir.
- Eu sei, fica só um pouquinho comigo.
Ela senta e deixa ser abraçada. O peito se aproxima das costas dela os tecidos antecipam o contato dos corpos, os braços se fecham na barriga e a mão direita se fecha sobre a mão esquerda dela, pequena, bem feita. O toque dele trasmitia todo o sentimento guardado, é terrível não conseguir corresponder o amor alheio. Ele continuou:
- Sabe... Eu sei que não posso me prender por você, mas só por enquanto vou esperar por você, tá?
Ela hesita, o outro deve estar esperando. Aquele que já nem gosta dela tanto assim, mas o tempo juntos pesa. O tempo é implacável. Não costuma fazer loucuras:
- Eu... vou ficar mais um pouquinho.
Ele encosta o rosto nos seus cabelos, sente o perfume familiar. Seu corpo dava uma sensação de suavidade. Fecha os olhos tentando esquecer o mundo.

terça-feira, outubro 31, 2006

Call ME Babe

Ela se olha no espelho. Cinquenta e cinco anos, bem sucedida "Até apartamento próprio ela tem. Mas não casou. Já viu né?". Casou sim, ficou vinte anos com o mesmo filho da puta, aguentou até a proibição de não ter filhos. A tragédia da sua vida conjugal foi a submissão. Não importa o quanto se convença da sua real beleza, sente-se como o reboco velho da cozinha, se desfazendo. Se maqueia repetidas vezes, nada consegue tirar aquele tom de mulher histérica que o tempo lhe deu. "Eu sou uma mulher bonita. Eu Juro". Só cinquenta e cinco anos, ainda é jovem, coloca uma mão por dentro da calça "Tá aqui, ainda é quente. Eu não tô morta, nem frígida não". O tempo é implacável para a mulher. O som ligado "No, not babe anymore...". Que diabos a garota da música sabe, nada. Uma anoréxica, que dá três vezes ao dia, tem a vida ganha. Ela não. Até pagar, ela já precisou pagar. Um dia pegou um ônibus, só pra lembrar como era andar pela cidade. Sentou do lado de uma senhora com um bebê, ficou encarando a criança. Tinha aquele cheiro de coisa verde misturado com talco que os bebês têm. Fungou o bebê, tentando roubar um pouco daquela juventude. Doente, ela chegou a conclusão de que era uma doente. Desceu do ônibus aos prantos. Se odiando. Será que só sobrava se odiar? Cadê aquela serenidade que a idade tinha de trazer? E a tal da sabedoria? Os anos só lhe trouxeram infelicidade. Não tinha cinquenta e cinco, tinha cem anos, porque era assim que todo mundo a tratava. Você só pode se definir de verdade pela comparação com os seus semelhantes. Ela já não era mais mulher, era uma velha. Uma das patéticas ainda por cima, daquelas que ainda querem amor. O rapaz da casa ao lado um dia lhe perguntou as horas, um daqueles rapazes bonitos, bem arrumados, simpático "SAI DAQUI VIADINHO. SAI DAQUI. Odeio viadinhos". Odiava a simpatia dele e os cachos negros caindo no rosto e os olhos castanhos brilhantes e, acima de tudo, a juventude dele. Tinha um pouco de bosta de cavalo na rua, colocou na frente da casa do coitado e bateu com a ponta do guarda chuva na merda pra exalar o fedor. Quebrou meia dúzia de pratos também. Mas isso era bom, poderia sair pra comprar mais. Tolices. Sua vida se resumia a pequenas tolices. Pratos, roupas, homens. Não, homens são grandes tolices. Antes tivesse virado lésbica como sua amiga de infância, afinal, hoje em dia, parece que todo mundo é gay . Nunca mais se falaram desde aquela noite. Tentou várias vezes sair pra comprar suas flores, mas toda vez acabava mandando entregar um buquê com um cartão vermelho na universidade. Sabia tudo que gostaria de ler numa carta de amor. Chove muito, são três da tarde, sempre chove muito nesse horário. Sai sem a sombrinha, aquele maldito elefante branco, enorme que ajuda a escondê-la desse mundo de idotas que não ama. O vestido se molha, cola ao corpo, mostrando aquilo que só ela conhecia. A sua beleza. Atravessa o quarteirão pra chegar na rua mais movimentada. A maquiagem se desfaz, os pés de galinha se mostram, o negrume do lápis vai borrando o rosto. Não faz mais diferença. Usa da sua desfaçatez pra que os carros achem que está apenas querendo atravessar. Sua visão é perfeita ainda, isso o tempo ainda não começou a apagar. Escolhe o carro preto. Ele vai carregar a culpa da sua morte. Vai estragar a felicidade de alguém com a sua morte. Não dura nem cinco minutos e acaba.

quarta-feira, outubro 25, 2006

Segunda Chance

Ele coloca a música pra repetir. Já sabe a cena de cor, mas sempre quis protagonizá-la. Música triste, sentar na janela e fumar. Infelizmente o telefone toca:
-Alô.
-Oi Bernardo.
-Oi, Maíra.
-Que "cê" tá fazendo?
-Nada, fumando um pouco.
-Na janela, eu aposto.
-É, na janela. Meu lugar favorito pra fumar.
-Um dia "cê" ainda vai cair.
-É uma praga isso?
-Lógico que não. Que música tá tocando?
-"You don´t know me".
-De quem é?
-Sei lá, perdi a capa do cd.
-Eu te amo.
-Eu não te amo mais.
-Eu sei disso. Tô sendo psicótica, mas eu vou ficar histérica se não perguntar. "Cê" tá com outra?
-Não. Eu entreguei os pontos. Não me relaciono com mais ninguém. Pelo menos você pode dizer que foi a última.
-Isso é algo de que eu deveria me orgulhar?
-É porque depois de você eu não senti mais vontade de ter mais ninguém. Se não era pra ser com você, não era pra ser com mais ninguém. Vô voltar pro cigarro. Tchau
Ela ainda fica alguns minutos ouvindo o barulho da linha antes de pôr o telefone no gancho.

terça-feira, outubro 24, 2006

Blue Boy




Eu fazendo cosplay de Blue Boy :) *Eu não ando assim normalmente :p

segunda-feira, outubro 23, 2006

É Hoje

Sabe aqueles dias que você acorda sensível, e qualquer coisa te faz ter vontade de chorar. Hoje é pior. Eu já cordei com o peito gelado, porque no sonho eu olhava pra trás, havia um casal se beijando e mesmo no sonho eu sabia que isso jamais ia acontecer conosco outra vez. Já chorei, bem pouco, não é uma das minhas atividades favoritas, mas chorei mesmo assim. A verdade é que as coisas continuam como sempre estiveram, o problema é que eu estou começando a achar que elas não andam muito bem. Talvez seja pelo sentimento de algo morrendo por dentro, algo que eu que estou arrancando pela raiz. Deve ser igual a bater um ombro na parede pra colocar ele de volta no lugar. Nada de precisão cirúrgica ou método indolor, vai ser assim. Eu aprendo. Mas ainda sim, eu te amo. Só um pouco de tempo na toca, só vou precisar disso

quinta-feira, outubro 19, 2006

Yellow Daisys (Feliz Aniversário)

Aconteceu no dia em que te vi pela primeira vez. Decidi que na minha vida, amar seria uma escolha. Escolhi amar você. Amor sem dores, sem sofrimentos. Não me interessa a dignidade que as dores de amor trazem. Não abri espaço para elas. Só para você e para o amor. Simples assim, quem disse que amor não pode ser assim. Não há mediocridade, nem ingenuidade alguma, foi o que escolhi, só amar você.
Olha pela tua janela. São pra você. "One thousand yellow daisys" eu trouxe todas e estão todas aos teus pés. Cada estrela que já vi cair do céu está aqui. Cada bom pensamento é teu. EU estou aos teus pés.
Aceita tudo isso porque eu te amo e não há vergonha alguma em aceitar meu amor. Nem ao menos precisas correspondê-lo, já te disse, não tem espaço para sofrer nesse amor. Não te peço nada, a não ser que o aceite. Mas por favor faça-o sem hesitação. Está aqui o meu amor e aqui estou eu, ambos por você. Nos aceite, por favor.

domingo, outubro 15, 2006

Meditação Sem Braços

Passei por muitas antes de chegar nela. Observei todas com bastante admiração, melhor apreciei todas as outras, mas nehuma me causou tanta comoção quanto ela. A pele era de um tom escuro, perfeita. Voltei outras vezes, e já passava direto pelas outras, não interessava o quão belas também eram, ela era perfeita. Imóvel, parecendo fragilizada, como se se protegesse. Mesmo assim intocável, pelo menos para mim com certeza. Só aqueles brutos que podiam tocá-la, para mim só restava admirar, há esperança na admiração. Ainda que seus lábios estivessem desprotegidos, prontos para terem um beijo roubado a qualquer instante. Ela não poderia reagir, não tem braços, mas não poderia ser feito por mim. A mim só restava visitá-la, vasculhar sua forma perfeita e pedir que algum ato divino me colocasse pra sempre ao seu lado em um beijo que durasse a eternidade.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Um Final Feliz (Um Qualquer)

Ela acorda, o Sol já está alto. A luz que entra pela janela toca o chão de madeira e deixa a poeira que flutua no ar visível. Em duas horas ela vai alcançar a cama, mas hoje ela não vai estar deitada, não hoje. Hoje ela levantou antes do Sol expulsá-la, escolheu os sapatos, o vestido, os brincos, se maquiou impecavelmente, não esqueceu os óculos escuros de lentes grandes.
A brisa faz os cabelos e o vestido ondularem um pouco para o lado. Ela não tenta conter nenhum dos dois. Qualquer inibição estragaria tudo, nada de "desculpa", nada de "com licença". Nem as lágrimas ela conteve. Qualquer forma de auto-controle e ela acabaria voltando pra cama, esperando o Sol chegar no travesseiro.
Chegou às 9 em ponto. Ele estava lá sentado, olhando para a estátua de bronze, como se ela pudesse responder a alguma coisa que nenhum ser humano fosse capaz de compreender. Ela tira os óculos, fica ainda mais linda com os olhos umidecidos. Ele se adianta para falar:
-O...
-Eu te amo - interrompe, ele está usando a blusa favorita dela, os sapatos são horríveis, ela lembra que nunca lhe deu sapatos.
-Eu ia dizer "oi".
-Eu sei, mas eu tinha de dizer que eu te amo antes de qualquer coisa.
-Eu tava perguntando perguntando pra estátua por que Eu te amo?
-É porque eu também te amo, porque eu não aguento mais fingir que eu não te amo, porque até o Sol me incomoda quando eu não tô contigo - os olhos cheios de lágrimas, não tem a intenção de conter nenhuma, até ali ela não havia chorando um dia sequer.
Ele colocou um braço na cintura e o outro em volta dos ombros, desajeitado sem saber se queria um abraço ou tomá-la para si. Os beijos foram salgados e longos, longos não, pausados na verdade, eram beijos em que os lábios paravam só para sentir um no outro. Tocou a testa dela com a dele. Ela ajeitou as sobrancelhas dele:
-Sempre dessarumado - sorriu e ele a beijou de novo.
-Os sapatos são novos. Mas são feios, né?
-Demais, depois a gente compra um par decente.
-A gente podia comprar aquele sofá.
-Tá fazendo isso só pra me agradar, né?
-Olha... deixa desse teu cinismo. Vem cá, ainda não quero me desgrudar de ti.
-Cortei o cabelo.
-Tá perfeito. Você veio linda só pra me causar ainda mais remorso.
-Meu querido, eu te amo, mas eu também precisava dessa pequena vingança - a felicidade no sorriso defez o peso da ironia.
Ela perdeu um pouco de peso, ficou ainda mais fácil de levar nos braços. O sexo foi o melhor, sexo de reconcialiação sempre tem uma selvageria e carinho maiores por conta da saudade. Naquele dia não houve espaço para o sofrimento. Eles ficaram juntos por mais alguns anos. Foram felizes com outras pessoas depois. Sempre dá para ser feliz de novo.

sexta-feira, outubro 06, 2006

O Círio (Eu o Santo)

Hoje quando fui para o estágio descobri que o expediente ia ser até às 14, logo eu estava liberado porque meu horário começa às 14. Hoje eu iria comer comida requentada em vez de gelada, em alguma escala de coisas escrotas que acontecem na vida isso deve ser uma melhora. Porém, assim que o ônibus saiu da perimetral havia um engarrafamento mostruoso, mas tendo uma revista em mãos um engarrafamento é o de menos. Exceto que atrás de você esteja sentado um grupo de meninas bocudas. Sempre que for falar mal do estilo alheio, certifique-se de não estar vestindo algo que saiu do catálago da Hermes. O ônibus conseguiu chegar até o túnel. Uma aberração de uns 50 metros, que é uma verdadeira afronta a estética contemporânea, mas descobri que isso não é o pior em relação a ele. O pior é ficar parado no túnel, onde o calor começa a dar vertigens. Eu estava quase tirando a roupa no ônibus, tenho a meu favor o argumento de que todo paraense é um exibicionista em potencial, porque com o calor que faz nessa filial do inferno, dá vontade de sair na rua arrancando as roupas e gritando.
Minha casa fica a aproximadamente 1,5 quilômetros do túnel. Não teve outra alternativa, olhei pela janela do ônibus, algumas outras pessoas já estavam descendo e andando pelo túnel. Desci e fui andando. Mas como diz a Samantha "Atrás do pobre sempre corre um bicho cabeludo" e quando cheguei na rua, além de todos os carros estarem parados, os pedestres todos também estavam parados pra assistir a missa do Círio, pasmem, no shopping. De quem tera sido a idéia de jerico de fazer uma missa num shopping eu não sei, mas talvez tenha sido só uma piada que uma pessoa inteligente fez e as estúpidas ao redor levaram a sério. Possibilidade perigosa. Mas depois de tropeçar num caixote, bater com a minha mochila em muitas pessoas, ah sim, minha mochila, quase ia esquecendo dela, uma mochila bem grande que levo pra academia que, com todas as coisas que eu preciso pra passar o dia fora de casa, pesa em torno de uns 10 quilos ou mais, depois de tudo isso consegui avançar, nunca esquecendo de xingar mentalmente cada uma das pessoas que me olhava, estranhando o fato de eu não estar parando para ver a santa. Sempre imaginando que se o meu ônibus me ultrapassasse eu rogaria uma praga no motorista e quem sabe também tacasse uma pedra. Lógico que isso não aconteceu, porque TODOS os carros tiveram de parar. No último quarteirão que faltava para chegar à minha rua deu-se o que eu esperava ser a último parte do meu martírio, os fogos, sim porque o que seria de uma procissão sem fogos? Daqueles bem barulhentos que ficam pipocando no ouvido alguns segundos depois que explodiram. Finalmente cheguei na rua de casa, moro em frente a um motel, faltando 10 metros para chegar à minha porta, saiu um casal feliz e sorridente do motel. Isso seus filhos da puta, saiam sorrindo do motel, vocês tavam trepando enquanto eu, que não trepo faz quase dois meses, tava esturricando nesse sol desgraçado. Cheguei em casa. Vazia. Mais um dia de comida gelada. Deus, eu nunca fui gentil com Papai Noel, ma s sempre acreditei em você, essa você fica me devendo.

quinta-feira, outubro 05, 2006

4 (Vagas para Namorados)

Atualmente há 3 amigos com quem tenho mantido mais contato, dona sic, gaTô e intelectual de estimação. O meu apelido ficou coração quebrado. Nossas reuniões sempre envolvem comida, baixaria e bons filmes. Entre saídas estratégicas para caçar no orkut, telefonemas interestaduais apaixonados e morgar na cama alheia, nós sempre conseguimos nos divertir. Já houveram tentativas de aumentar o grupo. Todas falharam. Parece aqueles clibinhos de casa na árvore, onde as outras crianças ficam lá em baixo pedindo pra entrar e a gente grita lá de cima que não dá. Na verdade tem uma vaga em aberto que está passível de ser preenchida pelo Olhos Azuis, ou serão verdes? Não lembro, mas também nem sei se ele vai pleitear a vaga. Entretanto, na situação atual, acho que dá pra colocar uma plaquinha na frente da casa na árvore "Há vagas para namorados".

terça-feira, outubro 03, 2006

Um Qualquer

Ando com alguma coisa presa na boca do estômago. Acho que deve ser rancor. Dessa vida de merda que eu não consigo mudar. Das minhas mochilas que fedem a comida o tempo todo. Do trabalho vagabundo que eu tenho, onde eu fico olhando a parede a tarde inteira. Eu chego às 14:00 em ponto saio às 18 em ponto. Pra quê? Que mundo que vai ruir se eu não passar a tarde toda no msn? Um dia desses fiquei receoso de pegar algumas folhas em branco, pessoas honestas não pegam coisas do trabalho, quase dei uns tapas na minha cara. São só folhas, peguei até mais do que precisava. Vou roubar alguns grampos também. O vômito continua preso. Cada refeição que eu faço parece que chega bem perto da boca junto com o ácido do estômago. Na próxima vez que sentir isso vou colocar o dedo na garganta e deixar sair tudo.

sábado, setembro 30, 2006

Odeio Ele

Vai embora. Já disse vai embora. Seu desgraçado. É isso mesmo. Não quero te ver nunca mais. Não, eu não te perdôo. Ninguém precisa te perdoar, muito menos eu. Pega tuas coisas e vai embora. Você não é um homem. Não pra mim. Não mais. Você é um nada. Tá me ouvindo? Um nada. Nem a música. Nem as flores. Ou o cigarro com café. Nada. Não guardo nada. Eu te odeio. E odeio a Clarice Lispector. A Mansfield. Nem do Caio eu gosto. Menti. Odiei cada linha de todos eles. Um bando de inúteis. Não me acrescetaram nada. Só me deixaram ainda pior. Virei bicho. Tô dando as costas pra tudo e principalmente pra você. Mas o apartamento é meu. Então quem saí é você. Eu fico pra fechar a porta e passar a chave. Pra chorar sozinha no quarto com a minha garrafa de vodka. Tava lá o tempo todo, nunca joguei fora. Quem mandou acreditar em mim? Que você ainda tá fazendo aqui? Vai embora , já falei. Não. Eu te odeio. Que parte da frase você ainda não entendeu? Você deveria estar feliz. Tô te dando mais uma razão pra ser triste e profundo. Eu sei que você adora se fazer de vítima. Vai lá, te junta aos teus amigos. Todos tristes e profundos e patéticos. Tão patéticos quanto você. Não, não vou voltar atrás dessa vez. Até nunca mais.

quarta-feira, setembro 27, 2006

Ô Dia

Hoje é um daqueles dias que se alguém fala um pouco mais alto comigo eu choro. O Sol me dói nos olhos mais do que de costume. O mundo todo me dói. Meu emprego, que é o purgatório, se torna pelo menos o primeiro círculo do inferno. O castigo é continuar eternamente olhando pra parede branca. Até me compadeci de uma senhora no ônibus hoje, parecia que ela ia chorar a qualquer momento ou vai ver que estava com sono. Fico exagerado em dias assim. Tem uma lágrima presa no canto do meu olho. Presa. Nesses últimos dias percebi o monstro em mim. É muito difícil lidar com o monstro dentro de você mesmo. Só espero que ninguém me pergunte se está tudo bem, odeio dizer "sim" e ter vontade de falar 10 milhões de "nãos"

sábado, setembro 23, 2006

Sonho (Um Daqueles Estranhos)

Uma daquelas noites que você deita, fecha os olhos mas não dorme, parece que dá pra sentir o mundo rodando, os membros se retorcem. Sensações estranhas. Nada de sono. Olhos fechados. O mundo parou de rodar. Abro os olhos. Estou na beira da piscina. A água começa a subir, transborda, já passa dos meus joelhos. Meu cabelo tá grande de novo, tá flutuando. Por que eu tô me vendo de longe? Eu não devia estar respirando, meus óculos não saem do rosto. Voltei pro meu corpo. Tem um porco no fundo da piscina, porque o porco tá preso numa coleira? Por que tem um porco na piscina? Ele tem até vasilha. Tá com o focinho todo sujo de comida, odeio porco. Tem um gato também, siamês. Ele é cinza claro, olhos azuis. Que bom, ele não é vesgo. Ele vira a cabeça um pouco pro lado e me encara. O maldito do porco também tá me olhando. Que eles fazem no fundo da piscina? Um verme acabou de passar nadando. Um daqueles que o macho é menor e fica dentro da fêmea. Não sabia que esses vermes podiam nadar. Merda, tem um vermezinho no meu braço. Desgraçado entrou na minha pele. Dá pra sentir ele se mexendo na carne, afundando, sumindo no sangue. Acorda logo.

quinta-feira, setembro 14, 2006

Super Ego Descontrol

Já te disse, você é péssima pra consolar os outros. Tô azeda sim, mal amada, mal comida. Porque tá tudo errado, não tem nada certo. Não adianta inteligência, não adianta bom gosto nada. Tenho 133 de QI, 7 pontos a menos do que a Madonna, sabe o que isso significa? Muitos milhões de dólares a menos, sem falar em dois filhos e um marido lindo e 10 anos mais novo do que eu. Nem ao menos um marido feio. Nem como uma mulher do século XIX eu sou realizada. Que auto-estima? Esqueceu que eu tenho 27 anos, estou desempregada, solteira e ainda moro com meus pais. De que auto-estima você tá falando? Eu não tenho 27? Não interessa, 4 anos não são nada. Ontem eu cheguei no fundo do poço, fiquei jogada na cama, assistindo "A Pequena Sereia" e dividindo o pão com queijo com meu sobrinho. Chorei tanto no final. Eu não vivo, eu tenho consciência da vida, mas eu não vivo. Não é isso, não é ele. Tá, não é só ele. É ser uma garota legal, mas nunca ser a garota certa. Sabe qual foi o meu último orgasmo verdadeiro? Foi há exatamente um mês, quando eu comprei o scarpin. Foi, eu juro. Fiquei tão feliz, mas tão feliz que eu gozei. Tive até que me apoiar num poste, senão eu gritava. Um senhor até veio me acudir, achando que eu tava passando mal "Não senhor, tô ótima, foi só uma tontura, obrigada". Não me fala do Vicente. Ah, o amor da vida dele é? Pois eu vou falar porquê. Peguei ele vestindo uma calcinha minha, uma das mais caras ainda por cima. Senti tanto ódio, primeiro porque eu adorava aquela calcinha e segundo porque ficou perfeita nele. Arranquei a calcinha como ele jamais conseguiu fazer comigo, bati tanto naquele desgraçado. Ele não fez nada, apanhou calado. Peguei a escova de cabelos e enfiei nele. Isso, lá mesmo. Não faz essa cara, eu tava com raiva. Não me admira que ele ainda diga que me ama. Pode rir a vontade da cara dele toda vez que encontrar com aquele traste.Vou pra academia. Essa é a minha vingança contra todos esse idiotas que não me quiseram. Ficar cada vez mais gostosa.
Sabe, acho que anda me sobrando solidão demais. "Té" mais tarde.
P.S: O texto é piegas, mas o blog é meu =P

sexta-feira, setembro 01, 2006

O Homem Bom

Aquele que está perto de você, ouve todos os seus problemas. Aquele com quem você pode contar pra qualquer coisa, principalmente aquelas que ninguém tem saco de fazer com você, só porque é pra você.
Aquele que lhe dá todos os seus sonhos, mesmo que você não precise deles. Aquele que você pode magoar, porque sabe que ele vai te perdoar. Aquele que você tem medo de magoar, porque jamais desejaria perdê-lo.
Eu sou o homem bom. Aquele que te ama com um coração desprotegido. Aquele que você não consegue amar.

quarta-feira, agosto 30, 2006

Descontrol

Ando sentindo uma urgência em comprar livros, quase tão grande quanto de comprar sapatos. O dinheiro ainda nem entrou e já foi em parte gasto, mas foi pouco e o que comprei já terminou. Percebi duas coisas: sempre tenho uma pendência de seis livros para ler e sempre tenho pelo menos dois na mochila. Pelo menos não é tão estranho quanto ter um par de sapatos extra na mochila, não é sempre, mas as vezes tem...
Me disseram que eu sou um leitor ávido. Na verdade, me considero um leitor tardio, sempre resisti aos livros. Também pudera, seis mulheres na minha casa e toda elas tinham como referencial de literatura os livros "Poliana" e "Poliana Moça" . Além desses, preciso destacar uma enorme coleção de títulos assinados por: Harold Hobbins, Sidney Sheldon e Paulo Coelho. Meu referencial masculino só não é analfabeto porque não lhe permitiram não ir à escola. Acho que a avidez é pra compensar o tempo não utilizado na adolescência.
Todo leitor ávido tem impulsos de escrever? Eu tenho, vários até, uma boa parte deles vêm parar aqui. Mas isso é uma atividade meio marginal. Você tem a sua vida diária, quando chega em casa adota um pseudônimo pra escrever o que passou na sua cabeça o dia inteiro. Vontade de falar das coisas mais bizarras e grandes achados, como um nome bem dramático tipo "Cátia Regina", que existe e é professora no fundamental de uma escola no interior do Maranhão ou sobre o pobre do Cardoso que tentou suicídio três vezes por causa da mesma mulher. Mas vai além disso?

domingo, agosto 27, 2006

A Última Vez que Te Escrevo

Você falou e escreveu tantas coisas ruins por causa dos meus textos, mesmo que eles nunca fossem endereçados a você. Então decidi escrever um segundo texto pra você, o último. Tudo que eu gostaria de dizer se resume em uma frase da Tainá "Tava na cara que ele estava feliz..."

quarta-feira, agosto 23, 2006

Na Livraria

Ainda que não tendo dinheiro pra comprar um mísero cartão postal, eu ainda insisto em entrar em todas as livrarias do shopping. Na verdade, eu vou ao shopping exatamente pra isso. Olho todas as prateleiras que me parecem interessantes. Checo os novos volumes da coleção de bolso da L&PM, são os mais baratos. Arrumo algumas coisas que ficam fora do lugar. Encontrei "A Origem da Vida" de Darwin na prateleira de ficção científica, ri bastante e deixei onde estava. Pobre Darwin. Fui ao meu local favorito. Umas prateleiras no canto direito, onde ficam os livros de contos. O essencial do Caio Fernando em dois livros, duas décadas da vida dele em dois livros enormes e caros. Ele sabe o quanto eu o amo e o problema que é não ter dinheiro, pensei em tentar roubar um deles como ele fazia na Inglaterra, mas, ainda que eu tenha roubado uma menta na quarta série, jamais vou ter ousadia suficiente pra roubar um livro. Lembrei que por ali ficavam também os livros de Katherine Mansfield. Eu a rondo faz alguns meses, observei sua comunidade no orkut, toquei os livros na livraria, mas nunca os abri. Havia quatro, os mesmo de sempre. São de uma coleção antiga, eles ficam meio deslocados, porque todos os outros são mais novos, com layouts chamativos e outras coisas de design conteporâneo. Decidi levar um pra mim. Mais um mês no vermelho. Qual a novidade nisso? Um deles era meu, tava decidido, mas na verdade eu queria mesmo era levar todos os quatro. Me contive. Um só. Era tudo que me cabia. Como decidir? Escolhi pelo título, fiquei com "A festa e outros contos", quem sabe fosse alegre, eu ando necessitado de um pouco mais de alegria. Abri o livro no primeiro conto "A festa". Logo no primeiro parágrafo há uma frase "Quanto às rosas, impossível ignorar que elas acreditavam ser as únicas flores que impressionam os convidados de uma festa ao ar livre..."

domingo, agosto 20, 2006

He Wishes for the Cloths of Heaven

Eu encontrei, no dia seguinte assisti o filme de novo. Assim que Frank larga o livro, a câmera da um close na página e aparece o texto inteiro. O pomea chama-se "He Wishes for the Cloths of Heaven". Anotei o texto e pesquisei pelo título na internet. Faz parte da obra de W.B.Yeats. Helene ficaria com inveja por eu poder usar internet. Em todo caso teria sido mais fácil esperar, o Ronan sabia o autor, maldita pressa.
He Wishes For The Cloths Of Heaven
"Had I the heavens´embroided cloths,
Enwrought with golden and silver lights,
The blue and the dim and the dark cloths
Of night and light and the half light,
I would spread the cloths under your feet;
But I, being poor, have only my dreams;
I have spread my dreams under your feet;
Tread softly because you tread on my dreams."
W.B. Yeats

sexta-feira, agosto 18, 2006

Me Salva

Acabei de assistir "Nunca Te Vi, Sempre Te Amei". Uma trama bem simples, uma escritora pobre de Nova York começa a se corresponder com um livreiro londrino que encontra os livros que ela precisa por um bom preço. O filme me introduziu ao maravlihoso personagem de Helene Hanff, uma escritora que se sutenta escrevendo scripts para teatro. Ela tem a bagagem literária que eu adoriria ter um dia, mas já fico feliz de partilhar com ela o gosto pelos livros e a necessidade de adquirí-los de forma barata. Entretanto o que não me sai da cabeça é uma passagem em que Frank está lendo um poema sobre um homem apaixonado que gostaria de trazer o céu e ouro para vestir sua amada, que termian mais ou menos assim "Mas sou pobre e tudo que posso lhe oferecer são meus sonhos, para que você possa caminhar por eles. Então caminhe de forma suave, pois você estará caminhando sobre os meu sonhos". Ele larga o livro sem mostrar a capa, nem dizer qual o autor. Tortura, pura crueldade ficar sem saber quem escreveu. Desconfio que seja William Blake ou John Donne, dois autores que Helene estava lendo. Quem foi?

terça-feira, agosto 15, 2006

Nightmare Boy

Mais de 30 horas de viagem e as únicas coisas que passavam pela minha cabeça eram sexo e morte. Nada de reflexões profundas sobre a minha vida, só pensamentos obssessivos e lascivos, vai ver que ela se resume a isso. Supersônico Biônico Wonder Boy, ser isso o tempo inteiro é impossível. Acordar com "cara de branca de neve" é impossível, não acordo tão bem, nem engasgo com maçãs. Personagem rico de novela do Manoel Carlos seria maravilhoso, mas esses também não existem. Morte Morte Morte Morte. Sono fingido pra não ter de falar com ninguém. Não é tristeza, é só vontade de estancar tudo. Baby, como é que eu te digo que tá tudo horrível, se você é metade de toda a minha alegria e faz parecer que está tudo bem? Mas é isso baby, não tá nada bem. Sexo Sexo Sexo Um Milhão de Vezes Sexo. Odeio sexo. Ignorem o momento de descontrole...

sábado, julho 22, 2006

Broken Hearts´ Club

Amor não é o melhor dos assuntos no momento. Decidi remontar o clubinho, o remendo não deu jeito baby. O problema é que o amor me é colocado como uma competição. E ainda que eu seja jovem, mas já tenha amado algumas vezes, eu sinto que só me sobraram umas medalhas de honra ao mérito...
Trilha do Post: Wise Up -Aimee Mann

quarta-feira, julho 19, 2006

O Circo

Haroldo e Clarissa tinham como única garantia dos seus laços de sangue a palavra de honra de sua mãe, que sempre lhes garantiu que eram irmãos. Pois ambos tinham grandes suspeitas de que duas pessoas tão diferentes jamais poderiam ser irmãos. Haroldo sempre sério demais, jamais corria, provavelmente porque ele tem um desses nomes ficam muito bem em adultos, mas que são difíceis de imaginar em uma criança. Enquanto Clarissa parecia aproveitar a infância pelos dois.
Num dia desses que faz bastante sol e as nuvens quase não aparecem, Haroldo estava sentado na escada sob a sombra, observando a menina subir em uma árvore, esperando o exato momento em que ela fosse cair e ele pudesse dizer algo do tipo "Te disse pra não subir na árvore". Quando Clarissa chegou no ponto mais alto deu um grito, o garoto caminhou para baixo da árvore curioso pra saber em que confusão ela havia se metido:
- Que você fez agora Clarissa?
- Sobe aqui, rápido.
- Não vou subir. O que aconteceu? Ficou presa?
- Claro que não. Sobe logo pra ver uma coisa.
- Não vou subir numa árvore, desce logo.
- Você quer ver ou não? É um circo.
Mesmo contrariado ele preferiu subir, nem que fosse pra explicar pra irmã que o que ela via não era um circo, já que ela nunca tinha visto um e ele pelo menos tinha visto uma figura de um, o que deveria ser suficiente para atestar à irmã que ela estava errada. A subida foi um pouco difícil por causa da falta de prática e teria sido decepcionante, caso a visão não fosse recompensadora. Era um circo de verdade, com uma grande tenda amarela, uma bandeirola triangular azulada na ponta e grandes flâmulas descendo até o chão. Mesmo com uma aparência desgastada, parecia ter a mágica de todo circo. Na verdade, se algum dos poucos magos ainda vivos passasse por ali, poderia atestar com certeza que ali tinha muita mágica boa:
- Vamos até lá.
- Não, a mãe não vai deixar e não temos dinheiro mesmo.
- Ah, a gente vai só dar uma olhada e volta. Vamos, se você não for a mãe não deixa eu ir também. Deixa de ser chato.
Ainda que relutante, o menino aceitou, porque no final ele também queria muito ir:
- Mas nada de correr, vamos andando.
Andaram em direção a grande tenda, quando chegaram bem próximos notaram o quanto ela lembrava um enorme castelo, mas no lugar do fosso havia um grande canteiro de margaridas, como elas haviam crescido ali do dia pra noite os dois não souberam dizer, mas imaginaram que devia ter algum daqueles mágicos que tiram coisas do chapéu. Um homem com um grande bigode e cavanhaque deveria ter tirado as flores da cartola e as atirado no chão, assim seria bem fácil colocar todas elas ali.
Muitas pessoas estavam entrando para a primeira sessão. Os dois estavam desapontados porque sabiam que sua mãe não tinha como levá-los ao circo. Clarissa começou a seguir a cerca para o lado oposto ao da entrada. Logo percebeu que fora ao homem que parecia um típico domador, que estava muito ocupado pegando o dinheiro das entradas, não havia mais ninguém do lado de fora:
- Haroldo, vamos pular a cerca e ...
- Não, não vamos. Se nos pegarem assistindo o show sem pagar vai ser uma vergonha.
- Mas .. A gente fica só um pouquinho e depois sai. Eu queria muito ver o leão...
Em qualquer outra ocasião os argumentos dela não seviriam de nada, mas o garoto queria ver como era um circo por dentro tanto ou até mais que a irmã:
- Tá, mas só um pouco heim.
Num só dia Haroldo já havia subido em uma árvore e pulado uma cerca, pra ele não faltava acontecer mais nada. Quando passaram pelo canteiro Clarissa pegou uma margarida lilás, jamais havia visto uma dessa cor. Seu irmão levantou um pouco a lona e assim que ela passou ele se jogou pra dentro. Como não tinha o costume de fazer esse tipo de coisa ele acabou caindo. Assim que ela o ajudou a se levantar eles ouviram uma voz estranha:
- Muito bem, entre as coisas no meu contrato está impedir que pesssoas tentem entrar por outro lugar que não seja a porta...

sábado, julho 15, 2006

Um Homem de Sorte (Insignificante Vida Indie)

Esse texto é uma sessão "insignificante vida indie".
De acordo com o quase resultado de um teste de QI feito an internet, eu tenho entre 120-144 de QI, como eu preferi não pagar pelo resultado isso foi tudo que fiquei sabendo. É um resultado relativamente bom. Minha mãe já sabia disso faz tempo. Uma vez me contou sobre como aos oito anos convenci minha dentista a parar de fumar, ela apenas desconsiderou que a mulher é burra como uma porta. Uma eu lhe disse que se ela não quisesse que eu respondesse deveria ter pedido um filho burro. Da minha parte acho que ela deveria ter mostrado grande arrependimento em não ter feito um aborto, mas ela é uma senhora bastante simpática e nem deve mais lembrar desse episódio. Sabe, uma pessoa relativamente inteligente deveria ter uma vida supostamente interessante, mas todos os meus momentos cinematográficos sempre parecem pastelão. Pelo menos eu posso escolher a trilha sonora, e essa foi feita pelo Jon Brion, acredito que seja esse o nome, é o mesmo que fez a trilha de Brilho Eterno, tem um pouco de jazz também. Acho que é uma questão de adiar a vida, igual ao texto que eu não escrevo, pra não dar o gostinho do Edmir dizer que ele jogou essa aventura antes dela virar texto, ou a porcaria do ciso que tá empurrando toda a minha arcada dentária pra frente. Me disseram que a gente tem de fazer é na doida, porque é só assim que a vida sai, mas eu insisto em faezr planos e pensar milimetricamente nas variáveis que podem influenciá-lo, até descobrir que há muitas delas, muitas mesmo, mais até do que eu gostaria. Eu ainda tenho sete anos pra ser uma daquelas pessoas interessantes de vinte e poucos anos que não sabem o que fazer da vida. Que droga.

sexta-feira, julho 07, 2006

Me Ama, Por Favor

- Renato eu tem um câncer crescendo em mim.
- O quê? - ele pula da cadeira com taquicardia, essa mulher ainda o mata do coração.
- É isso que tu ouviu. Eu vou ter câncer de próstata e a culpa é tua.
- Porra Maria, pára com isso, Tu ainda me matas do coração.
- Renato, eu cortei meu pau fora por tua causa, porque tu dissestes que só podia se casar se eu fosse mulher, mas tu só me come se for que nem viado. Por que isso Renato?
- A gente casou, não casou? Que tu queres mais, Maria?
- Que tu digas que me ama. O meu pau, eu cortei o meu pau fora porque eu te amo. E tu? Tu não ligas a mínima pro meu amor.
- Pára com isso, vem cá, vem meu bem. Dá um beijinho.
Ela dá um beijo arrependido, com os olhos fechados e lábios umidecidos e mornos:
- Vo fazer um café.
Ela pega o pó do café, pensa em coá-lo na calcinha. Nojento demais, não virou mulher pra ser uma dessas desesperadas. Dramática talvez, até folclórica, mas desesperada não. As panelas ficam no armário de baixo, o saquinho branco é da soda caústica. Um olhar mais demorado na embalagem. Fica olhando a água ferver, as vezes olha de canto de olho pra porta do armário:
- Toma o café.
- Vem cá, deita comigo vem.
Todo dia ela faz o café olhando pro monstro dentro do armário.
Os sábados são sempre horríveis, é dia de surra. Ele sempre chega às 19 prontinho, com o cinto na mão, a fivela presa nos dedos:
- Ai, pára Renato. Não faz isso meu amor.
- Vem cá, porra.
- Não meu amor, não faz isso.
Quando sai sangue ele pára, fica satisfeito. Caí no chão chorando:
- Oh Maria, meu amor me desculpa, meu amor.
- Tu só diz que me ama quando tá bêbado.
- Mas eu te amo meu amor. Eu te amo. Mas Maria, é que não é de verdade.
- O que não é de verdade?
- Não é buceta de verdade Maria - ele chora coma cabeça encostada na coxa dela, passando a mão até próximo a virilha - Não é buceta Maria...
Ela levanta, ajeita a cabeça dele no chão:
- Onde tu vai amor?
- Vou preparar um café pra ti.
Na cozinha ela coloca a mão por dentro da calça, não importava quantos dedos ou força que ela fizesse, nada nem um pouco de prazer. Até a dor que sentia era pouca. Abre o armário de baixo, dessa vez ela pega a panela e o saquinho branco. O pó de dentro é azul, ela pega só uma pedrinha:
- Tá ruim o café, Maria.
- Tá sem açúcar, pra passar o porre.
- Ah, brigado Maria. Tu me ama né?
Coloca a cabeça dele no peito e faz um carinho:
- Lógico que amo. Cortei meu pau fora por tua causa. Não foi?
No outro dia Renato vomitou tudo o que podia. Passou mal o resto da semana também. Quando foi no médico o diagnóstico:
- O Sr. Está com Gastrite.
- Ha meu amor, vou ter de preparar teu almoço todo dia agora.
- Maria, tu és uma santa - passa a mão nos cabelos dela e sorri satisfeito com a devoção da mulher.
O pobre só piora. Ela prefere usar as pedrinhas, amassa com o dedo e salpica na comida:
- Só tu cuida de mim Maria. Tu és uma santa.
- É porque eu te amo.
Um mês depois ele morre, magro, sem sangue. Uma semana depois Maria é presa por assassinato "Travesti é acusado de matar companheiro envenenado". Maria aparece sorrindo pra câmera sentada na delegacia, as mãozinhas na coxa e as pernas cruzadas.

quarta-feira, junho 28, 2006

O Solteiro

Eu acho que nem sei mais paquerar. Acho que nem se usa mais a palavra paquerar. É isso, pronto, fiquei velho. Em 2 anos eu virei um velho. Ah, esquece essas frases de psicologia de almanaque. Não importa quantos anos você fez de universidade, você nunca frenquentou de verdade. Acidez é mais um dos indícios da solteirice. Você sempre gostou da minha acidez, agora não reclama. Passa o café. Dá mais um cigarro também. Foi, foi ele quem escreveu, insoso né? Põe a culpa no eu-lírico, sempre funciona quando eu bebo. Não, ele não era legal, era um inútil. Tu estás mais gorda. Não faz isso porra, só tem essa carteira. Tá, tá bom, ele era legal e bonito e divertido e eu não o amava mais. Foi isso. Acabou o amor. Devia ter algum relógio digital que mostra-se essa medida. A verdade é que eu tô precisando trepar, uma daquelas que você nem vê o rosto e finge que não fez nada. E daí? Eu tô falando de mim, não quero saber de ti. Tô egoísta hoje. Faz carinho em mim. Violetas, eram essas, davam um trabalhão pra achar, vêm em uns vazinhos pretos horrorosos. Por que nunca te dei flores? Não te amava o suficiente. Toma, essa é pra ti. Ele não ganha mais violetas. Pera um pouco, vou ligar o som. Não, nada alegre, estamos curtindo fossa esqueceu? Vô fazer mais café. Tá eu te deixo lá embaixo. Deixa mais um cigarro pra mim.

quarta-feira, junho 21, 2006

P.R.D.S (Sr. Biólogo)

Eu e o Sr. Fletcher identificamos o que acreditávamos ser um novo tipo masculino (pelo menos no gênero) ao qual denominei vulgarmente como "bicha-sem-noção-que-alisa-o-cabelo". Antes a população era composta por alguns espécimes endêmicos, mas alguma estranha e equivocada pressão de seleção fez com que eles se multiplicassem. Não chequei nem superficalmente o tipo de reprodução dessa nova espécie, porque ela me dá medo...
É de fácil identificação, são seres humanos comuns, mas no lugar da pelagem da cabeça há algo que provavelmente é o couro de algum roedor morto, queimado e esturricado. A primeira vista é um estranho mimetismo de cabelos comuns. Entretanto, é impossível ser cabelo, porque se parece com um rato morto e cheria como um rato morto, é porque provavelmente É um rato morto.
Para ser mais preciso, os testes histológicos comprovaram que é uma espécie de parasita exógeno. Algo muito semelhante a um piolho gigante, do tamanho de um rato. E é por isso que os infectados possuem uma aparência levemente apática, que normalmente seria conferida à uma anemia. Isso eximiu as pobres bichas de toda a culpa pelos penteados estranhos.
O prognóstico de minhas pesquisas apontam para uma possível praga, e não o acaso da seleção gerando uma nova espécie. Descarto qualquer possibilidade de controle biológico. A recomendação é o extermínio imediato. Eu e Sr. Fletcher vamos montar uma brigada para acabar com o terríveis Piolhos-Ratos-Devoradores-de-Sangue.
Um naturalista uma vez escreveu que o peixe-boi era uma espécie esquecida por Deus no processo evolutivo, mas Ele é perfeito e o peixe-boi é um bicho muito legalzinho. Me pergunto se o aparecimento desse parasita foi intencional.
Nota pra Deus: Você cometeu um grande ERRO

quarta-feira, junho 14, 2006

O Abominável Homem das Neves ( A Volta do Sr. Biólogo)

A Martha Medeiros o chamou de "homem só". A Sue deve ter alguma terminologia do tipo "abestado insensível". Mas como biólogo especializado em espécies bizarras, o descobri como o genuíno "Abominável Homem das Neves". Ainda sem nome científico, mas de fácil reconhecimento, são frios e "insensíveis". Minhas pesquisas indicaram para uma população endêmica de uma pequena vila do Alasca. Lá tem uma vila cheia deles, a espécie se reproduz por brotamento. Em determinada idade eles saem da sua pacata vila de homens picolé e migram para explorar o mundo.
Não importa o quanto ele seja bonito ou agradável, muitas vezes é os dois. Ele é um cubo de gelo. Devido a sua longa vivência no Alasca, onde é muito frio, ele e seus semelhantes poupam energia e não dialogam mais do que o trivial um com o outro, não consegue expressar-se com eficiência. Deixa aqueles vazios falando ao telefone toda vez que a conversa fica séria. É completamente inepto quando o assunto é entender os sentimentos do parceiro. Pior ainda, ele não consegue expressar os seus próprios. E, por algum inexplicável defeito de fábrica, ele trava.Vocês estão vendo um filme, conversando na cama ou simplesmente um ao lado do outro, e algum gatilho psicológico faz com que ele trave.
Sim, travar, como em "parar de funcionar", não adianta dar corda, substituir a bateria, porque da feita que o pobre trava, já era. A única solução é jogar o "abestado insensível" fora. Até que um belo dia ele destrava sozinho e volta ao funcionamento normal. Deve ser a diferença climática. Quem sabe os espécimes das regiões temperadas sejam melhores que os dos trópicos. Por isso os espécimes europeus têm cotação mais alta.
Na melhor da hipóteses, caso você tenha se apegado ao seu, dê umas porradas, ele funciona no tranco por mais algum tempo, mas inevitavelmente ele vai travar de vez. Mas não se preocupem, eles crescem por brotamento e se você gosta muito do tipo, vai ser bem fácil encontrar outro. Em todo caso, aprecie o seu enquanto o prazo de validade não expira.

terça-feira, junho 06, 2006

Ó Céus

Bom, hoje eu li num site que o papa mais uma vez se demonstrou contra o casamento gay. Mas o que mais me chamou atenção foi um outro dado no mesmo artigo. Era o fato da igreja continuar reprovando o uso de camisinha, seguido do questionamento sobre um casal onde um dos parceiros seja soro positivo. E aí? Como é que se faz? Se contamina com uma doença incurável, mas em contrapartida ganha-se um passe quase certo para o reino dos céus que de qualquer forma já fica bem mais próximo depois da contaminação?
Aí vem alguém e me explica que isso é culpa dos dois mil anos de atraso intelectual da igreja católica, da hipocrisia cristão e mais um monte de coisas, algumas com as quais eu até concordo. Mas se for pensar bem, não vejo como qualquer religião atual conseguiria ter as respostas adequadas pra muitas coisas atuais. Por exemplo, quanto carma eu ganho por jogar um chiclete no chão? Analisa, é um composto terrível, que agride a natureza, se acumula no ambiente, é desagradável depois que perde o gosto e leva um milhão de anos pra se decompor. Aliás, como se conta o carma? Quantas reencarnações eu levo pra pagar isso tudo? E traição virtual? Fura os olhos do indíviduo? Ou corta a mão? Como é que faz?
O jeito é fazer igual aos ateus, deixaram de acreditar no pobre do Divino, porque é praticamente impossível chegar até Ele. Droga, me fodi de novo.

terça-feira, maio 30, 2006

A Loira

Depois de uma semana trabalhando numa cidade do interior, no sábado ele decide ir no único bar da cidade. Bebida barata, música ruim e muita mulher feia, mas ele é de fora então pode escolher. Escolhe a loira. Uma loira de interior, com cara de matuta e sardenta, mas os olhos bem azuis e uns peitões. Toda se fazendo de misteriosa, quase não fala, mas sempre aceita bebida. Está se achando porque está rodeada de macho, mas ela olha pra ele. Por sua vez não se faz de rogado e desce cerveja pra loira. Quando ela fica mais solta solta um "Vocês num bebo, não". Matuta sem dente, na verdade faltam só os da frente, mas seria melhor se faltassem os de trás, antes morta de fome por não conseguir mastigar do que desdentada na parte da frente. Fica o espaço vago entre os caninos. Deve fazer brisa. O jeito é ir sem beijo, pegar no mato, logo fungando no pescoço, coloca de quatro e cavalga, puxa a cabeça dela pelos cabelos como se fosse arreio e bota pra cima pra ver se ela sente a brisa brisa.
P.S: É tudo culpa do velho tarado

sexta-feira, maio 26, 2006

Vanessa, Fica Comigo

- Pra onde cê vai? Que mala é essa?
- Vou embora.
Ela fecha a porta sem fazer ruído. Ele abre a porta com tanta força que poderia tê-la arrombado, nem que fosse pelo efeito dramático. Ela adora efeitos dramáticos:
- Tá doida?! Me dá essa mala, entra.
- Que parte do "Vou embora" você não entedeu?
- Ele inteiro. Por que isso já?
- Por que eu cansei. Olha, o elevador chegou, dá licença.
A porta se abre e ela põe a mala no elevador. Ele a segura pelo braço:
- Não senhora. Como é isso? Você está casada. Faz um ano já. Você não simplesmente coloca tudo numa mala e me diz que vai embora.
- Eu cansei, só isso. Nada demais.
- Ah, cansou. Cansou de quê? De ficar escolhendo cor de cortina e ouvindo música o dia inteiro?
- Também, mas mais especificamente de você.
- Vadiazinha, cara-de-pau.
- Tá vendo? Você é um sapo, você sempre foi um sapo, mas antes você era o meu sapo. Mas agora você é só um sapo.
- Ah, e você fez o grande favor de casar comigo, foi?
- Fiz, fiz sim. E eu te beijava todo dia de manhã esperando você virar o meu prícipe, mas você é só um sapo.
Ele largou o braço dela que já estava vermelho de tão forte que ele apertava:
- Vai, vai embora. Sua inútil, quero ver outro homem que te aguente. Sua bruxa.
A porta do elevador se fecha, ela grita lá de dentro:
- Você é um sapo, não é um homem. Tá me ouvindo?! UM SAPO! - o tom da voz foi enfraquecendo - Vou ficar com a Vanessa. Ela me entende. Ela quem vai ficar comigo ...

terça-feira, maio 23, 2006

S&R Letras Voltou ^^


"Sejaaaa, meu príncipe, meu hóspede, meu homemmmm..." A voz meio esganiçada é da Kelly, nós dividimos um apartamento. Ela é puta e eu sou jornalista, quase colegas de profissão:

-Anda bunitaa. O café tá pronto já.

Por que divido apartamento com ela? Porque eu já dividia quando ela se chamava Rogério e fazia ciências sociais. A bem da verdade, ele não precisava ter virado puta, mas é que isso é o que ela queria fazer de verdade. Ela também faz dublagens, mas diz que não pega bem pra drag ser puta, como ela gosta muito mais de ser puta que drag, as dublagens são sempre exclusivas pra mim. Moramos juntas faz uns anos, a proprietária do apartamento sou eu, mas a dona da casa é ela, assim como da palmeira tristonha porque vive num vaso; do espelho quebrado que fica pregado em frente à porta de entrada e o inferno dos peixes (ela insiste que seu experimento sociológico um dia fará com que os betas aprendam a conviver com os outros peixes, como não tem outro jeito, eu passei a comprar só os peixinhos de dois reais). Além disso, ela, diferente de mim, é uma excelente cozinheira, fazemos as três refeições juntas e meu almoço nunca atrasa.

-EEEuuu quero dizer pra sempreee que eu te mereçoooo.

Às 10 da manhã do domingo tenho de ligar para minha mãe. Um dia ainda escrevo um livro sobre a velinha ranheta, até hoje ela ainda me pergunta como vai o balé e o Fernandinho, meu namorado de adolescência. Será que digo pra ela que ele foi pra Holanda e se casou com o homem loiro, alto e rico dos meus sonhos?

Sou uma excelente escritora, devo tudo ao meu décimo grau de parentesco com a Clarice Lispector. Que merda, tenho de sair da cama, preciso dar um jeito no cabelo. Ele está rosa, maltratado de química, meio estranho de pegar, mas todos dizem que está lindo, isso que importa. Domingo é dia de coisas que normalmente eu esqueço durante a semana: mamãe, cabelo, unhas, pelos sobressalentes na sobrancelha...

- Será possível, quer que eu te traga no colo mona?

A Kelly, apesar de ter colocado silicone até no cérebro, no fundo é um grande cavalheiro.

- Pronto “uoooohhh” Desculpa, mas tu viste a hora que cheguei?

- Não, cheguei depois.

- Como você consegue? Depois de uma noitada ainda assim, linda, loura e feliz se esguelando na cozinha?

- É que ontem foi especial

- O que foi? Conseguiste um bofe escândalo que ainda te chamou de princesa?

- Não, fui pedida em casamento

- O que? Cof, cof, cof, desculpa me engasguei com um pedaço de pão. Com quem, já? Não sabia nem que tu tinhas namorado.

- Nem eu! - Com as mãos na boca caiu na gargalhada.

Como ela podia rir assim? Era louca! Estava feliz por ser pedida em casamento por um desconhecido, acho que não há espaço suficiente no corpo para o silicone e o bom-senso.

- Quando vocês se conheceram? Ontem? No mesmo dia que ele te pediu em casamento?

- Ai, deixa de ser assim, nem parece que estás feliz? Sabe quantas travestis são pedidas em casamento?

- Achei que tu gostasses de ser puta?

- Despeitada. Posso te contar como aconteceu?

Torci a boca, levantei só um lado do rosto e não me restou mais nada a dizer que não fosse:

- Fala.

- Ele já era meu cliente, gostou e repetiu a dose, e não foi nem uma, nem duas e nem três vezes. Ontem gozava na minha boca e me pediu, não é lindo?

- Noossa com toda certeza, onde foram parar a carruagem, o sapatinho de cristal e a madrasta? Conto de fadas hoje em dia, tem é esporrada na cara da princesa!

- Eu não sei por que tu estás assim, tão azeda. Era pra ser divertido sabia?

- Desculpa, acho que ainda nem acordei, só posso estar em um pesadelo, por isso vou voltar pra cama e esperar que tudo volte ao normal.

Entrei no quarto e quis fazer cena, jogar a caixinha que ela me deu no espelho, chorar encostada na parede, ficar com os olhos sujos de sombra que não tirei de ontem e escorregar lentamente até me sentar no chão, agarrada no salto quinze dela. Sim, eu confesso, amo essa-esse-sei-lá-o-quê desde o primeiro dia que nos encontramos na faculdade. Quando ele veio morar comigo eu já sabia que era gay, mas sabe como é mulher apaixonada sempre acha que pode mudar, que só amor transforma. Realmente o amor transformou, transformou ele, em ela.

Eu estive em todos os momentos, ajudei a escolher tamanho do silicone, tinta de cabelo, esmalte, vestidos, tudo... Não tinha mais escolha, estava apaixonada, só me restava ficar ao lado dela. Agora ela vem me dizer que vai casar?

- Ei, senhorita jiló, telefone pra você, sua mãe, digo que estás em um pesadelo? Que ela faz parte disso tudo e que assim que tu acordares liga pra ela?

- Palhaça.

Falei rápido com a mamãe coisas do tipo: “sim, estou comendo”, “sim, estou escrevendo”, “sim, estou vivendo”, “sim, vou ao balé todos os dias”, “satisfeita?”, pensei em dizer pra ela “Mãe, o Fernando é gay”, mas a coitada não merece isso.

Agora, era hora de me dedicar ao futuro casamento do amor da minha vida. O quê? Eu não posso me apaixonar por um travesti? Por quê? Porque ela nunca vai me querer? Tá bom, qual a mulher que usa esse critério pra não se apaixonar? Preciso fazer alguma coisa...

- Por que você ta fazendo tudo isso?

- Fazendo o que mapô? Eu vou casar, vou ser feliz, tu não queres me ver feliz?

- Ai, eu não acredito, isso tudo é irreal demais pra mim.

- Não acredita no quê. Que alguém me pediu em casamento? Que eu vou me casar e você ainda não?

Será que é isso? Será que eu tô com inveja? Puta que o pariu, eu ia me sentir tão menos miserável se fosse inveja. Só “admiração sem esperança”

- Tô com inveja bicha. Só isso. Só um pouco de inveja. Me perdoa?

- Vem cá mapô. Claro que pode ficar com inveja, a parte mais importante de casar antes da melhorar amiga é fazer inveja pra ela.

- Sabes que eu vou fazer pouco da tua cara quando ele te largar, né?

- Vai nada, cê vai ficar chorando comigo no quarto. As duas de maquiagem borrada e uma caixa de lenços. Vai ser super Hollywood, baby.

-Vai bicha vai sim.

segunda-feira, maio 22, 2006

Formigas...

Caronas com a minha irmã nunca valem muito a pena, sempre tem alguma coisa que faz com que o percurso demore do que tomar o ônibus. A parada estratégica dessa vez pelo menos foi por uma boa causa, ela tinha de ir buscar a filha de uma conhecida que ia para o hospital. Para mim não tinha nenhuma novidade nisso, eu já sabia que ela faz isso uma vez a cada duas semanas e também já sabia que a garotinha tem cancêr.
Pra variar eu fiquei no carro. Minha irmã vei trazendo a menina. Ao contrário do que eu esperava, ela não era magrela, não estava com olhos fundos, nem parecia estar a beira da morte. Quem sabe fosse mais fácil lidar com ela se a sua aparência fosse essa. Pelo contrário, ela era linda, pequena, com a carinha meio rechonchuda, havia acabado de cortar o cabelo porque tava caindo e tinha um seu estojo de maquiagem novo na mão.
Por que isso é tão ruim? Porque eu lembrei que ela não era uma morimbunda e sim uma criança. Porque crianças não tem a menor noção de mortalidade. Porque é absolutamente horrível você ouvir uma criança fazendo manha porque não quer tomar soro, ao invés de fazer manha pra ganhar pirulito. Porque uma garotinha não deve ter pouco cabelo, a menos que ele esteja apenas começando a crescer. Essa é uma inversão perversa da ordem das coisas, crianças não deveriam morrer, a função principal delas é esfregar na minha cara que eu vou morrer antes delas.
Mas o pior foi ela se sentir constrangida comigo, porque ela estava ficando careca. E eu não tive a menor coragem de dizer pra ela que não se preocupasse com pessoas como eu. Porque pessoas como eu são superficiais e egocêntricas e jamais vão conseguir olhar pro mundo fora do seu próprio umbigo. Daí eu fiz o que eu faço melhor, me fechei e não dei mais um pio. Babaca.

quarta-feira, maio 03, 2006

O Gostosão

Armadinho era mau. Foi assim desde que nasceu, sua mãe percebeu logo, mesmo antes de criar dentes o moleque ficava tentando mordê-la e quando o primeiro apareceu ela teve de parar de amamentá-lo "Essa criança quer me machucar". Mas mãe é mãe, então ela tee de criar o diabinho, que por sinal cresceu e se tornou um homem nem tão bonito assim, mas tão mau e desavergonhado que todas as mulheres se apaixonavam por ele.
Logo ganhou fama, o apelido ele mesmo quem bolou do alto da sua não tão grande criatividade "O Gostosão". A mulherada toda gamava, mesmo sabendo que ele gostava de dar umas bofetadas e de fazer por trás, as vezes até dinheiro pegava. Menina que aparecesse grávida perdia o filho na bofetada. Preconceituoso, se a mulher era negra xingava a pobre de tudo quanto é coisa ruim "Vem cá diaba. Senta aqui. Varejeira", das orientais reclamava "Porra, tu não tem bunda". Mas dizem que mulher gosta é quando maltratam e Armandinho fazia isso com gosto. Pelo visto dava certo, com as travas que faziam ponto na esquina então? Não importava o quanto ele xingasse, elas sempre tentavam, mas só ouviam "Sai daqui cão. Bicho do nojo".
Armandinho virou PM. Sentiu-se um homem realizado, podia carregar uma arma e dar com cacetete nas pessoas. Interrogatório que era bom, apagar bagana de cigarro no bico do peito alheio, dar caldo na privada, colocar anel pra meter bofetada. Todo mundo sabia que o pm box do Armandinho era o inferno na Terra. Mas o que ele gostava mesmo, era de comer as donas em cima da mesinha.
Um dia ele tava voltando pra casa e viu um caminhão de mudança na rua. Uma família tava se mudando pra uma casa no início da alameda onde ele morava. Mas pra ele o caminhão era o de menos, porque ele viu a Deusa, segundo suas próprias palavras "A diaba mais gostosa que já vi nessa vida". Os olhos dele quase pegaram fogo de tanto secar a Deusa. O problema é que a moça era noiva e amava. Se fosse só noiva não tinha problema, mas ela não tinha olhos pra nenhum outro homem.
Armandinho atentava a moça dia e noite, falava todas as obscenidades que só ele era capaz de pensar, ma snão dava certo, a moça sempre fazia cara de nojo pra ele. Ele começou a ficar obcecado com a moça, fazia ronda perto da casa dela, observava tudo. Um dia viu que ela escondia a chave da casa debaixo do xaxim, pra poder fazer sacanagem com o noivo sem o pai dela ver.
Foi assim depois do almoço na segunda feira, justo no dia de folga do Armandinho. Ele a viu esconder a chave. Aproveitou logo a chance, pegou a arma em casa, voltou a invadiu a casa da Deusa. Quando chegou no quartoda pobre, sacou logo a arma. Mesmo tendo ameaçado a moça d emorte caso ela contasse, ele tinha judiado tanto da pobre que ear impossível não perceber que tinham abusado dela. Armandinho parecia possuído, mordeu tanto, esbofeteou tanto que a moça ficou toda roxa.
O namorado da Deusa, Paulão, que era quase tão macho quanto Armandinho ficou enfurecido. Reuniu os amigos, todos tão machos quanto eles e foram atrás do Armandinho. Esperaram até a noite quando o maldito tava voltando pra casa. As travas da esquina já sabiam de tudo e trataram de se esconder. A rua estava mórbidamente calma, mas Armandinho nem notou. Só quando Paulão e os amigos apareceram foi que ele percebeu que estava acontecendo.
A briga começou, Armadinho até que deu conta de uns tantos, mas no final acabou perdendo. Apanhou de paulada, de correte, de soco. Achou até que tinha ficado cego de um olho, mas era só o rosto que estava inchado demais daquele lado para ele poder abrí-lo, quebrou uma meia dúzia de costelas e perdeu uns dois dentes. O corpo inteiro doía e ele não conseguia andar.
Uma das travas chegou perto, mas mesmo cuspindo sangue pela boca Armandinho recusou a ajuda e ainda falou alguns impropérios pro travesti "Sai daqui bicho do nojo. Não vê que eu tô fudido. Sai viado nojento". Foi então que a trava o lenvantou e o encostou no muro de uma casa. Ele mal tinha forças pra mexer a cabeça, na verdade foi a única coisa que ele conseguiu mexer quando percebeu que a trava lhe baixava as calças, ficou tentando dar cabeçada no travesti. A bunda branca do Armandinho foi invadida sem dó, pra sorte dele, o resto do corpo doía tanto, mas tanto, que o estupro nem doeu como deveria. A essa altura ele já tinha se mijado todo "Pronto gato, agora sim tá fodido". A trava deixou ele ali do mesmo jeito, com a bunda toda gozada exposta, desmaiado e fodido.

terça-feira, abril 18, 2006

Nem Tão Formiga Assim

O dia estava péssimo. Aulas horríveis. Céu horroroso. Um ônibus que levou séculos para chegar. Ainda sim, tinha planos para a tarde, bem simples até. Dormir boa parte da tarde, vegetar é algo muito bom de fazer quando o dia não vale a pena. Acho que é por isso que durmo tanto.
Infelizmente uma série de momentos humanos inesperados acabaram com meus planos. O primeiro deles veio assim que estavam chegando na rua de casa. Uma batida de carro. Um ônibus entrou na traseira de um carro de passeio, nada espetacular, nem vítimas fatais teve, mas mesmo assim começou a reunir pessoas em volta. Primeira coisa que eu pensei "Lá vão os pobres bisbilhotar a desgraça alheia". Ia passar direto, mas uma cara conhecida acenou pra mim, por educação fui lá ver o que estava acontecendo. Não é que a desgraça alheia era da minha irmã? Então veio o primeiro momento não formiga, comovido com a situação da pobre, consegui colocar a mão no ombro dela "Já ligou pro Detran?".
Daí seguiram os outros momentos. Fiquei sozinho, reparando o carro pra que não levassem nada, vários traseuntes paravam, olhavam o carro e faziam peguntas do tipo "Quem bateu?" e eu muito simpaticamente, na verdade só o mais simpático que eu conseguia ser, apontava para o ônibus. Parecia que eu tava com um bebe bonito em um carrinho, poruqe todo mundo que parava, perguntava "É seu?" o "não" era simultâneo a um interiorizado "sim, acabei de parir ele, mas veio com defeito de fábrica". O cúmulo de tudo foi uma vizinha me perguntar isso, meu primeiro instinto foi "É, é meu sim. Eu só pego ônibus contigo três vezes por semana pra economizar gasolina, porque eu só ando com meio tanque", mas consegui juntar todas as minhas forças num sorriso "Não, não é não".
Pra tonar as coisas ainda mais clichê se formou um temporal e eu tive de me abrigar embaixo de uma árvore. Nota pra Deus: Será que as coisasruins não poderiam acontecer uma de cada vez?

sexta-feira, março 31, 2006

12 Andares

Por acaso eu trabalho do décimo segundo andar de um prédio:
-Tchau Ana.
Me chamar Ana também foi obra do acaso, minha mãe estava sem idéias no dia e viu uma pichação assinada com esse nome. O fato de eu não cair toda vez que olho pra baixo pelo batente da escadas também é acaso:
-É, seria fatal.
O elevador chega e eu cumprimento o acensorista. Será que um dia eu deixo ele me atacar dentro do elevador? Do jeito que as coisas estão, eu quem iria agarrá-lo. Mas eu não sou pra ele, não sou pro bico dele. Mulher de fino trato não é pra ele, mas é impossível não imaginá-lo me apertando contra o espelho do elevador, aquele suor horrível de gente pobre, mãos cabeludas e mal tratadas arrancando minha calcinha, me penetrando de forma furiosa sem nem ao menos se dar ao trabalho de baixar sua calças. E eu? Eu iria levantar a cabeça pro teto pra não sentir o cheiro dele. Teria de ficar olhando as pás do ventilador rodando. Assim que o elevador chegasse ao térreo diria um "Tchau fulano".
Descobri faz algum tempo que sou burra, quase um bicho. Quase não, pior que um bicho. Não aprendo nada, nem por condicionamento, até os ratos aprendem levando choque, mas eu sempre aperto o interruptor da cozinha e ele sempre me dá o mesmo choque.
Se um dia eu cair de verdade, espero que 12 andares dêem pra lembrar toda minah vida.

quarta-feira, março 15, 2006

O Guarda-Chuva de Bolinhas

Naquela década, fazer a travessia do atlântico em barcos não era algo obsoleto e eu ainda não confiava em aviões. Era inconcebível algo que voasse sem bater asas. Além disso, ter alguém esperando no porto tinha um clima de romance inestimável. E era assim que eu queria que ela estivesse, me esperando no porto.
Lá de cima eu iria avistá-la. Claro, separada da multidão, ela simplesmente não se ajustaria a eles, não teria aquele sentimento de união que cresce nas pessoas saudosas e as faz solidarizarem umas com as outras. Deslocada, mas ainda sim, ou quem sabe exatamente por isso, o centro das atenções.
Meu deleite começava sempre por baixo, um scarpan preto. Pernas bem torneadas e brancas, escondidas pela metade, mas a fenda lateral da saia sempre mostrava um pouco mais. A saia acentuava o relevo dos quadris. A blusa branca um pouco aberta mostrava algumas sardas e levemente o contorno do seio esquerdo. Óculos escuros grandes escondem um pouco da beleza, mas acrescentam um ar de mistério. O guarda-chuva é a peça mais curiosa, preto com bolinhas brancas, é antigo e quando não está protegendo da chuva, está protegendo do Sol. Sempre a indaguei onde diabos havia encontrado um guarda chuva de bolinhas "Um camelô na esquina da minha casa me vendeu".
Mentira, ela sempre mentiu pra mim. Mas era só um guarda chuva, então não fazia diferença. Me incomodava pensar que ela poderia sumir e eu não teria como encontrá-la. Se tinha marido e filhos eu não sabia, tão pouco me importava, pro diabo com o corno e os fedelhos remelentos, ela estava comigo.
As vezes eu até tentava arrancar alguma coisa "Eu te faço o homem mais realizado que você conhece, não é mesmo?Então você não precisa de mais nada, precisa?". Não precisava mesmo, não queria um casamento que a deixasse gorda e mal-amada, nem filhos sugando a vida dela pelos seios. Ela era minha da forma mais egoísta que eu já consegui amar alguém.
Precisava me conter todas as vezes que estava entre suas pernas, para que ela não conseguisse perceber a minha angústia misturada com o gozo. Angústia pela necessidade de união de uma forma que o corpo não consegue fazer, uma ligação do ser com outro ser, uma necessidade brutal da pele dela fundida à minha. Fazendo com que todo gozo seja suado, meio desesperado, meio animalesco, muito, mas muito bom mesmo.
Tenho certeza que quando descer do navio ela vai estar me esperando. Vai largar o guarda-chuva e vai correr na minha direção. Pular no meu pescoço e eu vou segurá-la pela cintura. Vai me dar um beijo no rosto como provocação. Movimentos sedutores calculados, só pra me fazer sentir remorsos pela última vez.
Desci do navio. A qualquer momento ela vai me surpreender. Essa multidão maldita que não sai da minha frente. Eles demoram a dispersar, vão para as suas casas cambada de inúteis, corja da classe média. Já é quase noite. Onde será que ela se meteu? Eu não fiz por mal, ela sabe disso. Iríamos passar a noite juntos, era só pra ela dormir um pouco.
Vou me sentar, vou esperar mais um pouco. Você vai ver amor. Estou aqui, contrito, completo, tudo em mim é seu "Todas as minhas flores, até a erva daninha. É tudo seu". Lembra dessa frase? Me desculpa?