domingo, dezembro 28, 2008

Natal

É notório, pelo menos aos meu poucos leitores, que eu não me dou bem com o Natal. Por inúmeras razões, como:
- o Santa, como boa parte dos bears, me dá arrepios;
- minha irmã sempre obriga um dos pirralhos a me entregar um presente de segunda, alguém precisa explicar pra ela que se você vai comprar alguém como eu, primeiro, nada do catálogo da Hermes está no páreo; dois, livros de auto-ajuda ativam minhas alucinações esquizofrênicas e me fazem vê-los voar na cara de quem me deu, e como ela faz as crianças me entregarem isso pode ser perigoso; três, se não deu certo até agora filinha, é provável que não dê mais, mas é legal da sua parte tentar;
- sou péssimo com embrulhos pra presente, isso não é um exagero fofinho, eu sou cinematograficamente ruim nisso;
-sou completamente desprovido de sentimentos natalinos de solidariedade, tenho poucos desses fora de época também.
Enfim, me faltam as competências necessárias pra viver o Natal, mas é a época dos milagres, então nunca se sabe, veremos ano que vem.

terça-feira, dezembro 23, 2008

Teste (Será que consigo misturar o trabalho com o blog?)

Aqui na Amazônia não há estações, fazemos de conta que quando chove muito é inverno e quando chove pouco é verão, mas isso é só uma forma de tentar dar alguma ordem às coisas, é uma ordem que não é nossa, mas a utilizamos por aproximação. E o outono e a primavera? Acontecem o ano quase inteiro (as mangas caem no segundo semestre, os jambos no primeiro...), então não faz sentido separar alguns meses pra elas.
Contudo, essa sensação de tempo imóvel que tentamos ludibriar parece não ser só nossa, quem nos olha de fora muitas vezes tem a idéia de que o lugar parou, que os nortistas obrigatoriamente têm uma porção indígena em sua genealogia, o suficiente para agrupá-los todos na categoria "índio", bem próximo àqueles descritos pelos colonizadores, preguiçosos, lascivos e inadequados para o trabalho, hoje o termo é "pouco empreendedores".
A floresta é também um caso peculiar, por um lado, se o tema é turismo, e a sua mais nova vertente é o ecológico, estamos no local certo, florestas à perder de vista, grandes e imponenetes rios, fauna exuberante, tudo garantia de proporcionar uma experiência de vida única para os visitantes. Por outro, se a discussão for meio ambiente, ela está em grave perigo, ameaçada pela fronteira da soja, pelo desmatamento, pela pecuária, pela biopirataria e, uma das ameaças mais graves, pela incapacidade da população local de gerenciar o território.
Com visões tão distintas sobre a mesma região, precisamos de uma perspectiva com um pouco mais de parcimônia. Sim, existe um bom pedaço de floresta intocada - pela escala da região Norte isso significa muita coisa - e precisamos cuidar para que ela continue nas "redondezas" para as próximas gerações, sem que isso signifique expulsar todos os atuais residentes. Também precisamos reconhecer que há um sério problema acerca de uma grande área pressionada pela exploração excessiva dos recursos naturais, cuja utilização dos serviços ambientais provavelmente ultrapassa seu limite, o que significará a sua breve extinção.
O tripé "termina" no que concerne a população local, temos grandes centros urbanos e também um grande número de comunidades tradicionais (seringueiros, extrativistas, ribeirinhos, caçadores...), grandes conhecedores da região, verdadeiramente eruditos quando se trata dos saberes locais, porém, com necessidade de se adequar também à realidade global e para isso precisam de orientação, não porque ignoram o que acontece fora de suas comunidades, mas por isso exigir determinadas competências que não se formaram aqui e precisam ser adequadas à nossa realidade, e a melhor forma de fazê-lo é de dentro para fora. Quem sabe essa seja uma das ações com maior probabilidade de sucesso para garantir a conservação dos recursos e para a racionalização dos serviços ambientais, isto é, torná-los lucrativos. Não dá para esquecer que o tempo passa por aqui também, só é mais difícil de "vê-lo".

quarta-feira, outubro 29, 2008

Momentos Kodak

- AAAHHHH, eu sou um monstro que vai te levar pra uma caverna, te transformar num urso e te fazer hibernar todo o longo e frio inverno.
- Mãe... a senhora não está assustando a criança...

segunda-feira, outubro 06, 2008

Momentos Kodak

Eu danço engraçado quando tô estressado de sentar tanto tempo na frente do computador.
Trilha Sonora: Orquestra Imperial - Palco MPB

terça-feira, setembro 23, 2008

Momentos Kodak

de janeiro pra cá já foram 4 artigos, então por que diabos não sai nada pro tcc?

domingo, setembro 21, 2008

Momentos Kodak

fim de semana de mulher abandonada filmes, cama e muito, muito, mas muito doce

sábado, setembro 13, 2008

Não precisam mais me perturbar por causa de filhos, eu tenho um buddypoke

quinta-feira, julho 31, 2008

Fechei os olhos, a alma parecia flutuar ou ser levada pelo vento que batia no meu rosto, de qualquer jeito ela se afastava do meu corpo. No instante final me agarrei a ela, ainda quero viver, então não a deixei ir, porque o vento não parava de puxá-la e ela parecia não fazer o menor esforço para ficar, ou quem sabe ela é realmente leve como eu gostaria que fosse, por isso as lufadas parecem arrastá-la. Se ela se for o meu corpo cai inerte, as pessoas olhariam por um tempo, até a indiferença voltar-lhes. Curioso, nunca soube de um espírito com tanto desapego por seu próprio corpo.

quarta-feira, julho 30, 2008

Esboço

Sempre imaginei como seria quando fosse mais velho, ansiava por isso. Mas, agora que eu não preciso mais esperar por isso, o tempo passou e a vida, bem... as coisas nem sempre saem como esperamos. Não consigo mais lembrar do meu passado, às vezes esqueço até dos últimos cinco minutos, nem mesmo em momentos de emergência, outro dia num cruzamento, em um meio fio qualquer, fiquei completamente desnorteado, não sabia pra onde ir, nem porquê havia saído de casa. Todo o conhecimento, tudo, está indo embora, é um disparate dizer que levamos cultura pro túmulo, não vou levar nada, ninguém leva, quiçá os faraós. Até a morte, à qual eu mantinha reverência e que me causava tanto medo, quando chegar será um estranha.
Jamais me preparei pra falta de consciência, me distenciei do meu corpo, e só percebi porque a mão de um estranho, eu mesmo, tocou meu ombro, como se a alma estivesse descolada do corpo, olhando-o de frente. Desesperei-me pra retomar meu corpo, que o passado e as memórias vão pro inferno - só Deus sabe o quanto deles eu gostaria de esquecer - pelo menos que o meu corpo seja meu. É que ainda insisto em viver.
Um dia consegui lembrar de um beijo, o toque macio dos lábios de alguém, quem eu já não sei mais, mas com certeza era macio, macio e morno, foi como se voltasse àquele momento de se perceber homem pela primeira vez, devo ter ficado tão desconcertado quanto. Mas a pele do meu rosto vincada e a barba, tão clara, me lembram do tempo, do quanto ele passou, mesmo assim demoro pra entender que são meus olhos, pequenos, escuros, meu nariz, até entender que sou eu no espelho.
Então envelhecer é assim? Nenhuma serenidade, nenhum amadurecimento. Eu não consigo lembrar como são esses estados de espírito. Só da humanidade, dela e algum desejo, o qual eu sinceramente espero ter algum dia saciado, pra, pelo menos antes, tê-lo sentido realizado. Não com ela, me envergonha tê-la desejado, diz ser minha filha, a bem da verdade, poderia dizer ser a Lua e eu só poderia agradecê-la a visita. É tão bonita...

quinta-feira, julho 24, 2008

Momentos Kodak

- Olha só, que bacana, tem uma revista dessa pra mim também? Se eu puder escolher, quero ficar igual ao Gianechinni.
- Amigo, a menina vai fazer maquiagem, não cirurgia plástica.

sexta-feira, julho 18, 2008

Sitcom Writting

Ai, de ti se não me amasse. Que foi? Pára! Tá, tá bom. Eu te amo, grande coisa. Ai, ai, me solta. É... eu fico sem graça... mas eu tava falando pra valer. FOI, vai embora que é, cê vai se atrasar. Nós não precisamos discutir isso agora... As palvaras que vivem me escapando... mas de alguma forma eu iria dizer ... algum dia. Ia sim, é que as vezes cê me dá nos nervos e eu sou inseguro e paranóico, e eu trabalho demais e eu não sei ser gentil, e eu posso não ser o que você tava esperando, aí eu volto pra parte do inseguro e paranóico, mas eu não faço drama, eu não sei fazer drama, eu não sou o cara das grandes cenas, eu sou o das pequenas coisas, eu me preocupo com as muitas pequenas coisas, e eu sou aquele com quem você pode contar, porque se você não tinha certeza, tenha, você pode contar comigo, e é só assim que eu sei demonstrar, porque eu acho que essa é uma forma de demonstrar amor, não é das mais comunicativas, mas pelo menos é a uma em que eu sou bom. Pronto, falei tudo, agora VAI.

quarta-feira, julho 16, 2008

Um sonho

Ele levantou e se dirigu à cozinha, a porta dava pro mato e em tudo havia cores de tinta ao invés de mundo. Entrou no mato porque havia um brilho estranho vindo de lá. De forma alguma aquela mulher sentada na pedra era sua mãe, mas ali ela era, tinha um sorriso doce e os seus pés estavam em chamas, um fogo azul. Ela continuava sorrindo e ele sentia o calor aumentar "Não se preocupa filho, mamãe tá bem". Houve um clarão

sábado, julho 12, 2008

Sitcom Writting

Sabe quando teus pais te comparam a algum parente mais bem sucedido? Bem, comigo coisa é um pouco pior, meu pai, sempre que me vê, o que deve acontecer umas três, quem sabe quatro vezes ao ano, lembra de uns dois primos que eu não vejo desde a infância. O máximo que sei deles atualmente é que, segundo minha irmã, são feios feito o cão, fora isso não lembro nem do nome de nenhum dos dois, mas os feitos deles nunca passam despercebidos. O mais novo agora é engenheiro no ITA e quando era mais novo participou de uma tal olimpíada de astronomia... na Rússia. Não importa se o meu pai nem sabe o que é astronomia, o que importa é que o menino esteve lá. Quem diabos concorre numa olimpíada de astronomia? Aliás, quando que criaram uma? Pior, eu sou incapaz até de encontrar o cruzeiro do sul. Com o outro é pior, porque agora ele é rico, com trinta e poucos anos virou juiz do trabalho, ganha um dinheiro obsceno, daí ele me pergunta quanto eu ganho e tenho de explicar que faço trabalho voluntário... "Mas eu tenho um capítulo num livro que vai sair agora em setembro e... Não, não vou receber nada pela venda.... Ah, vou trazer uma cópia, passei três meses... É... a cerveja tá demorando... Não, eu continuo não bebendo... Pai, você precisa ser advogado pra fazer um concurso desses... Eu larguei a biologia pra fazer comunicação... Eu trabalho com pesquisa... É, eu também trabalhava com pesquisa em biologia, mas na comunicação... É, é um absurdo a cerveja chegar quente...".
Me lembrou de quando eu tinha dezessete anos e comuniquei que havia passado no vestibular pra biologia "Ah, brigado pai... Quê?! Não pai, não é profissão de gente doida...".

segunda-feira, julho 07, 2008

Ele sempre sabia quando ela estava chegando, tentou surpreendê-lo várias vezes, sem sucesso algum, era como se ela emitisse um som que passava despercebido à todo o resto, mas para ele seria o som de guizos. Sempre tinha a mesma resposta toda vez que ela queria saber como ele advinhava, não perguntava por insistência, apenas esquecia que já havia feito a mesma pergunta, ele sorria, passava a mão em seu rosto "É porque você é minha" .

segunda-feira, junho 30, 2008

Momentos Kodak

- Titio Rapha, olha o que eu fiz.
- "Ah meu Deus, não mata o moleque". Olha só, você pode expressar a sua criatividade, mas não na coluna de madeira da casa da tua avó.
- Mas é uma estrada.
- "Ignora". É, olha só, até tem gente habilitada a desenhar e esculpir em madeira, o que não é o seu caso, então, pelo menos aqui nesse espaço, por favor, restrinja-se a desenhar no papel.

quinta-feira, junho 19, 2008

Momentos Kodak

-Amigo, namora comigo.
-Mas eu sou viado Polly.
-Ai amigo, não vai ser o primeiro que eu pego.

terça-feira, junho 03, 2008

Momentos Kodak

-Ai amigo, tira essa maldade do coração.
-Eu?! Pra quê?! Ela que me faz feliz.

domingo, junho 01, 2008

Momentos Kodak

-Meu horóscopo disse que eu sou uma pessoa saltitante. Dá pra acreditar nisso?
-Ué, mas e as pessoas do teu signo que forem paraplégicas?
-Oh, Rapha...
-Olha, ali tem um menino numa cadeira de rodas cê pode perguntar pra ele...

Momentos Kodak

-Toma.
-Que isso?
-Mentas, não tá vendo?
-Pra quê?!
-Praquela mulher sair da porta de casa.

quarta-feira, maio 28, 2008

Em algum momento entre a vigília e o sono, ela ouviu algo como o som da porta sendo aberta, devagar, a visão turva, ela levantou a cabeça...

sábado, maio 24, 2008

Acho que eu pularia, uma vez ela me disse que encostar numa sacada, as vezes, dá pra sentir uma súbita vontade de pular. Ela não falou nada disso, na verdade, ela escreveu, eu que gosto de pensar que ela falava pra mim. Uma amiga morre de medo de sacadas, ela deve pensar em pular também. Mas então a história ficaria muito mais próxima da tragédia e eu queria tanto que fosse uma comédia, com final previsível, nada literariamente desafiador nem inovador, isso é para os grandes autores. Termina assim: "Eu tenho uma cama legal, uma tv e ... se cê quiser eu posso comprar biscoitos".
O seu perfume era inconfundível, ela nem podia evitar, sempre que saía do banho estava com aquele cheiro, de coisa nova que atrai a curiosiodade. Ficava trancada no quarto após o almoço, fingindo que dormia. Sempre esperando por ele, mas ele nunca vinha, só o cheiro dele que invadia as narinas, suor de homem, parecia que vinha dela, não havia como se livrar...

domingo, maio 18, 2008

As vezes eu quero esquecer que esse blog é meu, mas isso coincide com os dias em que eu quero esquecer que eu existo também. O fato é, as vezes eu me odeio, felizmente não é sempre, mas isso se agrava pela comparação, todo o resto do mundo, pelo menos aquele que me cerca, parece se amar tanto e faz isso parecer tão fácil. Amadurecidos e com tanta certeza do que querem, parece que só eu sou relutante, pior, que só eu estou com medo. Na verdade, eu ando apavorado, apavorado e frágil e triste e sem apetite. Sem cuidado.
Porque se os meus planos não derem certo, e todo mundo tem plena confiança de que darão, então o que terá acontecido? Terá sido a vida, que as vezes é simplesmente cruel, e terá feito as coisas simplesmente não darem certo. Não tem como usar simplesmente de razão, medo é algo que tira todo a razão do ser humano, a única coisa que sigo fazendo é trabalhar, talvez seja única garantia de que os planos possam dar certo.

Insensatez

Ah, insensatez que você fez
Coração mais sem cuidado
Fez chorar de dor o seu amor
Um amor tão delicado
Ah, por que você foi fraco assim
Assim tão desalmado
Ah, meu coração, quem nunca amou
Não merece ser amado
Vai, meu coração, ouve a razão
Usa só sinceridade
Quem semeia vento, diz a razão
Colhe sempre tempestade
Vai, meu coração, pede perdão
Perdão apaixonado
Vai, porque quem não pede perdão
Não é nunca perdoado

Composição: Vinicius de Moraes / Antonio Carlos Jobim

terça-feira, maio 13, 2008

Você já vai saber. É aqui. Não, não tem mais nada e, mais importante, não tem mais ninguém. Queria esquecer tudo. Não, não vai funcionar pra sempre, eu já sabia disso. Deita do meu lado. Não sei, mas pelo menos hoje vai ser assim. Consegue ouvir o mar?

sábado, maio 10, 2008

Ducentésima Postagem

É só ela que escreve pra mim, já faz tanto tempo e ainda sim eu fico sem jeito de abordá-la no meio das pessoas. É quase o mesmo que não falar com ela nunca, porque tem sempre gente a sua voilta, ela é muito querida, gostaria que ela soubesse que por mim também. Não nos vemos como antes e justo agora que precisavámos nos ver mais, é culpa do tempo.

quinta-feira, abril 17, 2008

Blueberry Nights

De alguma forma ela sempre enxergou sua própria vida como um filme, talvez porque a divina providência sempre lhe propiciou trilha sonora nos momentos certos, chuvas fora de época para os dias de inexplicável tristeza e homens bons, porém não exatamente o certo. Naquela noite, com a iluminação perfeita, ela adormeceu, o homem certo lhe roubou um beijo, depois passou sem ser percebido. Ela só lembrou da sensação de algo macio.

domingo, abril 13, 2008

E com muito boa vontade ele levantou para ver o dia nascer. Não podia ter feito escolha melhor, o sol brilhava, garantindo que ainda existia e que continuava a dar vida a tudo que se movia por aquela terra que parecia cinza por tantos meses, era a aparição estratégia do deus Sol, para que não esquecessem dele, garantindo a renovação da esperança durante todos os outros dias cinzentos. Assim, enganou-se com mais uma promessa de dias melhores.

quinta-feira, abril 10, 2008

De pé, ele enxerga o sol, as nuvens e ouve o barulho das ondas, nesse instante ele lembra que está vivo e percebe o choro contido. O som das ondas batendo nas costas ameniza a dor. Nem ao menos percebeu que havia entrado na água. Essa deve ser alguma forma de amor, pena que jamais lhe ensinaram que ele também pode ser belo e, quem sabe, trazer alguma espécie de felicidade. Só sabe a dor do amor, tão próxima da morte, talvez por isso sempre esquivou-se dele. Sempre houve esperança de um tipo de amor diferente, ainda inacessível, mas em algum ponto ele o alcançaria. Porém, nesse momento, com as ondas arrastando-o de novo para a praia, quase não consegue lembrar disso. Sente-se feliz por esquecer da dor, da morte. Antes de desmaiar ainda consegue olhar pra cima e ver um pouco do sol, quem sabe tentou absorver um pouco do calor antes dos olhos fecharem. Sente uma mão tocar no seu ombro, o mundo continua escuro e ele descobre que a morte, na verdade, é cinza.

domingo, abril 06, 2008

Eram oito da manhã e eu já estava consciente de que havia acordado. A metade vazia da cama me deixou irritado. Tentei de tudo, mas o tempo inteiro lembrei que não tinha, nem vou ter, você. Cansei dos toques sutis, das provas de afeto circunstanciais, isso é crueldade, mas eu já sabia que você é cruel.

segunda-feira, março 31, 2008

Antes de te acordar olhei pra janela, o quarto já estava bem claro. Levantei o lençol, observei tua costa nua, passei os dedos por toda a extensão dela, quase sem tocar, depois passei a costa da mão, notei um arrepio, como se fosse algo gelado, mas você tinha uma expressão de gozo, fiquei maravilhado, repeti outras vezes e o mesmo aconteceu, a minha casca não faz essas coisas, pra isso preciso do outro.

sexta-feira, março 28, 2008

Momentos Kodak

- Olhaaaa, ela já tá começando a falar
- Pronto, já vai começar a desgraça...

quinta-feira, março 06, 2008

Toda vez que nos falamos tento engatar um assunto no outro pra impedir que você diga "Tenho de ir", mas nessa horas eu me torno estranhamente parvo, estático, esperando que você faça, de surpresa, alguma declaração. Então você vira pro lado, aperta minha mão e diz "Tenho de ir".
Ficamos lado a lado e nada se fala, até você virar pra janela pra ver as pessoas que passam, e eu fico com as mãos unidas, olhando pros meus polegares passando devagar um sobre o outro, repetindo pra mim mesmo que eu preciso arranjar algo interessante, talvez até importante pra te dizer, mas pra não correr o risco de dizer algo idiota eu fico calado. Passo a língua nos lábios como se preparesse pra dizer alguma coisa, mas você fala antes e eu só sorrio em resposta.
Admito que eu odeio filmes violentos e de horror, porque com esses últimos eu sonho, não importa o quão imbecil, ele sempre vai invadir meus sonhos, você acha isso engraçado. Percebe que eu estou gripado "Como é que eu posso viajar com um menino frágil desses, que fica doente à toa?". Falar da minha fragilidade é cruel, me faz lembrar que ela existe, justo eu que tento abandoná-la de qualquer jeito.
Falar sobre o tempo não funciona mais. Não gosto de algumas coisas que você faz, nem da paranóia com a cidade, nem de algumas opniões. A verdade é que eu simplesmente gosto de você, porque, fora alguns filmes, não gostamos de nada em comum, somos uma certeza de futura incompatibilidade de gênios. Mesmo assim, eu gosto de você.

domingo, março 02, 2008

Momentos Kodak

- waaahhahahwaaaa
- Muito bem, você é muito boa em fazer barulho enquanto eu tento assistir um filme.
- awawawahahawa.
- É, é bom ter reconhecimento, né?
- wawawa.

sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Nightmare Boy

Tá bem, tenho 25 anos (quase, mas já tá mais pra 25), desempregado, alguma inclinação literária e uma vida amorosa desastrosa, receita de filme indie, ou seja, a vida de quase todo mundo. Quanto a vida literária ela é atrapalhada pela falta de amadurecimento, o blog é livre tudo bem, mas quem o lê pode perceber a forte inclinação à diário de menina de 15 anos. Levando a insegurança quanto a qualidade e ao talento, sigo com o blog, é importante pelo menos permancer exercitando.
A amorosa é um pouco mais agitada, não muito, mas pelo menos envolve pessoas, não que elas saibam que estão envolvidas. Pois bem, ela pode ser resumida mais ou menos assim: nos momentos em que estou apaixonado por um gay, ele provavelmente não gosta de mim, quando o carinha é hétero, ele provavelmente gosta de mim, só que, logicamente, o tanto quanto é possível para um heterossexual; meninas não vão entrar na explanação porque, nesse caso, eu seria mais um problema pra uma delas do que o contrário.
Estou na fase do menino hétero. O que gera conversas no msn do tipo:
Strokes:
Pq tu não tomas uma inciativa?
Cosmo:
E fazer o quê? Esperar a mãe dele sair da sala e enfiar a língua na orelha dele?
Strokes:
Homens heterossexuais dizem que mulher é gostosa e coisas do tipo.
Cosmo:
Não acredito que todos os homens heterossexuais sejam vulgares, mesmo que ainda não tenha encontrado um que fuja do estereótipo.
Ou:
Lu:
Ai, e quando finalmente encontra-se um bonitinho, ele se acha.
Cosmo:
Pois é, que custa ter um menino meio indie, bonitinho que não seja retardado né?
Lu:
Ah, ninguém faz meu tipo aqui.
Cosmo:
É, o problema é que vivemos numa cidade cheia de homens bagulhados!
Aí dá pra entender a comparação com meninas de 15 anos, com a diferença de poder beber sem precisar se esconder, e fumar por pura neurose ao invés de "ser" rebelde. Imagino que aos 35 isso envolva um pouco mais de dinheiro, senão não vale a pena.
A verdade é que ando um pouco cansado de ser o ex namorado perfeito, sabe aquele que depois de alguns meses, às vezes mesmo anos, o alesado descobre que era muito legal, pois é, ele, no caso eu, provavelmente não te ama mais. Pior, de ser o amigo mais legal, porque no fundo eu nem sou tão legal assim, é só o desejo de aproximação amorosa que me faz ser mais simpático, na verdade, eu quase nem sou simpático. Além disso, já dá trabalho o suficiente cuidar dos amigos que eu tenho e vez por outra alguém é negligenciado. Então ficamos assim, não sou seu amigo, só sou amigo dos meus amigos.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Estrada

- Bom, já que vocês são muito corajosos vou ajudá-los. Vejamos... Aah, ali, aquela parede.
- O que ele está fazendo com a pasta...
- Uau!
- Antes de vocês passarem pro outro lado, preciso saber se estão bem equipados. O que vocês levam aí?
- Ah, temos comida, binóculos, roupas e lanterna.
- E walkie talkie...
- É, walkie talkie também.
- Ah, que bom estão bem equipados, mas vou lhes dar dois presentes essenciais. Vocês não deveriam ter saído sem eles. Tomem.
- Um guarda-chuva! Que bacana, como eu esqueci disso.
- Tá, mas o que é isso aqui?
- Que absurdo criança! São clipes de papel. Como pode você não saber o que são clipes de papel? São instrumentos importantíssimos, eles têm aproximadamente mil utilidades, mas cada um só pode sre usado uma vez e aí só tem duzentos e cinquenta, portanto sejam cautelosos ao usá-los.
- Aaah, puxa, obrigada.
- Agora podem passar, e muito boa sorte.

sábado, fevereiro 09, 2008

Estrada

- Moço!
- Ô moço!
- Ah, olá jovens.
- Moço, ajuda a gente.
- E vocês precisam da minha ajuda pra que?
- Nós queremos chegar na terra do outro lado.
- Na terra do outro lado? Mesmo? Mas lá é perigoso.
- É que nós queremos ler o livro do início do mundo.
- Vocês vão ter muito trabalho para encontrá-lo. Precisam conversar com o morto do meio do bosque.
- Ei, cê não me falou de morto nenhum
- Shhh, fala baixo, eu nem sabia dele.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Estrada

- Olha, aquele dali.
- Qual?
- O grandão.
- Ué, por que ele?
- Porque sim, vamos falar com ele.
- Nossa, de perto ele parece muito maior...

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Em Andamento

"Literata e histérica" era assim que estava escrito num conto de Onetti, era exatamente assim que ele se sentia. Suas equivocadas tentativas de dar alguma grandiosidade a sua vida, o tamanho descomunal que os pequenos problemas tomavam, a ânsia por um drama genuíno, porém, tudo esbarrava numa vida livre de quaisquer acontecimentos grandiosos, nada jamais passava da ordem do comum.
Se fosse descrever-se, precisaria começar com os adjetivos "literato" e "histérico", primeiro para dar-lhe ao menos um certo senso de profundidade ao evocar um autor um tanto esquecido, depois porque era verdade.
Gastava muito tempo contando histórias a si mesmo. Desejava ser escritor, porém suas ambições literárias esbarravam em uma falta de voz própria e, quiçá, talento. Isso o deixava ainda mais desesperado. Punha-se em todas as histórias que lia ou assistia, imaginava-se fazendo parte daquele mundo, pelo menos como um figurante com um pouco mais de destaque "Eu estaria pronto para deixá-los passar, saberia que os dois precisavam de ajuda e os rostos iluminados pela paixão sentida pelos protagonistas me convenceriam de que eram boas pessoas". Seria tão bom viver num mundo que tivesse trilha sonora.
As vezes corria alguns riscos, pequenos, porém significativos em sua vida. Fechava os olhos enquanto andava, até bater em alguma coisa ou ser assaltado pelo medo de alguém surpreender-lhe andando de olhos fechados, as pessoas não compreendem. Elas jamais compreendem.
Pensava no futuro, com a certeza de que o que lhe falta seria uma certa maturidade, essa quando alcançada lhe abrirá as portas de tudo que lhe parecia mais obscuro no presente. Conseguirá se expressar com desenvoltura, todos irão compreender que era uma sensibilidade discreta aquilo que lhes causava estranhamento em relação ao menino. Mas, por enquanto, ele era como Onetti descrevera: "Literato e histérico".

sábado, fevereiro 02, 2008

Estrada

- Vamos.
- Pegou tudo?
- Tá tudo aqui.
- Deixa ver?
- Roupas, comida, lanterna, binóculos e walkie talk.
- Lanterna, binóculos e walkie talkie?
- É, tudo que a gente precisa. Vamo?
- Tá, vamos.

quinta-feira, janeiro 31, 2008

Momentos Kodak

- Credo, ele tá dando a entender que não quer a gente na casa dele!
- Você está enganado, eu estou falando claramente que não quero vocês na minha casa...

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Sorvete

Naquele dia decidiu tomar um sorvete, a cidade inteira parecia cair sobre ela, a chuva torrencial a oprimia, os lugares para se proteger da chuva, com excessão da sua casa, eram sufocantes, por isso mesmo o sorvete era ideal, aquele de creme meio sem gosto do McDonald's com uma porção de M&M's dentro.
Vestia uma blusa leve com estampa de flores discreta, uma saia na altura dos joelhos e sandálias de dedo, roupa de usar em dias quentes. Levava também um guarda chuva bem grande, preto e branco. Bastava pensar que era um dia sem essa chuva, cujo maior problema era criar uma tendência a depressão, que afeta muitas pessoas, ela inclusive.
Resolveu que iria andando, quando chegou, resolveu seguir em frente, parar no próximo quem sabe, andou e andou...

sábado, janeiro 26, 2008

Momentos Kodak

- Pára com isso?!
- O quê?!
- Menino, pára de jogar os bichinhos na criança.
- Mas ela adora, tá rindo, ó só.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Bloqueio na Hora de Escrever

Ela sentou, decidia a escrever, entendia que a única forma de vencer a falta de inspiração era começar a escrever. Decidiu também que iria fazê-lo à moda antiga, pegou uma meia dúzia de folhas para fazer tudo manuscrito, em menos de cinco minutos já estavam todas no chão. configurando a clássica cena do escritor com bloqueio. Optou pelo caderno ao invés de pegar mais folhas, o barulho das folhas arrancadas preenchia um pouco o lugar. "Nessas horas eu deveria fumar", sempre teve a impressão, um misto de cientificismo e conhecimento leigo, de que o cigarro serviria para clarear as idéias, mesmo assim nunca fumou.
Lembrou de um filme, cujo nome e a maior parte da ação já havia esquecido, em que um escritor era trancado pelos filhos em um fosso com comida e sua máquina de escrever, para forçá-lo a voltar a escrever, também lhe deixando o conselho de que sempre poderia começar com a senteça "The cat sat on the mattress...". Não achava os gatos animais especialmente inspiradores, mesmo com toda sua simbologia, não gostava muito de simbologias baratas também.
Pediu a Roberto que lhe trouxesse um pouco d'água, mas aparentemente ele só escutara "Roberto, #+$*/@& ?" , porque seu único movimento foi levantar o controle e mudar o canal. Experimentou perguntar se ele gostaria de fazer sexo desesperado e exibicionista para os vizinhos do prédio em frente, mas o efeito foi o mesmo. Pediu que ele colocasse na MTV, o que foi atendido, espantosamente, no mesmo instante.
Resolveu que o início do seu texto seria "Meu namorado é um idiota...", colocou a personagem principal as voltas com um namorado chamado Roberto - não importava trocar o nome, ele jamais lia o que ela publicava - um homem que em muitos aspectos lembrava Ken, o ex-namoradinho da boneca Barbie, com os adicionais anatômicos que os pobres bonecos não possuiam.
Cansada da falta de sensibilidade do namorado sua heroína recorreu a um terreiro de macumba - um conhecido por fazer coisas que os outros terreiros jamais ousavam fazer - mas não queria poções de amor nem nada do tipo, pediu somente que ele pasasse a comprendê-la. Advertida de que o que ela pedia não teria volta, foi para casa e completou todo o estranho ritual que exigia coisas, que até mesmo uma mulher liberada como ela não costumava fazer. Depois bastava esperar uma semana e a transformação ocorreria.
Na quinta feira em que completava uma semana do ritual, foi acordada por um grito de agonia, correu para o banheiro de onde o som estava vindo mais forte. Encontrou Roberto jogado no box, o chuveiro ligado, com as pernas enconbertas pelo plástico, chorando, jamais poderia imaginar que o efeito seria tão traumático. Tentou acalmá-lo, perguntou o que estava acontecendo, mas quando percebeu o terror genuíno e a vergonha com que ele pedia para que não se aproximasse, percebeu que algo mais grave acontecia. Ajoelhou-se no box junto ao namorado, deseprada, perguntava o que estava acontecendo.
Depois de muito tempo, ele afastou o plástico e ela pôde ver o impensado, no lugar do pênis havia um nada, ele se transformara em uma cavidade feminina, com um indiscutível ar virginal. Eles não foram ao respectivos trabalhos esse dia, ele não voltaria nunca mais ao escritório, tinha certeza de que notariam, algo denunciaria que ele não era mais homem e logo começariam os boatos sobre sua sexualidade e sobre a pobre namorada que nem devia desconfiar que era enganada.
Foram quatro dias para convencê-lo a ir ao médico, parte do tempo foi decidindo qual se um ginecolgista, porque , afinal, agora ele tinha um pequena vagina, ou um urologista, que talvez por algum golpe de sorte já teria encontrado caso semelhante. Por fim decidiram-se por um psquiatra que talvez os acordasse daquela alucinação em conjunto. No final, nenhum dos três especialistas conseguiu uma resposta convincente, mas também nenhum deles acreditou seriamente nos dois, exceto o psiquiatra que acreditava estar diante de um caso de disturbiu de percepção apresentado por um casal onde um era transsexual do feminino para o masculino.
As outras transformações foram ocorrendo aos poucos e causaram menos surpresa. Não faziam sexo, umas vez tentaram, com resultados desastroso para a estabilidade emocional de Roberto, que irrompeu em uma crise de choro, clamando que ainda era um homem, coisa que sua anatomia já desmentia quase completamente nessa época.
Seis meses depois não havia mais jeito, Roberto era mulher por inteiro, já até se acostumara a ter fluxos. Dois sentimentos a invadiram, o primeiro foi o remorso, porque gostava do namorado e agora não poderia mais ficar com ele, até mesmo usar esse pronome agora era errado, e o segundo, e mais incômodo, foi a inveja, sabia que era sua culpa por ele estar daquele jeito, que ele não havia escolhido aquilo, mas inveja o resultado, os seios mais empinados, as pernas sem marca alguma de celulite, a altura, Roberta era uma mulher para ser exibida na rua.
Não aguentou, teve de abandoná-la, juntou suas coisas e lhe deixou um bilhete "A culpa foi minha". Alguns meses depois viu Roberta na TV, virara modelo de sucesso como era de se esperar.
Terminou de escrever e acreditou sinceramente que estava entrando em alguma espécie de loucura desenvolvida no cotidiano. Juntou as poucas coisas que tinha na casa de Roberto, até a escova de dentes de viagem. Falou "Tchau!" que deve ter soado como "@#$%!". Deixou um bilhete "Meu namorado é um idota".

domingo, janeiro 20, 2008

Momentos Kodak

- Se nós não sairmos daqui agora é capaz de eu ter um ataque epilético.
- Meu filho, você não tem epilepsia.
- Ainda posso manifestar...

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Leve

Ela entrou no salão sozinha, nem todos se viraram para olhá-la, isso só acontece nos filmes, mas os que não a viram de imadiato perderam um dos fatos simples que geram epifanias - uma bela mulher em roupas leves entrando em um salão. Os conhecidos logo a chamaram, havia esquecido o quanto eles eram ruidosos.
Dançou bastante, de olhos fechados porque a luz feria os olhos. Dançou sozinha, porque os ruidosos eram apenas conhecidos e não os queria por perto, também porque os homens do lugar foram tomados pela insegurança que uma mulher como ela causava, intensificada por sua total ignorância do efeito que causava.
Era só o que queria, dançar. As vezes, abria um pouco os olhos para ter a impressão de que o lugar estava preenchido com estática quando os fechasse de novo. Às 6 voltou para casa, atirou os sapatos pela sala, a bolsa num móvel qualquer, ligou o som baixinho, para não atrapalhar o sono, algo doce para se sentir embalada. Dormiu como alguém liberta de um longo tempo insone.

terça-feira, janeiro 15, 2008

9 p.m

Não tem nada que eu já não tenha feito por você, amor próprio é uma coisa que esqueço com uma facilidade desconcertante quando estou apaixonado. Parece que os ouvidos ficam surdos ao "não" mais sonoro que o outro possa me dar, é a mesma coisa que dizer "estou dizendo 'não' , mas tem um 'sim' nas entrelinhas, entenda-o e continue insistindo comigo, porque só aí é que eu serei seu".
Então passo pra estratégia de te vencer pelo cansaço, convenhamos que a contemporaneidade me dá ferramentas para levar isso ao extremo, existe o msn, o orkut, o seu blog, o meu blog, o seu fotolog, o meu fotolog - um desses eu não tenho, mas é a coisa mais fácil de arranjar. A verdade é que não há escapatória, ou você me ama de volta ou me bota numa medida cautelar. Meus óculos são novos, não me preocupo de observar à distância.
Terapia não ajuda não, porque apesar de tudo sou inteligente, é muito pouco divertido alguém com Q.I abaixo do seu tentar resolver seus problemas. "Você está claramente deprimido", "Minha nossa! Você precisou de seis anos de universidade e cem reais pra me dizer isso? Pelo menos me prescreve algo que abata um elefante pra eu achar que essa consulta valeu a pena".
Não seria pra usar em você, porque eu também não sou baixo dessa forma. Álcool tudo bem, boa-noite-cinderela não. Existem alguns poucos limites a serem respeitados, os do código civíl por exemplo. Que mentira, esses eu quebraria também, só pra correr o risco de você sofrer de síndrome de Estocolmo. Relação aberta também está entre as coisas fora de cogitação, mas essa eu acredito que você tinha a obrigação de ter deduzir sozinho.
É isso, amar de forma esmagadora, estúpida e patética. Desses adjetivos o que mais me dói é o patético, mas eu supero isso. E você me ama de que forma? Ao menos me ama?
P.S: Total verborragia.

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Tava pensando em como criar uma história, sem depender da velha inspiração, mas algo construído, pensado do início ao fim, não completamente isento de inspiração, mas não totalmente dependente dela.
Tarefa árdua, porque exige muito conhecimento e fiquei sabendo, segundo o Adolfo Bioy Casares, que faço parte da nova leva de futuros intelectuais, aqueles que trocaram o grego e o latim, pelo inglês e o francês. Isso é uma droga, porque eu queria fazer parte daqueles primeiros, eles sim eram bons, não queria somente me inspirar neles, queria ser um deles, com o talento e tudo mais.
Sempre acontece de ler coisas que eu gostaria de ter escrito, tem dois autores cujos textos sempre fazem, a Clarice e o Caio, não são todos os textos, mas vários tem trechos ou abordou temas dos quais eu gostaria de ter escrito, porém, não simplesmente escrito do meu jeito e sim daquele jeito, do jeito deles. Mesmo assim não gostaria de ter sido nenhum dos dois, queria ter feito parte da geração do início do século, os que sabem grego e latim.
A verdade é que não sou escritor, nem pretendo ser. Meu futuro provavelmente se encaminho pelo ensino superior, o blog é apenas o meu canto de alívio das idéias, a Ivana Arruda Leite escreveu uma vez no dela falando sobre "escrever no blog", disse que colocar esse pensamentos soltos lá, ajudava a concentração pra fazer as coisas de fora. Acho que o meu passa por aí, nesses últimos tempos, infelizmente, as coisas de fora não me deixavam colocar coisas aqui. Felizmente as férias chegaram.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

História Qualquer

Hoje é o terceiro dia que passo pela estrada próxima ao rio e ele está lá, parado, só olhando pra outra margem, ou pra qualquer outra coisa que eu sou incapaz de advinhar. Minha preocupações egoístas giram em torno das possibilidades do que pode acontecer entre nós dois: um, ele é um homem sensível que gosta de apreciar o pôr do sol e me fará muito feliz; dois, ele é um parvo, desocupado e será no mínimo desestimulante ouví-lo. Em todo caso tudo ainda está restrito ao campo das possibilidades, porque eu mesma, sendo retraída, não vou lhe dirigir palavra, mesmo porque uma estranha que se senta ao lado de uma pessoa, do nada, no momento seu momento de reflexão, caso seja o que faz, seria pelo menos incômodo. Odeio ser incômoda.
Um dia eu tive certeza que ele me ollhou na hora em que eu passava, uma olhada discreta, talvez até demais, porque eu estava particularmente bonita. Meu Deus, será que ele não se agrada por mulheres? Não seria a primeira vez... Espanto essa idéia, é muito desanimadora.
Interessante, notei que estava descalço hoje. Será que está sempre assim?
Ontem choveu, passei pelo mesmo caminho mesmo assim, havia uma pequena chance dele estar lá, mas as probabilidades quase impossíveis não me ajudaram, ele não estava. Fiquei no lugar dele, de pé, mas o vento próximo da margem é muito forte, quase leva meu guarda chuva. Tentei procurar o que ele vê, mas a posição devia estar errada, ele sempre fica sentado, o clima não ajudava, mal dava pra ver o outro lado da margem, fui embora logo.
Final de semana é horrível, são dois dias inteiros sem a possibilidade de vê-lo. É patético, mas admito que estou apaixonada por uma imagem, porque por enquanto ele não é mais nada que isso, sem cheiro, sem voz, até agora ele só me veio aos olhos, mas é através deles quem vem o amor, não preciso de mais nada além disso pra saber e admitir que amo.
Ao menos respira? Tenho de prestar atenção se o peito se movimenta, nisso e nos sapatos. Respira e pisca, vive, os sapatos ficam na grama, é um homem que usa sapatos, mesmo sendo despojado ele prefere sapatos. Sei tanto sobre você, como se soubesse desde sempre e apenas relembrasse aos poucos, me desculpe por ter esquecido, é essa vida que nos faz esquecer das coisas importantes.
Admito também pensamentos impuros. Ora, sou mulher não sou?Por que não haveria de tê-los?
Hoje ele me notou, tive certeza, não foi um simples olhar de esguelha, ele virou o rosto na minha direção e me viu passar. E eu despreparada, foi cedo demais pra um encontro desses, se ao menos eu estivesse de sobreaviso, uma mudança de posição, qualquer coisa que indicasse que hoje ele me olharia e seus olhos castanhos, - agora ele se torna mais real, tem olhos castanhos um pouco orientais - não me supreenderiam, foi um olhar súbito, depois voltou a procurar o que quer que seja que procura do outro lado, se é que procura alguma coisa.
Hoje foi horrível, terrivelmente insuportável. Quem era ela? Por que ela estava ali perto dele? Falava histericamente, só o vi balançar um pouco a cabeça, nem se dignava a responder propriamente àquela mulherzinha. Que ela fazia ali? Nem amigos poderiam ser, era vulgar demais para ser amiga dele. Não pense que não vi, ela te beijou, beijou nos lábios e depois ficou rindo como uma estúpida. Como você teve coragem de me aprontar uma dessas? Fico doente com o seu descaso para comigo, é tão típico dos homens serem tão descuidadas com as mulheres. Ela não te conhece.
Está decidido, eu nunca mais passo por ali.
Passei mais algumas vezes, mas por mera necessidade de ir ao banco que ficava justamente por aquele caminho, algumas outras porque a vontade de te ver não passa tão rápido assim. Preciso apanhar mais um pouco antes de esquecer minha paixão. Mas prometo, se nos encontramos de novo não vou mais esquecer dos detalhes, eles são importantes. Detalhes são muito importantes...