quarta-feira, maio 23, 2007

Home Sweet Home (Ficção Autobiográfica Hiperbólica)

Outro dia fui classificado como o filho "proletário", eu preferiria muito mais ser classificado de diletante, mas me faltam atributos artísticos para ser um. Fiquei intrigado sobre o significado de proletário nessa utilização e cheguei que significa que sou o pobre da história. Não que elas tenham muito dinheiro, mas com certeza nasceram com aptidão para trabalhar com ele, eu, infelizmente, só nasci com aptidão para gastá-lo.
Não considerei aquilo como uma ofensa, mas foi mais uma amostra do quanto é difícil não ter nascido com uma vagina dentada em uma casa em que todas elas parecem que estão prestes a te engolir. Pelo menos subi de posto, a progressão foi de autista para estranho para proletário, caso alguém tivesse curiosidade de saber.
Existem planos, infelizmente acredito que nehum deles envolve qualquer coisa incrivelmente bem sucedida na área financeira, mas com certeza uma distância minimamente segura das presas. Não que não haja alguma reciprocidade de sentimentos fraternos e maternos, só que a ameaça velada às minhas partes intimas e bastante estimadas - algumas vezes ao dia ao menos- desencoraja a progressão dos relacionamentos. Agora o que acontece se os planos derem errado?

sexta-feira, maio 18, 2007

Rilke

Na carta dizia "Volte-se paar si mesmo. investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raíxes até o ponto mais profundo do seu coração, confesse a si mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido de escrever. Sobretudo isto: pergunte a si mesmo na hora mais silenciosa da madrugada: preciso escrever? Desenterre de si mesmo uma resposta profunda. E, se ela for afirmativa, se o senhor for capaz de enfrentar essa pergunta grave com um forte e simples "Preciso", então construa sua vida de acordo com tal necessidade; sua vida tem de se tornar, até na hora mais indiferente e irrelevante, um sinal e um testemunho desse impulso..."
Ainda não consegui definir se as coisas para mim são assim. Antes eu nem pensava em escrever, comecei por acaso e descobri que essa é uma atividade que me consome, demoro a dormir porque fico pensando no que vou escrever, os pensamentos não me deixam descansar enquanto não forem tirados da cabeça e, no meu caso, passados para cá. Esse espaço, para mim representa escrever, e na maior parte do tempo uma das poucas coisa que eu genuinamente gosto de fazer. É curioso como algo que rouba o sono e o descanso também pode ser fonte de um prazer simples, mas viciante. Porém, para mim ainda falta essa reflexão profunda que responde uma dúvida que aind ame era desconhecida antes de ler essa carta. Agora fico me perguntando "É preciso?"

sexta-feira, maio 11, 2007

Caso do Vestido II

*Caso do vestido é um poema do Drummond, esse texto foi um trabalho para Literatura e Comunicação. O exercício era fazer em prosa uma versão da amante ou do marida (o poema mostra a versão da mulher).
***
Eu estava sentada na mesa quando a vi, ela veio até a minha casa de novo, dessa vez procurando por ele, mas há muito que já não o via, nem sabia por onde andava. Desesperou-se de novo, me pedindo para devolve-lo, mas lhe expliquei que não era mais meu, era do mundo de novo e que por lá ela deveria procura-lo. “Que fizestes com o coitado sua demônia?”, perguntou ela, “Muito pelo contrário, devias ter me perguntando o que eu não deveria ter feito. Não vês o quanto eu era distinta de ti, jovem e bonita e agora parecemos duas irmãs decrépitas” respondi.
Ela me olhou no fundo dos olhos e enchi-me de vergonha, cega pelo desespero nem notara o quanto irmãs tínhamos nos tornado. Contei-lhe tudo desde o princípio, quando ele me enxergara de passagem por sua cidade, naquela época em que os homens, para mim, não eram meus semelhantes, eram insetos que invariavelmente suicidavam-se na minha chama.
A malevolência da mulher, que faz um homem se render aos seus pés e enlouquecer, me era bastante familiar, mas a do homem, essa era uma completa estranha para mim. Pois mesmo a mais pérfida mulher jamais estará incólume de se apaixonar, mas o demônio na alma do homem é insensível, depois de obter o que quer esvazia-se de sentimento na mesma medida em que o outro se enche de esperanças de amor.
Eu não cederia as coisas estúpidas que ele, como todo homem, acreditava ser suficiente para conquistar uma mulher. Quando me veio com gabolices e juras vazias, mandei-o para casa. Depois queria comprar-me, encheu-me de ouro até que não conseguisse mais sair do lugar, tornando-se ainda mais aborrecido, mandei-o para casa mais uma vez.
Minha desgraça foram as amizades, que eu mantinha por perto muito mais por entretenimento, pois só se mantinham por perto para agourar os homens caídos. De tanto falarem, tentei olha-lo com outros olhos. Quando ela veio pela primeira vez, pedindo para que ficasse com ele, olhei-a com desdém, e disse-lhe com desfaçatez que o teria somente por causa dela.
Ele veio logo depois, continuava um tanto feio, com o olhar oblíquo e poucos cabelos, mas já não lhe era de todo indiferente. Deixei que ficasse ao pé de minha cama, mas logo estava por toda parte, tinha roupas e sapatos em meu armário e eu lhe preparava o jantar. Não me importavam mais colares e anéis, somente o homem deus que havia em minha vida.
Nos primeiros meses fui correspondida, adorada como uma deusa e amada também. Meu primeiro e único erro foi de uma inocência que não me era própria e, na verdade, desconhecida, uma jura patética de amor, escapuliu-me como se fosse um “bom dia”. Nesse exato instante, o brilho da paixão fugiu-lhe dos olhos, porém isso escapou-me aos olhos de mulher apaixonada.
O monstro do homem tomou-lhe as ações. Não ficava em casa, nem amava com a mesma intensidade, quase não me amava mais na verdade. Enlouquecida, roguei-lhe em desespero que parasse com aquela loucura, que me amasse como antes, mas só consegui que me olhasse com desdém “Tu és enfadonha”.
Ele levantou-se para ir embora, de joelhos me agarrei em seu corpo, implorando para que ficasse. Arrastou-me até que as forças me faltassem, segurando em seus pés e gritando que o amava, ele se soltou com um chute que quase me parte em duas. Fiquei jogada, chorando, vendo-o partir sem nem ao menos se virar.
Incrédula, sai procurado-o. Quase louca, entrei em igrejas pedindo ao Senhor que o livrasse de qualquer demônio que tivesse se apossado dele, mas o demônio era o do homem, e neste o Senhor não mandava. Encontrei-o algumas vezes, em todas fui rejeitada. Tentei toda sorte de convencimento, principalmente os desesperados, tentando fazer com que a pena o comovesse e fizesse voltar para mim. Porém, isso só lhe atiçava a crueldade, divertia-se com a minha humilhação “Então te matas por amor, assim levo teu corpo como troféu”.
Foi assim que nos tornamos irmãs. A dona se compadeceu de mim, abraçadas choramos por horas. Quando ia embora, perguntei-lhe das filhas, ela me contou que ainda eram pequenas, peguei o vestido que ele dizia ser seu favorito, havia guardado-o como lembrança, entreguei para ela e lhe disse “Leva, coloca num lugar onde tuas meninas possam ver. Para que elas jamais esqueçam quanta maldade há no corpo.”

quarta-feira, maio 02, 2007

Legalzão

Pois bem, cansado de ouvir sobre a minha legalzice e que é um absurdo estar solteiro, decidi complicar de verdade as coisas. Uma amiga tem uma série de pré-requisitos para o par perfeito dela, o meu tem de ter os seguintes:
* Ter lido pelo menos tantos livros quanto eu;
* Ter assistido pelo menos o mesmo número de filmes que eu;
* Respeitar o fato de eu acordar às 5:40 e ir para a academia e gastar em alguma academia pelo menos o mesmo tempo que eu gasto;
* Trepar ouvindo Lady Stardust, sabendo que música está ouvindo;
* Gostar dos meus amigos , mas não se envolver demais com eles, porque são MEUS;
* Não ter preguiça de ler o meu blog, mesmo quando é pura maldade o que está escrito;
* Não ligar pro meu guarda chuva gigante e desajeito com o qual eu vivo batendo nas pessoas;
* Ter menos t.o.c´s que eu;
* Não ser psicótico;
* Assistir Guerra e Paz e Munique comigo sem cochilar durante nenhum dos dois;
* Entender que eu não sou um pseudo-pobre deprimido, eu sou liso de verdade;
* Não usar nenhuma droga ilícita (caso daqui alguns a maconha seja descriminalizada ela permanecerá na minha lista);
* Aceitar que eu sou uma péssima companhia para comer (como pouco e sem muita variedade);
* Ter uma família menos doida do que a minha;
* Gostar de mim até nos dias de mal humor (sim, é muito difícil gostar de mim nesses dias);
* Não ligar quando eu surto (isso acontece com uma freqüência maior do que vocês imaginam);
* Aceitar que eu só vou parar de fazer peeling quando tiver pele de photoshop;
* Andar comigo, não se importando com a distância nem com a velocidade que me locomovo;
* Ficar comigo quando eu não quero sair a noite (algo bastante frequente também);
* Não bagunçar o meu cabelo quando tá grande, porque ele é fuá e não volta pro lugar de onde veio;
* Não reclamar porque eu não gosto de dormir pelado, tenho cuecas ótimas pra dormir e gosto de fazê-lo vestindo-as;
* Aceitar que não sou eclético, nada de de metal, nada de axé e pouco, mas pouco mesmo, de lesbian music;
* Eu sou pseudo-democrático, podemos discutir o assunto por quanto tempo for necessário, contanto que no final todos concordem comigo;
* Sou um quase zero a esquerda na cozinha (a Sue tá dando um jeito nisso);
* Aproveitando que ela entrou na roda, jamais, mas jamais se envolver com a Sue, ela configura entre os amigos, mas precisa de uma menção especial porque as pessoas costumam se envolver com ela, mas ela é MINHA;
* Ah, sou possessivo;
* A única forma de relacionamento amoroso que eu concebo nessa vida é o relacionamento monogâmico, isso inclui as fantasias sexuais;
* Sou um tanto quanto neurótico também.
Pronto, agora sim, pode ser dito pra mim "Poxa, mas tu estás sozinho porque estás querendo demais", há uma boa quantidade de motivos para isso...