sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Nightmare Boy

Tá bem, tenho 25 anos (quase, mas já tá mais pra 25), desempregado, alguma inclinação literária e uma vida amorosa desastrosa, receita de filme indie, ou seja, a vida de quase todo mundo. Quanto a vida literária ela é atrapalhada pela falta de amadurecimento, o blog é livre tudo bem, mas quem o lê pode perceber a forte inclinação à diário de menina de 15 anos. Levando a insegurança quanto a qualidade e ao talento, sigo com o blog, é importante pelo menos permancer exercitando.
A amorosa é um pouco mais agitada, não muito, mas pelo menos envolve pessoas, não que elas saibam que estão envolvidas. Pois bem, ela pode ser resumida mais ou menos assim: nos momentos em que estou apaixonado por um gay, ele provavelmente não gosta de mim, quando o carinha é hétero, ele provavelmente gosta de mim, só que, logicamente, o tanto quanto é possível para um heterossexual; meninas não vão entrar na explanação porque, nesse caso, eu seria mais um problema pra uma delas do que o contrário.
Estou na fase do menino hétero. O que gera conversas no msn do tipo:
Strokes:
Pq tu não tomas uma inciativa?
Cosmo:
E fazer o quê? Esperar a mãe dele sair da sala e enfiar a língua na orelha dele?
Strokes:
Homens heterossexuais dizem que mulher é gostosa e coisas do tipo.
Cosmo:
Não acredito que todos os homens heterossexuais sejam vulgares, mesmo que ainda não tenha encontrado um que fuja do estereótipo.
Ou:
Lu:
Ai, e quando finalmente encontra-se um bonitinho, ele se acha.
Cosmo:
Pois é, que custa ter um menino meio indie, bonitinho que não seja retardado né?
Lu:
Ah, ninguém faz meu tipo aqui.
Cosmo:
É, o problema é que vivemos numa cidade cheia de homens bagulhados!
Aí dá pra entender a comparação com meninas de 15 anos, com a diferença de poder beber sem precisar se esconder, e fumar por pura neurose ao invés de "ser" rebelde. Imagino que aos 35 isso envolva um pouco mais de dinheiro, senão não vale a pena.
A verdade é que ando um pouco cansado de ser o ex namorado perfeito, sabe aquele que depois de alguns meses, às vezes mesmo anos, o alesado descobre que era muito legal, pois é, ele, no caso eu, provavelmente não te ama mais. Pior, de ser o amigo mais legal, porque no fundo eu nem sou tão legal assim, é só o desejo de aproximação amorosa que me faz ser mais simpático, na verdade, eu quase nem sou simpático. Além disso, já dá trabalho o suficiente cuidar dos amigos que eu tenho e vez por outra alguém é negligenciado. Então ficamos assim, não sou seu amigo, só sou amigo dos meus amigos.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Estrada

- Bom, já que vocês são muito corajosos vou ajudá-los. Vejamos... Aah, ali, aquela parede.
- O que ele está fazendo com a pasta...
- Uau!
- Antes de vocês passarem pro outro lado, preciso saber se estão bem equipados. O que vocês levam aí?
- Ah, temos comida, binóculos, roupas e lanterna.
- E walkie talkie...
- É, walkie talkie também.
- Ah, que bom estão bem equipados, mas vou lhes dar dois presentes essenciais. Vocês não deveriam ter saído sem eles. Tomem.
- Um guarda-chuva! Que bacana, como eu esqueci disso.
- Tá, mas o que é isso aqui?
- Que absurdo criança! São clipes de papel. Como pode você não saber o que são clipes de papel? São instrumentos importantíssimos, eles têm aproximadamente mil utilidades, mas cada um só pode sre usado uma vez e aí só tem duzentos e cinquenta, portanto sejam cautelosos ao usá-los.
- Aaah, puxa, obrigada.
- Agora podem passar, e muito boa sorte.

sábado, fevereiro 09, 2008

Estrada

- Moço!
- Ô moço!
- Ah, olá jovens.
- Moço, ajuda a gente.
- E vocês precisam da minha ajuda pra que?
- Nós queremos chegar na terra do outro lado.
- Na terra do outro lado? Mesmo? Mas lá é perigoso.
- É que nós queremos ler o livro do início do mundo.
- Vocês vão ter muito trabalho para encontrá-lo. Precisam conversar com o morto do meio do bosque.
- Ei, cê não me falou de morto nenhum
- Shhh, fala baixo, eu nem sabia dele.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Estrada

- Olha, aquele dali.
- Qual?
- O grandão.
- Ué, por que ele?
- Porque sim, vamos falar com ele.
- Nossa, de perto ele parece muito maior...

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

Em Andamento

"Literata e histérica" era assim que estava escrito num conto de Onetti, era exatamente assim que ele se sentia. Suas equivocadas tentativas de dar alguma grandiosidade a sua vida, o tamanho descomunal que os pequenos problemas tomavam, a ânsia por um drama genuíno, porém, tudo esbarrava numa vida livre de quaisquer acontecimentos grandiosos, nada jamais passava da ordem do comum.
Se fosse descrever-se, precisaria começar com os adjetivos "literato" e "histérico", primeiro para dar-lhe ao menos um certo senso de profundidade ao evocar um autor um tanto esquecido, depois porque era verdade.
Gastava muito tempo contando histórias a si mesmo. Desejava ser escritor, porém suas ambições literárias esbarravam em uma falta de voz própria e, quiçá, talento. Isso o deixava ainda mais desesperado. Punha-se em todas as histórias que lia ou assistia, imaginava-se fazendo parte daquele mundo, pelo menos como um figurante com um pouco mais de destaque "Eu estaria pronto para deixá-los passar, saberia que os dois precisavam de ajuda e os rostos iluminados pela paixão sentida pelos protagonistas me convenceriam de que eram boas pessoas". Seria tão bom viver num mundo que tivesse trilha sonora.
As vezes corria alguns riscos, pequenos, porém significativos em sua vida. Fechava os olhos enquanto andava, até bater em alguma coisa ou ser assaltado pelo medo de alguém surpreender-lhe andando de olhos fechados, as pessoas não compreendem. Elas jamais compreendem.
Pensava no futuro, com a certeza de que o que lhe falta seria uma certa maturidade, essa quando alcançada lhe abrirá as portas de tudo que lhe parecia mais obscuro no presente. Conseguirá se expressar com desenvoltura, todos irão compreender que era uma sensibilidade discreta aquilo que lhes causava estranhamento em relação ao menino. Mas, por enquanto, ele era como Onetti descrevera: "Literato e histérico".

sábado, fevereiro 02, 2008

Estrada

- Vamos.
- Pegou tudo?
- Tá tudo aqui.
- Deixa ver?
- Roupas, comida, lanterna, binóculos e walkie talk.
- Lanterna, binóculos e walkie talkie?
- É, tudo que a gente precisa. Vamo?
- Tá, vamos.