terça-feira, maio 30, 2006

A Loira

Depois de uma semana trabalhando numa cidade do interior, no sábado ele decide ir no único bar da cidade. Bebida barata, música ruim e muita mulher feia, mas ele é de fora então pode escolher. Escolhe a loira. Uma loira de interior, com cara de matuta e sardenta, mas os olhos bem azuis e uns peitões. Toda se fazendo de misteriosa, quase não fala, mas sempre aceita bebida. Está se achando porque está rodeada de macho, mas ela olha pra ele. Por sua vez não se faz de rogado e desce cerveja pra loira. Quando ela fica mais solta solta um "Vocês num bebo, não". Matuta sem dente, na verdade faltam só os da frente, mas seria melhor se faltassem os de trás, antes morta de fome por não conseguir mastigar do que desdentada na parte da frente. Fica o espaço vago entre os caninos. Deve fazer brisa. O jeito é ir sem beijo, pegar no mato, logo fungando no pescoço, coloca de quatro e cavalga, puxa a cabeça dela pelos cabelos como se fosse arreio e bota pra cima pra ver se ela sente a brisa brisa.
P.S: É tudo culpa do velho tarado

sexta-feira, maio 26, 2006

Vanessa, Fica Comigo

- Pra onde cê vai? Que mala é essa?
- Vou embora.
Ela fecha a porta sem fazer ruído. Ele abre a porta com tanta força que poderia tê-la arrombado, nem que fosse pelo efeito dramático. Ela adora efeitos dramáticos:
- Tá doida?! Me dá essa mala, entra.
- Que parte do "Vou embora" você não entedeu?
- Ele inteiro. Por que isso já?
- Por que eu cansei. Olha, o elevador chegou, dá licença.
A porta se abre e ela põe a mala no elevador. Ele a segura pelo braço:
- Não senhora. Como é isso? Você está casada. Faz um ano já. Você não simplesmente coloca tudo numa mala e me diz que vai embora.
- Eu cansei, só isso. Nada demais.
- Ah, cansou. Cansou de quê? De ficar escolhendo cor de cortina e ouvindo música o dia inteiro?
- Também, mas mais especificamente de você.
- Vadiazinha, cara-de-pau.
- Tá vendo? Você é um sapo, você sempre foi um sapo, mas antes você era o meu sapo. Mas agora você é só um sapo.
- Ah, e você fez o grande favor de casar comigo, foi?
- Fiz, fiz sim. E eu te beijava todo dia de manhã esperando você virar o meu prícipe, mas você é só um sapo.
Ele largou o braço dela que já estava vermelho de tão forte que ele apertava:
- Vai, vai embora. Sua inútil, quero ver outro homem que te aguente. Sua bruxa.
A porta do elevador se fecha, ela grita lá de dentro:
- Você é um sapo, não é um homem. Tá me ouvindo?! UM SAPO! - o tom da voz foi enfraquecendo - Vou ficar com a Vanessa. Ela me entende. Ela quem vai ficar comigo ...

terça-feira, maio 23, 2006

S&R Letras Voltou ^^


"Sejaaaa, meu príncipe, meu hóspede, meu homemmmm..." A voz meio esganiçada é da Kelly, nós dividimos um apartamento. Ela é puta e eu sou jornalista, quase colegas de profissão:

-Anda bunitaa. O café tá pronto já.

Por que divido apartamento com ela? Porque eu já dividia quando ela se chamava Rogério e fazia ciências sociais. A bem da verdade, ele não precisava ter virado puta, mas é que isso é o que ela queria fazer de verdade. Ela também faz dublagens, mas diz que não pega bem pra drag ser puta, como ela gosta muito mais de ser puta que drag, as dublagens são sempre exclusivas pra mim. Moramos juntas faz uns anos, a proprietária do apartamento sou eu, mas a dona da casa é ela, assim como da palmeira tristonha porque vive num vaso; do espelho quebrado que fica pregado em frente à porta de entrada e o inferno dos peixes (ela insiste que seu experimento sociológico um dia fará com que os betas aprendam a conviver com os outros peixes, como não tem outro jeito, eu passei a comprar só os peixinhos de dois reais). Além disso, ela, diferente de mim, é uma excelente cozinheira, fazemos as três refeições juntas e meu almoço nunca atrasa.

-EEEuuu quero dizer pra sempreee que eu te mereçoooo.

Às 10 da manhã do domingo tenho de ligar para minha mãe. Um dia ainda escrevo um livro sobre a velinha ranheta, até hoje ela ainda me pergunta como vai o balé e o Fernandinho, meu namorado de adolescência. Será que digo pra ela que ele foi pra Holanda e se casou com o homem loiro, alto e rico dos meus sonhos?

Sou uma excelente escritora, devo tudo ao meu décimo grau de parentesco com a Clarice Lispector. Que merda, tenho de sair da cama, preciso dar um jeito no cabelo. Ele está rosa, maltratado de química, meio estranho de pegar, mas todos dizem que está lindo, isso que importa. Domingo é dia de coisas que normalmente eu esqueço durante a semana: mamãe, cabelo, unhas, pelos sobressalentes na sobrancelha...

- Será possível, quer que eu te traga no colo mona?

A Kelly, apesar de ter colocado silicone até no cérebro, no fundo é um grande cavalheiro.

- Pronto “uoooohhh” Desculpa, mas tu viste a hora que cheguei?

- Não, cheguei depois.

- Como você consegue? Depois de uma noitada ainda assim, linda, loura e feliz se esguelando na cozinha?

- É que ontem foi especial

- O que foi? Conseguiste um bofe escândalo que ainda te chamou de princesa?

- Não, fui pedida em casamento

- O que? Cof, cof, cof, desculpa me engasguei com um pedaço de pão. Com quem, já? Não sabia nem que tu tinhas namorado.

- Nem eu! - Com as mãos na boca caiu na gargalhada.

Como ela podia rir assim? Era louca! Estava feliz por ser pedida em casamento por um desconhecido, acho que não há espaço suficiente no corpo para o silicone e o bom-senso.

- Quando vocês se conheceram? Ontem? No mesmo dia que ele te pediu em casamento?

- Ai, deixa de ser assim, nem parece que estás feliz? Sabe quantas travestis são pedidas em casamento?

- Achei que tu gostasses de ser puta?

- Despeitada. Posso te contar como aconteceu?

Torci a boca, levantei só um lado do rosto e não me restou mais nada a dizer que não fosse:

- Fala.

- Ele já era meu cliente, gostou e repetiu a dose, e não foi nem uma, nem duas e nem três vezes. Ontem gozava na minha boca e me pediu, não é lindo?

- Noossa com toda certeza, onde foram parar a carruagem, o sapatinho de cristal e a madrasta? Conto de fadas hoje em dia, tem é esporrada na cara da princesa!

- Eu não sei por que tu estás assim, tão azeda. Era pra ser divertido sabia?

- Desculpa, acho que ainda nem acordei, só posso estar em um pesadelo, por isso vou voltar pra cama e esperar que tudo volte ao normal.

Entrei no quarto e quis fazer cena, jogar a caixinha que ela me deu no espelho, chorar encostada na parede, ficar com os olhos sujos de sombra que não tirei de ontem e escorregar lentamente até me sentar no chão, agarrada no salto quinze dela. Sim, eu confesso, amo essa-esse-sei-lá-o-quê desde o primeiro dia que nos encontramos na faculdade. Quando ele veio morar comigo eu já sabia que era gay, mas sabe como é mulher apaixonada sempre acha que pode mudar, que só amor transforma. Realmente o amor transformou, transformou ele, em ela.

Eu estive em todos os momentos, ajudei a escolher tamanho do silicone, tinta de cabelo, esmalte, vestidos, tudo... Não tinha mais escolha, estava apaixonada, só me restava ficar ao lado dela. Agora ela vem me dizer que vai casar?

- Ei, senhorita jiló, telefone pra você, sua mãe, digo que estás em um pesadelo? Que ela faz parte disso tudo e que assim que tu acordares liga pra ela?

- Palhaça.

Falei rápido com a mamãe coisas do tipo: “sim, estou comendo”, “sim, estou escrevendo”, “sim, estou vivendo”, “sim, vou ao balé todos os dias”, “satisfeita?”, pensei em dizer pra ela “Mãe, o Fernando é gay”, mas a coitada não merece isso.

Agora, era hora de me dedicar ao futuro casamento do amor da minha vida. O quê? Eu não posso me apaixonar por um travesti? Por quê? Porque ela nunca vai me querer? Tá bom, qual a mulher que usa esse critério pra não se apaixonar? Preciso fazer alguma coisa...

- Por que você ta fazendo tudo isso?

- Fazendo o que mapô? Eu vou casar, vou ser feliz, tu não queres me ver feliz?

- Ai, eu não acredito, isso tudo é irreal demais pra mim.

- Não acredita no quê. Que alguém me pediu em casamento? Que eu vou me casar e você ainda não?

Será que é isso? Será que eu tô com inveja? Puta que o pariu, eu ia me sentir tão menos miserável se fosse inveja. Só “admiração sem esperança”

- Tô com inveja bicha. Só isso. Só um pouco de inveja. Me perdoa?

- Vem cá mapô. Claro que pode ficar com inveja, a parte mais importante de casar antes da melhorar amiga é fazer inveja pra ela.

- Sabes que eu vou fazer pouco da tua cara quando ele te largar, né?

- Vai nada, cê vai ficar chorando comigo no quarto. As duas de maquiagem borrada e uma caixa de lenços. Vai ser super Hollywood, baby.

-Vai bicha vai sim.

segunda-feira, maio 22, 2006

Formigas...

Caronas com a minha irmã nunca valem muito a pena, sempre tem alguma coisa que faz com que o percurso demore do que tomar o ônibus. A parada estratégica dessa vez pelo menos foi por uma boa causa, ela tinha de ir buscar a filha de uma conhecida que ia para o hospital. Para mim não tinha nenhuma novidade nisso, eu já sabia que ela faz isso uma vez a cada duas semanas e também já sabia que a garotinha tem cancêr.
Pra variar eu fiquei no carro. Minha irmã vei trazendo a menina. Ao contrário do que eu esperava, ela não era magrela, não estava com olhos fundos, nem parecia estar a beira da morte. Quem sabe fosse mais fácil lidar com ela se a sua aparência fosse essa. Pelo contrário, ela era linda, pequena, com a carinha meio rechonchuda, havia acabado de cortar o cabelo porque tava caindo e tinha um seu estojo de maquiagem novo na mão.
Por que isso é tão ruim? Porque eu lembrei que ela não era uma morimbunda e sim uma criança. Porque crianças não tem a menor noção de mortalidade. Porque é absolutamente horrível você ouvir uma criança fazendo manha porque não quer tomar soro, ao invés de fazer manha pra ganhar pirulito. Porque uma garotinha não deve ter pouco cabelo, a menos que ele esteja apenas começando a crescer. Essa é uma inversão perversa da ordem das coisas, crianças não deveriam morrer, a função principal delas é esfregar na minha cara que eu vou morrer antes delas.
Mas o pior foi ela se sentir constrangida comigo, porque ela estava ficando careca. E eu não tive a menor coragem de dizer pra ela que não se preocupasse com pessoas como eu. Porque pessoas como eu são superficiais e egocêntricas e jamais vão conseguir olhar pro mundo fora do seu próprio umbigo. Daí eu fiz o que eu faço melhor, me fechei e não dei mais um pio. Babaca.

quarta-feira, maio 03, 2006

O Gostosão

Armadinho era mau. Foi assim desde que nasceu, sua mãe percebeu logo, mesmo antes de criar dentes o moleque ficava tentando mordê-la e quando o primeiro apareceu ela teve de parar de amamentá-lo "Essa criança quer me machucar". Mas mãe é mãe, então ela tee de criar o diabinho, que por sinal cresceu e se tornou um homem nem tão bonito assim, mas tão mau e desavergonhado que todas as mulheres se apaixonavam por ele.
Logo ganhou fama, o apelido ele mesmo quem bolou do alto da sua não tão grande criatividade "O Gostosão". A mulherada toda gamava, mesmo sabendo que ele gostava de dar umas bofetadas e de fazer por trás, as vezes até dinheiro pegava. Menina que aparecesse grávida perdia o filho na bofetada. Preconceituoso, se a mulher era negra xingava a pobre de tudo quanto é coisa ruim "Vem cá diaba. Senta aqui. Varejeira", das orientais reclamava "Porra, tu não tem bunda". Mas dizem que mulher gosta é quando maltratam e Armandinho fazia isso com gosto. Pelo visto dava certo, com as travas que faziam ponto na esquina então? Não importava o quanto ele xingasse, elas sempre tentavam, mas só ouviam "Sai daqui cão. Bicho do nojo".
Armandinho virou PM. Sentiu-se um homem realizado, podia carregar uma arma e dar com cacetete nas pessoas. Interrogatório que era bom, apagar bagana de cigarro no bico do peito alheio, dar caldo na privada, colocar anel pra meter bofetada. Todo mundo sabia que o pm box do Armandinho era o inferno na Terra. Mas o que ele gostava mesmo, era de comer as donas em cima da mesinha.
Um dia ele tava voltando pra casa e viu um caminhão de mudança na rua. Uma família tava se mudando pra uma casa no início da alameda onde ele morava. Mas pra ele o caminhão era o de menos, porque ele viu a Deusa, segundo suas próprias palavras "A diaba mais gostosa que já vi nessa vida". Os olhos dele quase pegaram fogo de tanto secar a Deusa. O problema é que a moça era noiva e amava. Se fosse só noiva não tinha problema, mas ela não tinha olhos pra nenhum outro homem.
Armandinho atentava a moça dia e noite, falava todas as obscenidades que só ele era capaz de pensar, ma snão dava certo, a moça sempre fazia cara de nojo pra ele. Ele começou a ficar obcecado com a moça, fazia ronda perto da casa dela, observava tudo. Um dia viu que ela escondia a chave da casa debaixo do xaxim, pra poder fazer sacanagem com o noivo sem o pai dela ver.
Foi assim depois do almoço na segunda feira, justo no dia de folga do Armandinho. Ele a viu esconder a chave. Aproveitou logo a chance, pegou a arma em casa, voltou a invadiu a casa da Deusa. Quando chegou no quartoda pobre, sacou logo a arma. Mesmo tendo ameaçado a moça d emorte caso ela contasse, ele tinha judiado tanto da pobre que ear impossível não perceber que tinham abusado dela. Armandinho parecia possuído, mordeu tanto, esbofeteou tanto que a moça ficou toda roxa.
O namorado da Deusa, Paulão, que era quase tão macho quanto Armandinho ficou enfurecido. Reuniu os amigos, todos tão machos quanto eles e foram atrás do Armandinho. Esperaram até a noite quando o maldito tava voltando pra casa. As travas da esquina já sabiam de tudo e trataram de se esconder. A rua estava mórbidamente calma, mas Armandinho nem notou. Só quando Paulão e os amigos apareceram foi que ele percebeu que estava acontecendo.
A briga começou, Armadinho até que deu conta de uns tantos, mas no final acabou perdendo. Apanhou de paulada, de correte, de soco. Achou até que tinha ficado cego de um olho, mas era só o rosto que estava inchado demais daquele lado para ele poder abrí-lo, quebrou uma meia dúzia de costelas e perdeu uns dois dentes. O corpo inteiro doía e ele não conseguia andar.
Uma das travas chegou perto, mas mesmo cuspindo sangue pela boca Armandinho recusou a ajuda e ainda falou alguns impropérios pro travesti "Sai daqui bicho do nojo. Não vê que eu tô fudido. Sai viado nojento". Foi então que a trava o lenvantou e o encostou no muro de uma casa. Ele mal tinha forças pra mexer a cabeça, na verdade foi a única coisa que ele conseguiu mexer quando percebeu que a trava lhe baixava as calças, ficou tentando dar cabeçada no travesti. A bunda branca do Armandinho foi invadida sem dó, pra sorte dele, o resto do corpo doía tanto, mas tanto, que o estupro nem doeu como deveria. A essa altura ele já tinha se mijado todo "Pronto gato, agora sim tá fodido". A trava deixou ele ali do mesmo jeito, com a bunda toda gozada exposta, desmaiado e fodido.