terça-feira, dezembro 27, 2005

2006

Sempre que revelo ter dificuldade pra enxergar as coisas que estão longe, me perguntam se eu uso óculos. Aí vem o muito familiar discurso explicando que eu deveria usar, mas eles sempre ficam em casa, e que só uso quando quero realmente ver as coisas ou que dessa forma eu posso fingir para os professores que estou prestando atenção, mesmo sem nem ao menos conseguir definir suas feições.
Quando alguém vê os meus óculos, percebe na hora o quanto eles estão gastos, com as lentes arranhadas e a armação meio torta para um lado. Na verdade, ele nunca coube direito no meu rosto, mas isso nunca me incomodou. Nunca me preocupei de enxergar o mundo direito.
Mas a pergunta “Há quanto tempo você usa óculos?” sempre teve uma resposta exata e em números, porque a matemática é algo confiável, “Há faz uns 2 anos”. Entretanto, hoje eu percebi que ela está errada, eu comecei a usar óculos em 2000 e mesmo quando deixei de usá-los em 2004, já faziam mais de 3 anos. E mesmo nestes anos anteriores eu não os usava devidamente.
Então, para 2006 acho que a minha resolução é usar meus óculos. Tá bom, né?
Isso que dá ler Maria Lúcia Medeiros ouvindo Los Hermanos.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Muita Calma

É notório a todos os meus amigos que sou um enfastiado. Sim, enfastiado, como pouco, poucas vezes ao dia e sou incrivelmente chato pra comer - exceto tapiocas, essas me levam a falência. Em resumo, sou uma péssima companhia para comer.
Dentre as coisas que sou mais chato em relação a não comer estão as massas, isso inclui comida italiana em geral e o que causa a comoção geral, a minha repulsa por pizzas. É isso aí, repulsa, não suporto pizza, já me arrisquei com elas várias vezes, em vários lugares e com vários gostos, mas dá na mesma, não gosto. Não interessa o quanto isso choque as pessoas, podem ficar escandalizadas que eu não me importo. Pizza é ruim e pronto.
Agora uma outra coisa tem de ficar clara. Sim, eu posso receber um convite pra ir a uma pizzaria, não se preocupem, eu vou e até me divirto. Não precisa ficar naquele dilema " Ah, mas... ele não come pizza... né?". Não, eu não como e não adianta chantagem psicológica, mas isso também não quer dizer que eu não vá a pizzaria com os amigos.
Lembrem-se sou enfastiado, não vou reclamar que não estou comendo, nem muito menos vou fazer cara de criança pobre que está com fome e fica se esfregando no vidro do restaurante. Mesmo porque eu vou estar dentro e garanto que muito mais bem vestido, além de ser uma companhia bem mais interessante.
Enfim, pode chamar que eu vou, só não vale ficar pentelhando com perguntas do tipo "Mas você já provou?".

Carta

Essa é uma carta meio antiga. Ela fazia parte de uma estória de RPG.
"Dear Ava,
My entire life I have been trying to convince myself that I am not real, that I am a fiction, a character from some bizarre story, destined to a miserable life. However, that day at the square, when we met, I wanted life to be real again. I remember each step you took towards me, each move your hair made. That day... I inevitably felt in love with you.
I wished I could be the first thing you see when you wake up, and the last when you fall into sleep. Whitout you there are no stars on Alabama, to be honest, for me there are no stars at all. I ligth up just by thinking of you.
Unfortunately, the truth is that I am not real, and my life is not going to change. I can not drag you to it. I am sorry, but I can no longer see you.
I just wanted you to know that all my songs will be forever yours.
With Love,"

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Moça

Ela decidiu que esse natal seria diferente. Sempre foi boa: boa pessoa, boa filha, boa aluna, boa trepada, enfim era boa em tudo; e o natal sempre foi a época mais propícia pra mostrar o quanto uma pessoa pode ser boa: você pode dar comida aos pobres, visitar órfãos vestida de papai noel, montar cestas básicas, existe inúmeras caridades a serem feitas. Porém ela faria diferente.
Cansada da hipocrisia que as festas natalinas trazem, ela decidiu dar para um pobre. Isso mesmo, ela iria encontrar um mendigo daqueles bem xexelentos e iria dar pra ele. Não sempre disseram que ela era boa nisso? Pois então era essa a caridade que ela iria fazer.
Colocou uma saia estampada e uma blusa bonita, mas não vestiu calcinha pra ajudar a coisa a fluir mais rápido, passou perfume, só não colocou brincos, nem relógio, nunca se sabe quem vai encontrar pelo caminho. Mas esse ano, um mendigo sortudo ia ter a trepada da sua vida naquele natal. Pegou uma garrafa de vinho e saiu andando, tomou uns goles, pois por maior que fosse sua convicção ela ainda ia precisar de coragem. Não demorou muito e encontrou seu felizardo:
-Ei, você!
-Ahn?! Ah, oi moça, Feliz Natal!
-Que Feliz Natal o quê rapaz?! Me come! - se agachou próximo ao mendigo, um garoto de uns 20 anos, já com vários dentes faltando e meio sujo, e lançou um olhar fatal.
-Ahn?!?! Moça a senhora tá bem?
-Lógico garoto. Bora, anda logo, me come! - de forma impaciente.
-Ué, mas... por quê?!
-Essa é a minha caridade de natal, vou te da a melhor trepada da sua vida.
-Ô moça, não leva a mal não, mas por que a senhora não tá distribuindo sopa ou dando brinquedo hein?
-Como assim? Você não tá cansado dessa hipocrisia de natal? De todas aqueles pessoas que agem o ano inteiro como se vocês fossem invisíveis e só por causa de um feriado comercial resolvem agir como salvadores do mundo?
-Ué... mas em outra época do ano a senhora iria dar pra mim?
Ela se levantou, estendeu a garrafa de vinho pro mendigo. Andou em um passo mais apressado para chegar em casa, nem tanto por estar com vergonha, era mais porque estava frio e ela sem calcinha.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Oráculo Urbano

Hoje fui abordado com uma pergunta do tipo "você pensa no futuro?". Lógico, como um neurado de plantão, comecei a pensar no futuro - justo agora que eu tinha acabado de ver um clipe onde havia a frase "algumas das pessoas mais interessntes de 22 anos que conheço não fazem a menor idéia do que fazer de sua vida" e havia me identificado tanto com ela.
Foi dançando na frente do computador com minha tão querida e amada filha, Ana Maria, a ovelinha mais blasé que já conheci, que tive meu primeiro vislumbre do futuro. 10 anos no futuro, eu estarei com 32 anos, muito gato de preferência, vivendo no meu tão sonhado cubículo, afinal espaço será um problema. Será Natal, estaremos felizes, eu e Ana Maria, dançando junto com um Papai Noel daqueles que mexem a cintura, tocando "Sapatênis de vinil, bolsinha baguete, luvinha de pelica, você não me esquece, lesbian chic, sapacaixa do agreste...". Enfim, estará tudo bem.
Entretanto percebi que estaria solteiro, feliz, porém solteiro - não sou muito fã do "Antes só do que mal acompanhado", prefiro "Com alguém e em ótima companhia". Então tratei de ter outro vislumbre. Bem parecido com o primeiro, mas incluía uma cama de casal e um cubículo um pouco maior. Ana Maria estaria setada ao lado do Papai Noel que remexe a cintura, no futuro ele será um artigo kitsch de alto valor, ainda mais se tocar Cansei de Ser Sexy em vez de Jingle Bells. E o Natal será na cama. Enfim, estará tudo melhor ainda.
Pensei em algo do tipo MadMax também. Comigo e Ana Maria escalando enormes dunas, ela ainda com seu cachecol, porque não importa o clima ela está sempre bem arrumada e fazendo carão. Entretanto, esbarrei no problema do Sol e da falta de protetor solar, então preferi que a Terra durasse mais algum tempo antes do apocalipse.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Tá Chovendo

Comecei a escrever um texto meio pesado, meio poético. Tinha, chuva e Jack Jhonson na mesma frase. Lógico que apaguei, me acho incrivelmente equivocado quando tento escrever algo "profundo". Primeiro porque é pretensioso demais, até para mim, e depois porque esses textos têm um ibope baixíssimo. Constatei isso quando passeava pelo Solitário Inconsciente Coletivo (não, eu não sou um mutante, esse é o blog da SIC, a gostosa que escreve besteira junto comigo). Todos os textos que não são bem humorados, quase não tem posts.
De inicio pensei em começar um revolução. É isso aí, brigar pelo direito de acordar de mal com o mundo, mesmo porque boa parte do meu "bom-humor" reside no fato de eu viver de mal com o mundo. Explodindo mentalmente pessoas que andam devagar na minha frente ou xingando algum transeunte que teve a má sorte de ser posto no mundo para cruzar o meu caminho.
Por que recusar os textos depressivos e mal humorados se neles também reside ua boa dose de humor? Ou mesmo sem humor, mas com alguma experiência diferente? Como já usei esse blog para fazer declarações antes. Declaro neste momento que todos deveriam ter o direito de acordar com o "pé esquerdo". Assim como reitero minha condição de vagabundo, só pra me vangloriar um pouco mais dela, já que ela vai terminar.
Lutem meus amigos, lutem pelo direito de estar putos porque uma espinha nasceu no dia do seu esperado encontra da internet, porque não tem uma mísera cueca decente quando você tem quase certeza de que vai conseguir se dar bem naquela noite, porque reclamam quando você acorda excitado e não lembra de por uma blusa para esconder.
Enfim, estar de mal-humor as vezes é bom e até produtivo. E se alguém vier reclamar, bata na mesa e diga "Olha, acordei com o pau doido porque ele tava do lado errado e ficou duro, não transei e ainda preciso comprar cuecas. Então, não me pentelha a vida e me deixa trabalhar." e ainda chama um "porra" para dar mais ênfase.

sábado, dezembro 10, 2005

Fiat Lux

- O que você achou?
- O que eu achei do quê?
- Ah, disso tudo!
- Disso tudo o que? Você nem me falou "Bom dia", só perguntou o que achei.
- O mundo, ó lá, acabei de criar. Fala a verdade, tá bonito, não tá?
- Ah, é isso. Não sei, tá tão azul.
- Ah, qual é, tem branco também e areia. Admito que o verde é um pouco destoante.
- É, ficou meio brega mesmo, mas vai ser só isso?
- Como assim só isso? Tem uma porrada de coisas ali sabia, só de bactérias passa da casa dos milhões.
- Bactérias, que diabos é isso?
- AAAh, invenção minha. É muito legal. São seres microscópicos que encerram a maior parte dos segredos da vida, genial né?
- Credo, isso parece meio nojento, elas não são pegajosas não né?
- Elas são microscópicas você não pode sentí-las.
- Ah tá. Não gostei não.
- O queeee? Como você pode dizer isso? Sabe quanto trabalho eu tive pra fazer isso?
- Ai, me poupe. Olha pra isso, parece mais um rascunho, nem tem nada em volta, e se algum dia alguém quiser sair? Vai dar de cara no teto?
- Hum, agora você me pegou. E que tal se eu colocar isso?
- Ahn? Que é isso?
- Vou chamar de Sol, ele brilha e emite calor pro planeta, tudo isso só pela fusão de hidrogênio dentro. Ele ficou bonito, você tem de admitir.
- É...Ele tá bonito...
- Masss? Eu sinto um "mas" aí.
- "Mas" nada ué, tá legal.
- Bora, fala logo.
- Ah, é porque é injusto, olha lá, só um lado tá vendo ele. Qualquer coisa do outro lado teria de andar o lugar inteiro pra poder vê-lo, acho que ia demorara muito e a maioria iria ficar com preguiça e consequentemente frustrado por não vê-lo. Isso poderia gerar problemas sabia?
- Hum...Que tal assim? Ele fica girando, daí cada lado pode vê-lo. Satisfeito agora?
- Ah, não sei não, você acha que vou me adaptar? E seu eu quiser ir pra outro lugar, não tem mais nada.
- AAAHHHH, me dá uns milhares de anos.
Alguns milhares de anos depois
- Pronto e agora?
- Nossa, ficou lindão. E enorme.
- Tá, agora você vai né?
- Ai, não sei...
- Não sabe? por quê? O que tem de errado agora?
- Ah, tá muito grande, me senti intimidado.
- Ah porra.
Rasggg...
-Bem, você se chama Adão e você vai lá pra baixo, entendeu?Ótimo, agora vai - Chute no traseiro
*Assim foi como Blue Boy fez sua parte na Gênese

quarta-feira, dezembro 07, 2005

O Pênis

Mais ou menos cientificamente falando, é um músculo com um bocado de outros tipos de tecido ao redor, que se enche de sangue em determinadas situações. Mas também é a causa da maioria das guerras, sim, pois causa um sério problema de auto-afirmação quando o homem precisa provar que a sua falta de tamanho, nele pode ser suplementada por suas habilidades em outras atividades. Nele está encerrada uma boa parte da autoconfiança masculina.

É também objeto de desejo da maioria das mulheres, mas não de todas tenha certeza, e de muitos homens, mais até do que você imagina. E não adianta tentar se convencer que os parceiros não ligam pro tamanho, porque mesmo quando preferem o pintinho em vez do grandão, o dilema do tamanho está impresso ali.

O curioso sobre ele é que é a única genitália que causa frisson. Acredito que seja pela superexposição que ela tem quando é mostrada, a feminina é mais recatada. Acho que o fato dele ser mais vistoso é que causa o problema, quem nunca teve o seu pênis indevidamente apropriado por outra pessoa? Não se enganem, ele não é destacável e sempre vai pertencer ao atual dono. Com a vagina isso já é mais complicado de fazer, porque em sua maior parte ela é uma cavidade, não dá pra dizer “Olha, isso aqui é meu!”, fica no ar “Isso o quê?”, “Isso aqui ó, a cavidade, não dá pra ver porque é uma cavidade, mas tá aí, seu leso, e é minha, então nem te mete a besta com ela”. Com o pênis você pode pegar, até dar uma balançada afirmando sua posse.

O pênis pode sem dúvida pode ser considerado o órgão mais inspirador do corpo humano, o coração pode até inspirar músicas de amor, mas o pênis fez Dr. Freud inventar uma ciência praticamente baseada nele, seja em relação aos que possuem um e não sabem exatamente o que fazer ou na inveja das que não tem. O pênis também deve ter inspirado a criação de novas potências mundiais, já imagino muitos olhinhos puxados numa reunião secreta falando “Eles dizem que nós temos pintinho, mas seremos a maior potência tecnológica do mundo”.

E essa euforia parece ser um comportamento mais do que natural, já que nossos irmãos macacos adoram exibir sua genitália para uma fêmea, mesmo ela sendo de espécie diferente e o triplo da sua altura, ainda assim você pode vê-los em frenética ação com seu pequeno membro. A importância do pênis foi percebida quando o primeiro macho se deu conta da existência dele. Não tinha como não notar, ele faz amor ficar, ele faz amor acabar, ele tem personalidade, os que nascem tortos, morrem tortos, podem ser pra cima, alto astral, e ficar pra baixo, pra desespero do seu dono e de quem espera uma atitude mais positiva. Ele tem a árdua tarefa de levar Maomé às montanhas, quando promove o encontro das “metades” que formaram esses que vos escreve. Por isso, quem não tem um, compra de mentira pra se divertir, quem não quer mais paga pra tirar, ou seja, não há como ser indiferente ao Pênis.
P.S: Esse foi o segundo texto do S&R Letras, esperamos que gostem desse também, ele também vai ser postado no blog http://www.sic8.blogspot.com/ o blog mais legal do mundo :D

terça-feira, dezembro 06, 2005

Seu Brown

Recentemente vi uma batalha ser travada. Um grande amigo meu, um genuíno intelectual, - quem sabe por falta de algo mais legal pra ser, mas decididamente muito bom em ser intelectual - resolveu iniciar uma pequena guerra via orkut e blog contra enlatados culturais e o endeusamento de expoentes do pop.
O problema disso tudo foi a propaganda negativa em cima de um autor que anda em alta, o Dan Brown. Ouvindo coisas como " Oooooo, ele é 'O' cara", "Ele é um ridículo" e, mais comedidamente, "Ah, eu só não gostaria que ele fosse considerado o melhor autor da atualidade". Decidi que eu deveria descer do muro e formar a minha opnião sobre o cara.
Então eu peguei o livro Anjos e Demônios, aí é que ocorreu o problema. Não que eu ache que o cara escreve mal, longe disso. O problema foi a estória dele, que lança um olhar sério pra questões filosóficas e religiosas. Devo dizer que estou apenas no início do livro, mas é justamente nessa parte que o que descrevi acontece.
Eu simplesmente não consigo levar o cara a sério. Por quê? Por culpa do Douglas Adams, depois que você lê algo que diz que a útima mensagem de Deus para os homens (atenção se vc não quer saber uma parte importante do quarto livro da série do guia do mochileiro das galáxias, sugiro que você pule este parágrafo) é : "Desculpe-nos pelo transtorno". Não dá pra levar a sério o escritório de um físico que é cheio de coisas religiosas e científicas e um retrato do Einstein ladeado por cruxifixos.
Além disso o livro já começou me escandalizando. Falando que simbolicamente o polegar pra cima é um símbolo fálico. Puxa vida, eu sou uma pessoa que usa os polegares pra muita coisa, um sinal de aprovação ou de forma meio sarcática balançando os dois polegares. Agora é impossível pra mim colocar os polegares pra cima sem pensar num pinto murcho apontado pra pessoas, quanto mais ser sarcástico balançando os dois polegares pra quem quer que seja. Tá bem, o livro diz também que é símbolo de virilidade, mas a imagem do pinto murcho é única que me vem a cabeça.
Acredito que ser intelectual deveria ser algo profissionalizável para evitar esses equívocos. Parabenizo a Sue por ser pioeira na área e já ter seu próprio intelectual. Eu ainda pretendo terminar de ler o livro, mas acho que vai fluir pra mim de uma forma bem diferente do que para o resto dos meus amigos.
P.S1: Estou roubando a idéia dos p.s´s da Sue, mas é que eu precisei de dois deles.
P.S2: Se alguém me vir colocando os polegares pra baixo, não pense que estou dando uma negativa, é porque senti necessidade de usar o polegar e assim ele não parece tão caído.

sábado, dezembro 03, 2005

Fazendo as Pazes

Bom, Natal está chegando e ontem minha irmã, uma mulher de 24 anos - preciso frizar isso - me perguntou se eu já havia escrito minha carta ao Papai Noel. Eu nunca havia escrito uma carta a ele. Então decidi escrevê-la, aqui vai uma transcrição.
"Querido Papai Noel,
Sei que já estou meio velho pra escrever-lhe cartas, mas preciso compensar os anos em que não lhe escrevi. Entendo que nosso relacionamento não era dos melhores quando eu era criança, a verdade é que eu não gostava do senhor, por outro lado eu não gostava de quase ninguém quando era criança. Peço desculpas por ter feito carão* e chutado sua canela na Yamada quando eu tinha sete anos, posso lhe garantir que hoje em dia eu contenho meus impulsos agressivos e não chuto mais as pessoas.
Entretanto, devo dizer que guardo alguns ressentimentos em relação a sua pessoa. O primeiro está relacionado as piscinas de bolinhas, não que o senhor tivesse influência sobre a minha mãe, mas eu poderia ter recebido as bolinhas pra colocar na minha piscina de plástico azul. Mesmo não lhe escrevendo, sempre foi notória a sua onisciência sobre as necesidades das crianças, devo lhe dizer que acho esse dado bastante discutível, mas vou deixar isso para nossas futuras correspondências, e na época eu ainda nem havia lhe chutado.
O segundo, e mais importante, está relacionado a armas de brinquedo. Sim, mais uma vez quero deixar claro que não acho que o senhor devesse ter intercedido com a minha mãe, porém apelo mais uma vez a sua onisciência, pois hoje descobri que possuo uma mira relativamente boa. Quem sabe se eu tivesse recebido incentivo quando criança, um mero trinta e oito de chumbinho. Hoje eu serei um jovem franco atirador, trabalhando para a polícia e ajudando a manter a paz em nossas ruas, ou melhor, teria fundado um grupo terrorista e estaria livrando o país de muitos políticos equívocados.
Espero poder reatar laços com o senhor que é reconhecido como uma pessoa bondosa e compreensiva. Talvez até me corresponder com o senhor periodicamente.
Fortes e efusivos abraços,
Leandro Raphael"
*Sim, aos sete anos eu já fazia carão.