terça-feira, novembro 29, 2005

Não Matem Mais o Raphinha

Alguns meses atrás eu iniciei a importantíssima campanha "Matem o Raphinha". A pesar do nome não era nada muito grave, eu não estava a procura de algum serial killer em potencial para findar minha vida. Era apenas uma, muito frustrada devo dizer, tentativa de errradicar a imagem do "carinha tão legal". Não que ela seja ruim, mas não deixa de ser um tanto nociva, porque TODA pessoa que você conhece, acaba vendo só o carinha legal.
O primeiro passo do plano era erradicar o "Raphinha". Esse diminutivo é terrível, porque ele tem uma carga enorme de fofisse (será que existe essa palavra? Vou checar com SIC pra ver se ela entra nos nossos planos de inserir palavras do aurélio) . Fui relativamente bem sucedido nisso, hoje apenas as pessoas que conviveram comigo durante a graduação em biologia me chamam assim.
O resto do plano todo foi por água abaixo. Não tive o menor saco de ir para academia numa tentativa de perder o corpo franzino, nem engordei comendo, porque toda a frescura que não existe no resto da minha psique, foi transferida para os meu hábitos alimentares. Ainda sim, tenho certeza que dentro de mim reside um gordinho feliz e pançudo, quem sabe eu desenvolvo múltiplas personalidades e libero o coitado. Além disso, não dava pra mudar o humor, porque emsmo ácido e ranzinza todo mundo me achava um "carinha legal", se eu me torna-se meigo e atencioso, só restaria me taxarem de boiola, e sendo meigo e atencioso, até eu me taxaria de boiola.
Entretanto, o fator principal para a desarticulação da campanha "Matem o Raphinha", foi passar muito tempo longe das amigas da biologia e não ser mais chamado de "Raphinha", que eu descobri tem uma carga de carinho, que sempre foi maior do que qualquer outra coisa que o diminutivo trouxesse. Além do mais, descobri que não adianta, eu faço o tipo fofinho mesmo, um dia desses, indo pra aula, eu estava tirando remela dos olhos e um grupo de garotas de segundo grau gritou da rua "Ó meu Deus, ele tá com soninho". Mas ainda sim faço carão se vier com frescura pro meu lado.

sexta-feira, novembro 25, 2005

O Bem Contra o Mal

Recentemente descobri que em cada mochila minha há pelo menos dois livros, geralmente não terminei nenhum deles. Sim eu tenho várias mochilas, mas não tantas quanto os pares de sapatos. Não, eu não tenho desejo de troncos extras para poder usá-las ao mesmo tempo, isso só acontece com os pés. Nessa quarta coloquei mais um na azul e me mandei pra aula.
Estava despreocupado quanto aos socializáveis, ônibus vazio. Sentei estrategicamente numa poltrona que ficava cercada de várias outras vazias, protegido de qualquer contato com os socializáveis.
Puxei "Obrigado Pelos Peixes" e despreocupadamente continuei a lê-lo. Essa demasiada despreocupação fez com que minha guarda baixasse. Quando me dei conta, um deles veio na direção da minha poltrona. Tentei me manter positivo "Não, ele não vai sentar do meu lado". Mas a sua aproximação era iminente "Não. Não. Não. Ah, droga."
Entretanto, não me dei por vencido, na verdade encarei aquilo como uma afronta. Fixei meu olhar no livro, mas deixei a visão periférica em alerta para qualquer tentativa mais avançada de socialização. Na menor menção que fosse de socialização, eu daria aquele olhar distraído de quem está perdido na leitura.
Então foi aí que sofri a segunda afronta, ainda mais grave do que a primeira. O socializável, um mero pirralho de uns 16 anos, puxou um livro e não um livro qualquer, ele puxou um daqueles livrinhos pequenos que tem uma parte da Bílblia. Como quem está dizendo "Veja, eu também sei ler, e o meu livro é mais legal que o seu.".
A partir daí a coisa ficou pessoal. Eu precisava desbancar o pirralho. Percebi aqueles olhares de curiosidade pra ver a capa do meu livro. Levantei-o um pouco, só o suficiente para que o incauto socilizante pudesse ler o título e pensar "Que título intrigante!". Mas ele me desafiou uma terceira vez, abriu o livrinho de salmos com sua capinha cinza sem graça e começou a lê-lo.
Fiquei impassível, esperando o momento certo para partir para ofensiva, alguém com a idade dele não deveria ter muito estômago pra ler os salmos num ônibus sacolejante. Dito e feito, abriu e fechou o livro umas três vezes e batia o pé direito no chão do ônibus. Foi aí que dei o golpe final, risadas mais um menos altas, mas ainda tímidas, como de alguém que lê algo hilário e não consegue segurar o riso, coloquei o livro mais próximo do rosto como se não quisesse perder nenhuma letrinha cômica daquele capítulo, que nem era tão engraçado assim.
Ele fechou o livrinho de salmos e não o abriu mais. Eu continuei, triunfante, lendo meu exemplar de ficção científica da boa. Levantei quando chegou a minha parada e ainda pude dar um olhar de desprezo para o inimigo. Nem guardei o livro de volta na mochila, fui levando-o na mão para que todos vissem a arma da vitória.

terça-feira, novembro 22, 2005

Muitas, Muitas Coisas

Nesses últimos dias aconteceram muitas coisas de total irrelevância para maioria das pessoas que lêem isso aqui, mas muito importantes pra mim. Conheci pelo menos uma pessoa nova, soube um dado estranho sobre mim mesmo e uma coisa do futuro de uma grande amizade minha. Tudo isso em menos de uma semana, eu normalmente precisaria de alguns meses de solitária reflexão para isso (sim, pessoas aparecem do nada nos meus momentos de solitária reflexão).
Fui achado no limbo do orkut pelo Edmir, ele se tornou um novo integrante do grupo de RPG, com quem eu tenho conversas diárias pelo msn, que estranhamente sempre acabam envolvendo algum assunto mórbido. Cheguei a divagar sobre o quanto isso é estranho, mas como é muito divertido decidi divagar sobre o próximo texto que pretendo escrever para o S&R Letras junto com SIC.
Segundo o Tarô Zen, que apesar de ser zen é bem grosseiro, eu estava me tornando "O" cara, mas acabei ficando com ciúmes de mim me mesmo e me isolei do mundo para não ter de me dividir com mais ninguém. Mas o mais interessante que ele disse, foi que para entrar em reflexão não preciso ficar longe de nada, é só parar e refletir. Tá, ele é grosseiro, mas sou forçado a admitir sua sabedoria. Droga.
Por último e mais importante, descobri que estou astrologicamente fadado a ter uma séria briga com a Sue, isso mesmo, com ela, minha grande amiga, a mulher do blog mais legal do mundo. Então comecei a criar inúmeras situações hipotéticas e fiquei com duas, vício de ex-futuro cientista. Primeira situação seria: a briga só aconteceria depois de estarmos bem velhinhos e morreríamos logo depois de tanto estresse e faríamos as pazes no pós-vida. Segunda situação: Teríamos a briga logo e faríamos as pazes daqui alguns anos. Essa segunda me parece mais atraente, porque eu poderia aproveitar as muitas viagens que ela vai fazer para o doutorado e brigar um pouco antes dela viajar, assim ninguém sentiria saudades de ninguém e teríamos um reencontro depois que ela voltasse, com direito a slow motion e tudo mais. Em nenhuma das situações hipotéticas que criei havia a possibilidade de não fazermos as pazes.
Estou sem postar faz alguns dias, porque tenho feito muitas coisas no dia e só posto quando estou em situação de completo ócio intelectual. Quando dedico a manhã inteira para decidir o que vou escrever, e a tarde e a noite para me recuperar do desgaste.

sexta-feira, novembro 18, 2005

De onde saiu esse virão muitos mais

Tudo parecia muito natural naquela cidade, que não se sabe até hoje por que não está inclusa no mapa, mas aqueles 658 habitantes estavam de uma forma ou de outra inclusos no mundo e no trajeto daquele ônibus. Bem, do ônibus falaremos depois, por enquanto pra que o causo seja bem entendido é preciso explicar o que na verdade o que era a cidade de São José do Passo Curto, na verdade que o nome de batismo da cidade era Passo Firme, mas o Passo Curto foi incluído por que só com ele chegava-se pelo menos em dois minutos de um canto a outro da cidade.
Como toda cidade do interior do interior do Brasil, tinha um campo de futebol, uma igreja católica vazia, uma evangélica lotada, uma mercearia onde o dono era o ser de maior posse monetária do local, um posto de saúde vazio, uma fofoqueira, uma solteirona, uma professora bonitinha cantada por todos os marmanjos solteiros da cidade, muita criança, muito cachorro, muita galinha. Na verdade essa foi sempre uma dúvida, de onde vem os cachorros e as galinhas que habitam o interior? Se fossem inclusos no senso populacional triplicariam o número de habitantes.
Tudo parecia normal naquele domingo, todos os homens da cidade já haviam se reunido na frente do boteco, estrategicamente de frente pro campo, estrategicamente de frente pras igrejas, assim todos poderiam vigiar todos, a mulher vigia o marido, o marido vigia a criança e o dono da mercearia olha todo mundo e a fofoqueira não só olha como comenta. Mas aí a novidade veio dar, não na praia como cantou Gil em alguma canção, mas na praça, estrategicamente ao lado do campo, e das igrejas.
Um ônibus colorido por fora e por dentro, flores por todos os lados, nas cortinas das ultimas janelas, que forma mais extravagante de se ter privacidade? Além de tudo isso, “vou de táxi” no ultimo volume com a perfeita interpretação de Angélica no tempo em que era virgem e dizia que só dava depois de casar, bem antes de se envolver com o Mattar. A coisa florida, colorida e barulhenta fez interromper a partida de futebol, um alívio pros “Do lado esquerdo” que estavam perdendo de 5X2 pros “Do lado direito”, o padre nem chegou a colocar a hóstia na boca da beata que já estava de olhos fechados e boca aberta, o pastor calou e correu pra ver o que havia sido aquela intervenção no “vocês sabem como é que se vai pro inferno?” e lá de fora vem em alto e bom som a resposta esganiçada “vou de táxi, cê sabe...”.
Os habitantes foram para o centro da praça e de lá do ônibus colorido saem moças feias, mas maquiadas, na verdade muito maquiadas, na verdade muito, muito, muito maquiadas, sombras verdes, purpurina, batom vermelho sangue, rodas rosadas na bochecha, cabelos presos, perucas, maiôs coloridos, meias arrastão, sapatilhas douradas, confetes feitos de jornal, a música e um homem de cartola chega mostrando sua mercadoria, “As entregadoras de diversão” eram assim chamadas aquelas mulheres cheias de celulite, peitos caídos e algumas sem dentes. Segundo ele eram capazes de fazer qualquer um sorrir, da criança ao velho todos seriam contemplados com a diversão que elas haveriam de dispor. No começo as mulheres da cidade ficaram de nariz torcido, mas nada que os números de contorcionismo e malabarismo ao som de Wando e o seu “Você é luz e raio estrela e luar...”, pudesse resolver. Uma coisa a fofoqueira percebeu, um circo sem palhaço? Sem animal? Um cachorro se quer pra pular entre um aro, nada, só mulheres, elas faziam meia dúzias de apresentações e pronto, esse era o circo e essa era a diversão que o apresentador prometia? Muito estranho.
Quando deram oito horas da noite e apenas os homens encontravam-se no boteco, comentando do acontecimento daquela tarde que se tornaria o acontecimento do ano. Chega o apresentador, já sem a sua cartola, com uma blusa estampada, calça branca de vinco e um sapato branco bico fino, e disse: “Bem meus amigos, vocês não acharam que a diversão a que me tratei naquele momento, era apenas aquilo? Acharam? Pois se acharam vão se surpreender ao acharem a verdadeira diversão que eu trouxe para esta localidade” vira para um baixinho, careca bigodudo e pergunta “Que localidade é essa mesmo?” e ele baixinho assim como sua altura responde “São José do Passo Curto” e ele continua “Pois bem, homens moradores do São José do Passo Curto, entrem no ônibus para ver o que é diversão”.
O ônibus era iluminado por lâmpadas incandescentes. A luz amarelada sempre faz tudo parecer mais bonito do que realmente é, e nesse caso isso fazia uma diferença absurda, mesmo porque as sombras conseguiam esconder uma boa parte dos dentes faltosos, e as vilosidades das celulites. Magicamente, aquilo parecia o céu, que podia ser conseguindo bem mais barato do que com os constantes dízimos para o pastor.
As mesmas mulheres cheias de celulite, sem dentes, marcadas pelo tempo, maquiadas, muito, muito, muito, maquiadas estavam lá, só que dessa vez vestiam lingerie no lugar de maiôs coloridos e se exibiam ao som de “Meu sangue ferve por você” do Sidney Magal.
O homem de camisa estampada começou a andar com o ônibus, os homens começaram a consumir álcool, inclusive o dono da mercearia, muito disputado e como tinha mais dinheiro ficou com a única que possuía 32 dentes. O pastor poderia ser encontrado bem ao fundo do ônibus, escondido por um ramalhete enorme de margaridas lilás de plásticos, para que ninguém o visse, porque o sortudo, não ficou com a mulher com a arcada dentária mais completa, mas conseguiu a mais nova. Ela lembrava vagamente suas alunas, das aulas sobre a bíblia, as quais ele fervorosamente tinha a vontade de colocar as mãos por entre as pernas.
Outro homem realizado dentro do ônibus, era o jovem sacristão, cujo único contato com sexo havia sido durante as aulas de catecismo, onde gentilmente o padre havia lhe mostrado como ele deveria agir no dia de sua primeira noite com sua futura esposa. Este, que não se sabe se foi por inocência ou malícia, deixou escapar sua condição de moço virgem e foi prontamente atendido por duas das mais voluptuosas participantes daquele circo dos prazeres. Elas lhe exigiram que ficasse deitado enquanto elas lhes mostravam todas as partes do corpo feminino, todas as suas curvas e como ele poderia usar sua masculinidade para satisfazer sua futura esposa. Assim, ele teria mais uma vez experiências didáticas sobre sexo, tudo isso para o bem de sua futura e sexualmente satisfeita esposa.
E tudo isso podia ser conseguido com alguns míseros reais que suas esposas nem ao menos sentiriam falta. O condutor levou o ônibus para uma parte da caatinga, onde ele estacionou. Aqueles que se sentiam confortáveis o suficiente para levar a festa pra fora do ônibus, o fizeram. Algumas caixas de som foram colocadas para fora, para que todos aproveitassem o rei do romantismo, Amado Batista, embalar os amantes. O sacristão, que encarava tudo como uma experiência didática, aceitou o convite de suas professoras, para experimentar os prazeres do sexo sobre uma belíssima lua cheia.
O dono da mercearia e o prefeito da cidade quiseram relembrar seus tempos de jovens, quando agarravam suas assanhadas namoradinhas, e atuais esposas, na caatinga logo após a missa. O vinho era de má qualidade, mas fazia efeito rápido e era abundante. Todos já estavam embriagados e suados. A caatinga começava a exalar o cheiro de sexo e até os animais próximos seguiam os exemplo dos moradores. Os sons dos animais já se confundiam com os gemidos de prazer e as risadas satisfeitas, daquelas santas mulheres, que vieram ao resgate de São José do Passo Curto, que estava condenada a morrer de desgosto de si mesma.
Na cidade, a situação era outra. Algumas das mulheres já estranhavam o atraso dos seus respectivos maridos, as que não os tinham também percebiam o atraso do marido das que tinham, algumas outras sentiam falta dos maridos das primeiras, pois estes deveriam ter ido vê-las. Houve uma comoção geral, quando algumas delas resolveram ir ao bar local e encontraram-no aberto e vazio, nem mesmo o dono e o único garçom estavam lá.
O que teria acontecido aos homens? Uma delas percebeu a falta do ônibus das mesalinas, e por isso sentiu-se muito mais inteligente do que as outras, logo decidiu lidera-las. As mulheres da cidade, em fúria, armaram-se para ir resgatar seus maridos, das garras daquelas mulheres satânicas. Quebraram cadeiras do bar para usar suas pernas, fizeram tochas, algumas pegaram ancinhos. Tudo para poder restaurar a paz em sua cidade e em seus lares.
Na caatinga, os homens eram levados sempre a gastar um pouco mais em bebidas, cada gole fazia com que tudo fosse mais mágico e ainda mais prazeroso. O sacristão deu um verdadeiro urro, quando conseguiu chegar ao êxtase pela primeira vez. O pastor, que havia ficado no ônibus, explorava agora os glúteos da sua “jovem” parceira, o ramalhete de flores de plástico a muito havia caído e nada cobria seu rosto, mas ele já nem pensava mais nisso, precisava desesperadamente acabar com todas as suas fantasias ali, para que pudesse voltar a cidade e continuar levando sua vida e suas aulas. O prefeito trocava beijos ardentes com a sua “parceira”, beijava com vontade. O dinheiro da maioria dos homens já havia terminado, mas isso já nem fazia mais diferença. Por que não há dinheiro que pague uma noite inesquecível...
Texto produzido pela S&R Letras
P.S: Fomos eu e a Sue que escrevemos XD, eu sempre brincava dizendo que ela tem o "blog mais legal do mundo" e é claro quado ela me chamou pra fazer o texto, todas as minhas neuroses sobre "eu não sei fazer nada que preste afloraram" mesmo porque sou um grande fã do que ela escreve, mas no final das contas parece que tudo ficou bem :D

quarta-feira, novembro 16, 2005

Obrigado Gregos

Estava me culpando terrivelmente por não fazer nada na minha vida e ficar em casa, isolado do resto da humanidade, ouvindo música e lendo meus livros. Acabei de superar isso, ficar em casa ouvindo boa música e lendo bons livros é ótimo, estou contente com meu ócio intelectual, na verdade até me deprimo de pensar que ele pode chegar a um fim.
Se não fosse pelo ócio intelectual, jamais teria tempo de escutar a letra doentia de "Minha Namorada" na voz da Bethânia ou imaginar que em algum planeta possam haver mulheres com três seios que se vendem muito caro, como tem no "Guia do Mochileiro das Galaxias". A verdade é que o meu tempo todo está muito bem preenchido, estou até encaixando mais um tempinho do dia para voltar a desenhar.
Isso acabou se tornando uma das atividades do ócio, pensar em todas as coisas que posso fazer durante o dia, claro que toda essa programação pode ser feita na cama. Dá até para pensar em umas extravagâncias do tipo "Não, amanhã só vou acordar às onze, pular o alongamento e ir direto ao computador". Mesmo com muita preguiça de ir pra academia, tem tempo de sobra até para ela.
Ter tempo é algo maravilhoso, dá para fazer inveja a todos aqueles que ficam se queixando orgulhosos de que passaram o dia inteiro trabalhando e por isso não têm tempo para os filhos ou amigos ou até namorados. Esses são na verdade uns indecisos, porque ficam reclamando o tempo inteiro que trabalham demais, mas quando têm tempo livre ficam reclamando do quanto é estranho não ter que ir trabalhar.
Declaro-me nesse post como um vagabundo assumido e orgulhoso de sua condição. Ser vagabundo não é vergonhoso, já até assumi minha vagabundice para minha família, eles nem tentam mais me falar de empregos disponíveis, de concursos que podem ser feitos ou do número de empresas que poderiam usar alguém poliglota e inteligente, afinal se eu não fosse vagabundo jamais teria tempo para ser poliglota. Lembrem-se, sejam vagabundos e orgulhem-se disso, não há nada de errado com essa condição.

segunda-feira, novembro 14, 2005

Nola´s Bounce

Ela precisava de cd´s novos, quem sabe uma saia também. Por mais que deteste futilidade, admite que comprar é terapêutico. Aprendeu isso com a irmã, é sempre bom fazer compras com ela. Uma ligação breve e está tudo acertado: almoço, compras, depois o jantar, com todas as calorias que ela tem direito e mais vinho do que realmente precisava. Acabou dormindo na casa da irmã, por sorte tinha a sua pasta e e o corpo parecido com o da irmã.
Ele está semidesperto, esperando a música começar e nada. Talvez ela apenas esteja cansada e resolveu dormir mais uns cinco minutos. É, é isso, daqui a cinco minutos ela vai levantar, colocar o cd e ele terá mais um "Bom dia!" maravilhoso, como todos os outros. Passa os cinco minutos deitado brincando com os polegares , mãos sobre o peito. Nada de música.
Ela sentiu falta de seu cd, não importa se ela tem cinco novos, de manhã tem de ser aquele. Mas o dia anterior foi maravilhoso, nada poderia estragar o hoje. Nada a não ser uma pane geral no sistema, um cliente especiamente mal educado e uma cafeteira quebrada. Ela volta pra casa com vontade de explodir uma ilha, seria só uma ilha bem pequena e sem graça, ninguém iria sentir falta dela. Ora, se os franceses podiam explodir bombas atômicas no Atol de Biquini, que é uma maravilha da natureza, por quê ela não poderia explodir uma ilhazinha pequena e sem graça. Pelo menos ela podia matar a vontade de escutar seu cd favorito.
Como assim, ela não dormiu em casa? Faz meses que ela não sai de casa, nem aos sábados, que dirá durante a semana. Ela não conheceu ninguém, ele teria percebido. Fora ele, ela não deveria ter conhecido ninguém. Como pôde, depois de tudo que ele passou?Mas a culpa não era dela, ele havia esperado demais. É lógico que ela iria conhecer alguém, ela não é linda só aos olhos dele, mais alguém notou isso e agora ele a perdeu. Não, não poderia perdê-la, não assim, isso é cruel, ela não deveria ficar com outro, colocar sua música favorita pra outro, ser de verdade para outro e quase imaginária pra ele. Precisava tomar uma atitude.
No dia seguinta as coisas pareciam ter voltado ao normal. Não, elas não poderiam mais voltar ao normal. Ele acordou mais cedo, fez a barba para não aparentar ser mais velho que ela, se arrumou para ir trabalhar, mesmo alguns anos ele escrevsse em casa eandasse tudo por e-mail. Correu para o elevador:
- Bom Dia!
- Bom dia. Ela respondeu com um sorriso.
- No outro dia eu nem perguntei seu nome, seqüela minha - Pensando "Isso idiota, agora ela vai pensar que você é um drogado ou um velho gagá que teve derrame".
- É Joana.
- Ah, Alberto!
- Joana...ha..é que...eu não queria parecer assustador perguntado isso do nada, mas você gostaria de jantar comigo... um dia...qualquer um.

sexta-feira, novembro 11, 2005

Bordel às 11

A quinta feira começou péssima. Acordei cedo demais, irritado demais e desocupado demais. Tenho de pedir desculpas por ter sentido vontade de explodir o mundo, isso não me parece muito gentil. O resto do dia foi bem surreal.
Às 6 da manhã assisti um filme sobre um "Straight Camp" onde os pais mandavam seus filhos, para que eles passasem por um programa de 5 passos para se tornarem heterosexuais, todas as meninas eram obrigadas a se vestir como bonecas, com longos vestidos completamente cor-de-rosa - quase pink na verdade - os meninos vestiam-se como playmobils, com uniformes azuis. Assisti a mais bela cena de sexo entre duas garotas e essa nem é uma das minhas fantasias eróticas. Quando procurei o nome do filme na programação, ele simplesmente não contava na grade.
Às 7 desconfiei que o orkut planeja me matar. Ele fica me mostrando a mensagem " Você não terá mais que se preocupar em obter renda". Eu e Sue chegamos a conclusão de que ele é coisa do demônio e pretende roubar minha alma. Pobre orkut.
Às 4 da tarde me submeti a um peeling com ácido retinóico, que demorou quase duas horas pra terminar. Deixe que alguém fizesse uma máscara de ácido em meu rosto, o orkut deve estar conseguindo me deixar louco. Droga.
Fiquei até às 11 da noite na casa do Antonio, curtindo a companhia dele, Sue, Rafa e Gabriela. Entretanto, eu tinha de tentar salvar meu rosto às 6 da manhã, então fui pra casa. Aí aconteceu a coisa mais surreal do dia. Peguei um ônibus, que por sorte estava na parada assim que cheguei, paguei a passagem e me sentei. Foi aí que parei pra observar a estranha cortina com estampas tropicais na cadeira da cobradora, assim como o excesso de maquiagem que ela usava.
Depois percebi que o ônibus não usava lâmpadas fluorescentes, ou pelo menos eu achava que não. Ele tinha uma meia luz, que percebi vir das lâmpadas fluorescentes comuns, mas sua proteção era pintada alternadamente de verde e vermelho, com flores desenhadas nelas. Pensei "Que loucura, isso aqui parece mais um bordel", foi aí que o som foi ligado e começou a tocar "Vou de taxi", um dos clássicos do trash. Então me esparramei na cadeira e esperei chegar o meu ponto. Depois do bonde/bordel/trash nada mais poderia acontecer.

Where Are You Mr. Blue Sky?

Ela acorda às sete todos os dias, coloca a trilha de "Eternal Sunshine...", contando em músicas o tempo que leva para aprontar-se para o trabalho, nunca gostou de relógios. Músicas, essas sim sempre foram a melhor forma de ver o tempo passar. Quando chega a faixa sete ela já está desligando o player e fechando a porta.
Quando a música começa, ele está semi-desperto, fica deitado até o fatídico momento em que ela acabar com a música. Jamais foi acordado de um jeito tão bom como nos últimos meses. No início, tentou se fazer de mal-humorado, era um absurdo ser acordado antes da hora, mas nem quando estava casado e havia a possibilidade de acordar com um belo café da manhã em uma bandeja de vime, nem assim ele se sentiria tão bem disposto.
Ela sempre esquece de enxugar os cabelos. Esta no cantodo elevador, a cabeça encostada na parede, as duas mãos na pastinha preta, que destoa terrivelmente do seu uniforme. Apoia um dos pés no calcanhar e fica balançando-o enquanto assovia.
Hoje ele tem de vê-la, corre para escovar os dentes e dar um bom dia razoável e esquece de se calçar. Passa correndo pelo corredor, quase sem ter tempo de fechar a porta de casa, e aperta o botão do elevador. Quase imediatamente a porta se abre. Ela está ali, só pode ser ela. Olhando para baixo, ela é ruiva, isso era inesperado, os cabelos estão molhados, isso sempre dá um certo frescor a aparência, ela é bonita, isso era quase uma certeza. Agora era o momento:
-Bom dia! - Com um largo sorriso
-Bom dia! - ela levantou o rosto com um sorriso singelo, quase como a Mona Lisa, isso nem sempre é um bom sinal.
Ela voltou a olhar para baixo, mas estava olhando na direção dele. Esse era o momento dele usar o truque dos olhares que se encontram, se não fossem os seus pés descalços a primeira coisa que ele viu ao baixar o olhar.
O elevador chega ao térreo, ela sai primeiro com um sorriso apertado nos lábios. Ele fica no elevador, nem tenta fingir que iria fazer algo no térreo, ainda que a desculpa de pegar o jornal do dia estivesse pronta. No trabalho, ela se diverte sozinha, lembrando do desajeitado de pijamas, por que os homens bobos sempre lhe pareceram engraçadinho e não simplesmente bobos?
Dois dias depois, é hora de uma segunda tentativa. Seu orgulho já voltou quase todo e o embaraço do outro dia já passou. Hoje ele acordou mais cedo, se aprontou como se supostamente fosse ao trabalho em vez de fazer tudo em casa e passar por e-mail. Estava tudo cronometrado e asism que a sétima música tocou, ele se dirigiu a porta. Ela tinha se atrasado, saiu de casa ainda com uma torrada na boca enquanto colocava seus brincos.
Ele apertou o botão do elevador, logo que chegou ele se preparou. Quando disse "Bom dia!" fingiu tropeçar no entre a porta e o elevador. Deixou cair o dvd "Eternal Sunshine of The Spotless Mind", não são só as mulheres que podem usar o truque de deixar cair coisas. Ela juntou-o e entregou a ele:
-Você assistiu esse filme? - Ela perguntou reprovando-se pela pergunta quase retórica.
-Vi sim, eu... adoro esse filme - disse com um sorriso um pouco nervoso, se amaldiçoando por estar nervoso, mesmo tendo planejado tudo tão bem.
- Eu amo esse filme. - Ela baixou os olhos sem jeito, mesmo sem saber por quê estava tímida.
- É...eu sei. - Sorriu.

quinta-feira, novembro 10, 2005

Plantinha

Hoje, não consigo escrever nada sem me achar incrivelmente pretensioso, nos outros dias também me acho pretensioso, só não tenho problema nenhum com isso. Mas estando acordado desde as cinco da manhã, sem nem ter idéia do porquê, comecei a me achar um merda, só isso.
Hoje, eu acordei com fluxos de adrenalina pelo corpo, eles dão a sensação de que o coração está sendo comprimido e em mim isso causa uma angústia terrível. Não gosto de aventura. Quando isso acontece, sinto vontade de fumar uma carteira de cigarros e beber uma garrafa de uísque, ainda que eu nunca tenha experimentado os dois, escutar Placebo e Portishead. Acho que pelo menos deveria beber
Hoje, eu decidi que devo passar o dia inteiro burro, pra ver se isso passa. Nada de retórica, nada de ironia, nenhum comentário elaborado, nenhuma piada bem colocada. Não que qualquer uma dessas coisas sejam indicativos de inteligência, mas a maioria dos 5,999,999,999 acha que sim. Me excluí do número de seres humanos, porque recentemente descobri ser uma forma de vida extraterrestre, também estou desconsiderando os da minha espécie, que se danem eles.
Hoje, eu vou vegetar até pelo menos às 2 da tarde, porque às 3 eu tenho médico e até lá eu vou estar cansado dos outros vegetais. Além disso clorofila deve ser algo desagradável e preciso ter certeza de que vou comer algo que foi morto de verdade, assim não preciso pensar em matar mais nada o dia inteiro.
Hoje, eu vou tentar não explodir o mundo até a hora do almoço, porque depois disso eu vou estar ocupado.

terça-feira, novembro 08, 2005

É, Eu Já Sabia

A resposta para uma série de dúvias que eu tinha sobre a minha pessoa, é bem simples, porém aterradora, eu não nasci neste planeta. Já desconfiava disos faz alguns anos, mas tive certeza disso a ler "A Mesa Voadora", em um de seus contos Luis Fernando Veríssimo descreve ua entidade alienígena que ele denomina "o enfastiado". Essa entidade come pouco e não gosta de muitas coisas. Essa foi a prova cabal.
Desde sempre conhecido, na verdade rotulado, por meus estranhos hábitos alimentares como anormal. Percebi que encaixava-me perfeitamente como um enfastiado. Além do famoso hábito de comer feito passarinho, não consigo ingerir massas, como pizza ou lasanha, ou coisas consideradas deliciosas, como açaí, maniçoba e outras comidas típicas - excluo dessas o pato no tucupi, porque ele é um caso a parte, não o como porque considero que um animal que não nada nem anda direito, não deve ser uma boa refeição.
Quando criança costumava afirmar ter vindo de um outro planeta. Afirmação utilizada até hoje pela minha progenitora terráquea para me deixar embaraçado na frente de meus amigos terráqueos. Entretanto, agora ela não consegue mais me enganar, não importa o quanto ela diga que eu era um criança chata logo após o parto (Sim, desde o parto...), nem que mostre aquelas ultrasonografias - alguém acredita nelas? Ela não conseguirá mais esconder minha verdadeira origem de mim.
Além disso, outros indícios, como: minha estranha obsessão por sapatos e a crença de que preciso de pelo menos um par extra de pés para usá-los; minha inabilidade para lidar com terráqueos desconhecidos - estou a três meses utilizando a mesma ficha na academia, porque troquei de horário e o máximo de vocalização com os outros professores é "oi"; e os meus fortes de impulsos de devastação global. São fatos que confirmam minha origem extra-terrena.
Só tem algumas pequenas implicações nisso: Por que me deixaram aqui? Como é que eu faço pra voltar? De onde eu vim? Quem sou eu? Por que metade das minhas perguntas é igual as de todo mundo?

segunda-feira, novembro 07, 2005

Doutrina da Não Limpeza

Não, isso não tem nada a ver com higiene pessoal, mesmo porque a prezo bastante - em mim e nos outros - e esse blog não vai falar de coisas nojentas, pelo menos não por enquanto. Ela se refere a objetos inanimados e outras coisas que não conseguem se limpar sozinhas, como animais de estimação ou bebês. Consiste basicamente em não limpá-las e deixar ou convencer outra pessoa a fazê-lo.
Ela foi criada porque em um acesso de compulsão por limpeza, decidi que as teclas do teclado estavam sejas demais. Peguei um algodãozinho, enxarquei de álcool e comecei o esfrega-esfrega, lógico que a partir daí as coisas tinham de se tornar pastelão. Primeiro porque de alguma forma eu consegui desligar o computador pelo teclado, assim descobri que existe uma tecla que o desliga. Embora ainda não saiba qual é, pelo menos agora sei da sua existência. Encarei isso como uma forma de me concentrar mais na limpeza, mesmo que seja muito, muito chato mesmo fazê-la sem música.
Lógico que a concentração extra me fez perceber que o pobre teclado estava incrivelmente cheio de poeira por dentro. Então decidi que iria exercer uma das funções básicas do homem, montar de desmontar coisas, que junto com mijar de pé e doar esperma fazem um importante tripé na nossa sociedade. Pobre, pobre teclado.
Para isso precisava de outro apetrecho, um símbolo da masculinidade, uma caixa de ferramentas com algumas chaves de fenda. Na falta de uma peguei o estojinho de couro da minha irmã onde ela guarda as chaves de fenda dela, mesmo sentindo vergonha por ela as ter e eu não. Repetindo metalmente os ensinamentos de Ana Maria Braga "Parfuzar é no sentido horário e desparafuzar é no sentido anti-horário. Menina, assim você vai montar sua própria estante de madeira!". Peguei, de forma bem viril, uma chave de fenda estrela, olhei-a com a convicção de estar fazendo algo importante, só para me dar conta de que ela não tinha o tamanho certo "Puta que o pariu, isso não tá dando certo!".
Depois de finalmente pegar a chave certa e retirar todos os parafusos, era só retirar a parte de cima e limpar certo? Errado, porque o teclado também tem uma parte de encaixar. Aí começou, puxa de um lado, puxa do outro "Merda, eu vou acabar quebrando esse negócio". Dito e feito, além de lascar o polegar esquerdo, quebrei um dos encaixes, mas finalmente consegui separar as partes do teclado.
Infelizmente, nesse ponto, milhões de pequenos negocinhos verdes de borracha, os quais eu ainda desconhecia, já tinham saído de seus respectivos lugares. Descobri uma pequena família de aranhas vivendo ali; despejei-as sem o menor sentimento ecológico, depois de certo tempo ser ecologicamente correto é um saco.
Todos os milhões de negocinhos de volta aos seu lugares, tudo limpinho, é só colocar as partes juntas e fechar o teclado para todo o sempre. Exceto claro, se você encontrar uma teiazinha de aranha que displicentemente você deixou escapar e depois de tudo que havia passado para limpar a droga do teclado, não poderia deixar ali, poderia? Então, com todo cuidado peguei um pedaço de algodão, tirei a teia e gentilmente fui levantado a mão. Entretanto, algumas fibras de algodão prenderam em alguns dos milhões de negócios verdes de borracha e os lançaram pra baixo da mesa do computador. Maldito algodão, malditas fibras.
Então, eu, o pretenso macho, tive de ficar de quatro em baixo da mesa do computador atrás de 4 pequenos negócios verdes de borracha - patético. Só para levantar, bater a cabeça e espalhar muitos outros pela mesa. Nesse momento recorri a todos os rituais conhecidos pela sociedade moderna para manter a calma em situações estressantes, respirei fundo, contei até dez, pensei até em contar carneirinhos, mas o pêlo deles é parecido demais com algodão para que eu não sentisse vontade de trucidá-los. Curiosamente, a última alternativa foi a de melhor resultado, a cada pequena coisa verde de borracha que voltava ao seu devido lugar, um pobre carneirinho sofria uma morte terrível e inexorável.
Ignorando qualquer outra coisa que me impedisse de finalmente fechar minha caixa de pandora tecnológica, encaixei o teclado, posicionei os parafusos, entoei o mantra "Parafuzar - Sentido horário, Parafuzar - Sentido horário...". Tudo isso só para me dar conta do sumiço da chave de fenda estrela. Depois de vasculhar o lixeiro (sim, quem nunca jogou algo que não deveria no lixeiro, que atire a primeira pedra) e ralhar com a minha pobre mesa que tem a compulsão de engolir coisas, peguei uma outra chave qualquer e parafusei tudo.
Então era só entrar na internet e fazer um drama sobre tudo que havia me acontecido na última hora. Exceto pelo fato de que o teclado não estava funcionando, nem as poucas luzinhas que ele tem funcionavam, nem mesmo o ctrl+alt+del, a arma final contra todos os problemas da informática atual, funcionava. Desparafuzei tudo de novo, chequei todos os pequenos negócios verdes de borracha, todas as outras coisas, e nada, absolutamente nada parecia fora de lugar.
Fiz o que sempre faço quando um problema parece não ter solução, fui fazer outra coisa completamente diferente e ignorar o problema por algumas horas. Quando voltei, descobri a chave de fenda estrela do tamanho certo para os parafusos do teclado em cima da mesa do computador, completamente dentro do meu campo visual e, muito provavelmente, ignorada pela minha pessoa antes.
Passei de novo pelo processo de abrir o teclado e ver que ele não funcionava, comode costume me deu vontade de bater minha cabeça contra alguma coisa, mas dessa vez fiz diferente. Dessa vez eu levei o teclado até a minha testa e depois de uns dois golpes, me ocorreu que o fio dele não deveria ser tão longo. Aparentemente, de tanto ser puxado de um lado para o outro o fio havia sido desplugado do computador. Então eu, o macho derrotado, coloquei de volta o plugue e desliguei o pc, não tinha forças pra fazer nada informatiquesco. Pobre, pobre macho.
Declarei nesse momento que qualquer coisa na minha vida que não tenha a capacidade de se limpar sozinha ficará suja e se alguém vier com o falso moralismo "Ai, teu computador tá tão sujo" receberá a resposta "Então limpa, porra".
Depois do incidente duas teclas foram perdidas e o "a" começou a desaparecer.

sexta-feira, novembro 04, 2005

Extra, Extra !!!

Resolução importantíssima, eu preciso aprender a coznhar. Não que eu esteja cansado de pão com queijo gelado, mas é que antes era só a sensação de gelado e ultimamente tem incluído gelo de verdade, muito por sinal. Isso não deve estar certo.
Cheguei a conclusão de que não me transformei em uma toupeira, porque mesmo vivendo debaixo da terra, elas são até bastante ativas e eu tenho dormido demais. Na verdade, virei um urso-marrom com complexo de inferioridade, isso explicaria porque o buraco debaixo da minha cama é tão desconfortável e porque eu sou tão espaçoso. Além disso, meu período de anti-socialidade pode ser caracterizado como um longo período de pseudo-hibernação, bastante comum aos ursos.
Descobri que o meu ego deve ter pelo menos alguns quilômetros de largura. E é por isso que só consigo escrever sobre mim, nada de canalizar criatividade para algo que seja realmente importante - para os outros lógico, porque pra mim é muito importante falar de mim.
Finalmente, decidi que não sobreviverei a pandemia do amor. Primeiro, porque se tornar vegan é um passo muito importante e está em cima da hora pra decidir isso. Segundo, porque pra me tornar um hare teria de me tornar vegan, o que seriam dois passos importantes sem ter tempo pra tomar nenhum dos dois. Além disso, os hare só podem fazer sexo depois do casamento e eu vou precisar fazer todo o sexo que puder antes da pandemia me pegar.
Ah, o dia não foi um " Bad Hair Day", não sei se foi porque a Sue disse que seria um "Sue Good Day", mas consegui fazer uma boa parte das coisas que disse que faria ontem e nem li os contos do Dostoiévski.

quinta-feira, novembro 03, 2005

Bad Hair Day II

Ontem eu não fiz metade das coisas que pretendia fazer. Na verdade eu só comprie meu livro e fui a academia, o que acabou não sendo uma experiência tão boa assim. O dia inteiro acabou não sendo um experiência tão boa assim.
Primeiro eu perdi para o espelho, mesmo juntando todas as minhas forças esse malévolo objeto achou um jeito de me derrotar - mostrou uma espinha. Pelo menos eu consegui fingir que o almoço era café da manhã. Coloquei tudo que precisava na mochila e fui comprar meu livro. Em uma patética tentaviva de não pensar que estava num dia ruim, decidi ir escutando música, gosto de pensar que a vida tem trilha sonora e gosto também do Paulinho Moska, o problema é que esqueci do "Revolucionário Sistema Anti-Choque que Proteje o Seu Cd!" do meu discman, ele consiste basicamente em pausar a música a cada mínimo baque - odeio publicitários.
Andando de forma peculiar, para evitar baques, e de cabeça baixa, para evitar os olhares que o modo peculiar de andar pode atrair. Acabei parando em uma sombra, esperando o sinal ficar vermelho para poder atravessar na faixa, é bom não arriscar nesses dias. A sombra na verdade era feita por uma senhora negra, muito bonita, que com seu salto devia ficar com mais de um metro e oitenta de altura, e seu marido, tão alto quanto ela, mas nem de longe bonito, e eu estava estranhamente parado logo atrás dos dois, que devem ter achado a cena tão estranha quanto eu, felizmente o sinal ficou vermelho logo (ridículo né? Mas aconteceu).
Na academia, como já era de se esperar, aquele profesor estranho, que sempre surge do nada, coloca a mão no meu ombro e faz uma pergunta meio idiota, apareceu do nada, colocou a mão no meu ombro e falou "Malhando, hein?!". Aparentemente ele é inofensivo, mas ontem eu tive vontade de lançar ondas psiquícas negativas e dizer "Tira... a mão... de mim!!!", porém optei pela consagrada expressão Mona Lisa. Depois, mais um dos sociáveis tentou socializar comigo "Caraca mano, tô morto", num tom forçosamente heterossexual que não lhe parecia próprio. Em vez de mais ondas psíquicas e uma frase do tipo "Morto por quê? Tá tendo um ataque cardíaco? Tá se afogando?", optei pela Mona Lisa de novo. Maldita Síndrome do Engolidor de Sapos.
O orkut resolveu ter atitudes mais estranhas que o normal, como se já não fosse estranho o suficiente ele ter uma atitude. Ele resolveu que eu tenho uma mensagem não lida, antes ele dizia que eu tinha menos duas e eu já tinha me acostumado com isso, mesmo sem ter mensagem alguma. Além disso, ele tentou me convencer de que não devo aceitar o depoimento da Sue, porque toda vez que clicava "aceitar", ele voltava a janela para o estado que estava antes e o vermelho do "recusar" sempre estava mais evidente que o verde do "aceitar". A cada três capítulos do "A vida, o universo e tudo mais" eu voltava pro pc e clicava em "aceitar", acabei lendo metade do livro. Não consigo deixar de achar que há algo de maligno no orkut.
Sei que hoje ainda não é amanhã e que escrevi esse texto como se fosse, mas decidi que amanhã será um "bad hair day" e que vou ficar em casa, terminando de ler um livro de contos do Dostoiévski, sempre ajuda ver alguém em situação pior do que a sua e o cara, além de ter sido preso na Rússia czrista, está morto.
Ah, eu comprei mais frutas de marzipan pra ver se muitas coisas deliciosas e insignificantes juntas, poderiam ser significantes. A resposta é não, mas ainda sim estavam muito boas.

Bad Hair Day

"Bad hair day" é aquele dia que você acorda e percebe que tem uma pequena nuvem negra em cima da sua cabeça. Você acha que mais do que nunca a Lei de Murphy deve estar te pentelhando. Você acorda já ao meio dia e perde o café, que é a refeição mais divertida do dia. Tem certeza que o resto do dia vai ser um inferno e fica ainda mais puto da vida com isso.
Então, decidi dizer " foda-se", porque eu não quero um dia ruim; vou dizer pro espelho que estou lindo por mais que ele tente me provar o contrário; vou dizer pro meu almoço que ele é café da manhã, então ele vai se tornar a refeição mais divertida do dia; vou me masturbar, porque gozar sempre dá uma aliviada na tensão; e vou supreender a todos os que me acham pessimista, e quem sabe deixar alguns deles alegres com isso.
Pretendo comprar "A Vida, o universo e tudo mais" (O terceiro livro da série do guia do mochileiro das galáxias), descobrir o segredo da vida e ficar muito rico com isso, ou pelo menos ter uma tarde divertida divagando nas afirmações malucas do Douglas Adams. Comer as minhas duas últimas frutinhas de marzipan, que são deliciosas e insignificantes. Mandar uma mensagem pro Gustavo dizendo que ele não deve se preocupar com o terceiro livro e sim com o quarto, porque esse só Deus sabe quando vai chegar. Vou até a academia, que anda bastante negligenciada nesses últimos tempos. Agora só falta sair do computador e fazer tudo isso...

terça-feira, novembro 01, 2005

Pandemia do Amor

Conversar coma Sue é sempre algo inspirador. Sempre conseguimos chegar a um denominador comum que é no mínimo inusitado. O assunto da nossa última conversa - e uma de nossas pautas mais frequentes pra ser honesto - foi "relacionamentos". Com nossas vidas amorosas meio estagnadas e um certo tempo ocioso, começamos a filosofar no assunto.
A primeira constatação foi de que parece que atualmente nenhum relacionamento, por mais perfeito que pareça, dá certo. Alem disso, muita gente está triste o tempo todo pelo fato de não conseguir alguém. Isso gera um paradoxo, porque nunca teve tantos seres humanos no planeta, somos mais de seis bilhões e uma grande parte não consegue manter um mísero relacionamento estável que seja.
Mas aí é que está o problema, seres humanos demais. É dificílimo escolher com tanta opção. Como é que eu vou encontrar minha alma gêmea tendo dois graus de astigmatismo e e alguns bilhões de seres humanos pra procurar? Os momentos mais favoráveis pra nascerem relacionamentos estáveis são: os grandes desastres, holocaustos ou pandemias. Além de provocarem momentos dramáticos levando a sitações românticas, eles diminuem drasticamente o número de seres humanos. Na época da peste negra você jamais teria a preocupação de se apaixonar por outra mulher ou outro homem, porque você dificilmente encontraria algum outro.
Por isso resolvemos eleger a gripe do frango como o grande cupido da pós-modernidade - cansamos daquele gordinho cabeludo, que é irritantemente zarolho. Ela trará a paz mundial, porque só deixará no mundo os vegans e os hare krishna, e o amor deixará de ser um problema.