sexta-feira, novembro 25, 2005

O Bem Contra o Mal

Recentemente descobri que em cada mochila minha há pelo menos dois livros, geralmente não terminei nenhum deles. Sim eu tenho várias mochilas, mas não tantas quanto os pares de sapatos. Não, eu não tenho desejo de troncos extras para poder usá-las ao mesmo tempo, isso só acontece com os pés. Nessa quarta coloquei mais um na azul e me mandei pra aula.
Estava despreocupado quanto aos socializáveis, ônibus vazio. Sentei estrategicamente numa poltrona que ficava cercada de várias outras vazias, protegido de qualquer contato com os socializáveis.
Puxei "Obrigado Pelos Peixes" e despreocupadamente continuei a lê-lo. Essa demasiada despreocupação fez com que minha guarda baixasse. Quando me dei conta, um deles veio na direção da minha poltrona. Tentei me manter positivo "Não, ele não vai sentar do meu lado". Mas a sua aproximação era iminente "Não. Não. Não. Ah, droga."
Entretanto, não me dei por vencido, na verdade encarei aquilo como uma afronta. Fixei meu olhar no livro, mas deixei a visão periférica em alerta para qualquer tentativa mais avançada de socialização. Na menor menção que fosse de socialização, eu daria aquele olhar distraído de quem está perdido na leitura.
Então foi aí que sofri a segunda afronta, ainda mais grave do que a primeira. O socializável, um mero pirralho de uns 16 anos, puxou um livro e não um livro qualquer, ele puxou um daqueles livrinhos pequenos que tem uma parte da Bílblia. Como quem está dizendo "Veja, eu também sei ler, e o meu livro é mais legal que o seu.".
A partir daí a coisa ficou pessoal. Eu precisava desbancar o pirralho. Percebi aqueles olhares de curiosidade pra ver a capa do meu livro. Levantei-o um pouco, só o suficiente para que o incauto socilizante pudesse ler o título e pensar "Que título intrigante!". Mas ele me desafiou uma terceira vez, abriu o livrinho de salmos com sua capinha cinza sem graça e começou a lê-lo.
Fiquei impassível, esperando o momento certo para partir para ofensiva, alguém com a idade dele não deveria ter muito estômago pra ler os salmos num ônibus sacolejante. Dito e feito, abriu e fechou o livro umas três vezes e batia o pé direito no chão do ônibus. Foi aí que dei o golpe final, risadas mais um menos altas, mas ainda tímidas, como de alguém que lê algo hilário e não consegue segurar o riso, coloquei o livro mais próximo do rosto como se não quisesse perder nenhuma letrinha cômica daquele capítulo, que nem era tão engraçado assim.
Ele fechou o livrinho de salmos e não o abriu mais. Eu continuei, triunfante, lendo meu exemplar de ficção científica da boa. Levantei quando chegou a minha parada e ainda pude dar um olhar de desprezo para o inimigo. Nem guardei o livro de volta na mochila, fui levando-o na mão para que todos vissem a arma da vitória.

3 comentários:

Anônimo disse...

Adorei esse texto! E viva a sci-fi! kkkkkkk

Sic disse...

Adorei kkkkkk e o livro é bom? estou com um certo preconceito, só falta ele pra mim :D!

P.S1: Estou com saudades de você no meu dia-a-dia discutindo formas pouco ortodoxas de felicidade.

P.S2: Tô com saudade

P.S3: Tô com...ah! tu já sabe!

Anônimo disse...

Rafa, adorei o estilo do teu blog. Li ele o máximo que pude e achei todo muito leve e de extremo bom gosto. Infelizmente eu sempre recaio na baixaria lá pelo meu lado...kkkk Mas td bem, isso faz parte da Fletcherlândia tb. :D
Ah, tenho que te falar que estou viciado no Cd que tu me deste do Portishead... Agora que fui realmente descobri-lo, pois comprei um DVD com um show deles magnifico.