sábado, julho 22, 2006

Broken Hearts´ Club

Amor não é o melhor dos assuntos no momento. Decidi remontar o clubinho, o remendo não deu jeito baby. O problema é que o amor me é colocado como uma competição. E ainda que eu seja jovem, mas já tenha amado algumas vezes, eu sinto que só me sobraram umas medalhas de honra ao mérito...
Trilha do Post: Wise Up -Aimee Mann

quarta-feira, julho 19, 2006

O Circo

Haroldo e Clarissa tinham como única garantia dos seus laços de sangue a palavra de honra de sua mãe, que sempre lhes garantiu que eram irmãos. Pois ambos tinham grandes suspeitas de que duas pessoas tão diferentes jamais poderiam ser irmãos. Haroldo sempre sério demais, jamais corria, provavelmente porque ele tem um desses nomes ficam muito bem em adultos, mas que são difíceis de imaginar em uma criança. Enquanto Clarissa parecia aproveitar a infância pelos dois.
Num dia desses que faz bastante sol e as nuvens quase não aparecem, Haroldo estava sentado na escada sob a sombra, observando a menina subir em uma árvore, esperando o exato momento em que ela fosse cair e ele pudesse dizer algo do tipo "Te disse pra não subir na árvore". Quando Clarissa chegou no ponto mais alto deu um grito, o garoto caminhou para baixo da árvore curioso pra saber em que confusão ela havia se metido:
- Que você fez agora Clarissa?
- Sobe aqui, rápido.
- Não vou subir. O que aconteceu? Ficou presa?
- Claro que não. Sobe logo pra ver uma coisa.
- Não vou subir numa árvore, desce logo.
- Você quer ver ou não? É um circo.
Mesmo contrariado ele preferiu subir, nem que fosse pra explicar pra irmã que o que ela via não era um circo, já que ela nunca tinha visto um e ele pelo menos tinha visto uma figura de um, o que deveria ser suficiente para atestar à irmã que ela estava errada. A subida foi um pouco difícil por causa da falta de prática e teria sido decepcionante, caso a visão não fosse recompensadora. Era um circo de verdade, com uma grande tenda amarela, uma bandeirola triangular azulada na ponta e grandes flâmulas descendo até o chão. Mesmo com uma aparência desgastada, parecia ter a mágica de todo circo. Na verdade, se algum dos poucos magos ainda vivos passasse por ali, poderia atestar com certeza que ali tinha muita mágica boa:
- Vamos até lá.
- Não, a mãe não vai deixar e não temos dinheiro mesmo.
- Ah, a gente vai só dar uma olhada e volta. Vamos, se você não for a mãe não deixa eu ir também. Deixa de ser chato.
Ainda que relutante, o menino aceitou, porque no final ele também queria muito ir:
- Mas nada de correr, vamos andando.
Andaram em direção a grande tenda, quando chegaram bem próximos notaram o quanto ela lembrava um enorme castelo, mas no lugar do fosso havia um grande canteiro de margaridas, como elas haviam crescido ali do dia pra noite os dois não souberam dizer, mas imaginaram que devia ter algum daqueles mágicos que tiram coisas do chapéu. Um homem com um grande bigode e cavanhaque deveria ter tirado as flores da cartola e as atirado no chão, assim seria bem fácil colocar todas elas ali.
Muitas pessoas estavam entrando para a primeira sessão. Os dois estavam desapontados porque sabiam que sua mãe não tinha como levá-los ao circo. Clarissa começou a seguir a cerca para o lado oposto ao da entrada. Logo percebeu que fora ao homem que parecia um típico domador, que estava muito ocupado pegando o dinheiro das entradas, não havia mais ninguém do lado de fora:
- Haroldo, vamos pular a cerca e ...
- Não, não vamos. Se nos pegarem assistindo o show sem pagar vai ser uma vergonha.
- Mas .. A gente fica só um pouquinho e depois sai. Eu queria muito ver o leão...
Em qualquer outra ocasião os argumentos dela não seviriam de nada, mas o garoto queria ver como era um circo por dentro tanto ou até mais que a irmã:
- Tá, mas só um pouco heim.
Num só dia Haroldo já havia subido em uma árvore e pulado uma cerca, pra ele não faltava acontecer mais nada. Quando passaram pelo canteiro Clarissa pegou uma margarida lilás, jamais havia visto uma dessa cor. Seu irmão levantou um pouco a lona e assim que ela passou ele se jogou pra dentro. Como não tinha o costume de fazer esse tipo de coisa ele acabou caindo. Assim que ela o ajudou a se levantar eles ouviram uma voz estranha:
- Muito bem, entre as coisas no meu contrato está impedir que pesssoas tentem entrar por outro lugar que não seja a porta...

sábado, julho 15, 2006

Um Homem de Sorte (Insignificante Vida Indie)

Esse texto é uma sessão "insignificante vida indie".
De acordo com o quase resultado de um teste de QI feito an internet, eu tenho entre 120-144 de QI, como eu preferi não pagar pelo resultado isso foi tudo que fiquei sabendo. É um resultado relativamente bom. Minha mãe já sabia disso faz tempo. Uma vez me contou sobre como aos oito anos convenci minha dentista a parar de fumar, ela apenas desconsiderou que a mulher é burra como uma porta. Uma eu lhe disse que se ela não quisesse que eu respondesse deveria ter pedido um filho burro. Da minha parte acho que ela deveria ter mostrado grande arrependimento em não ter feito um aborto, mas ela é uma senhora bastante simpática e nem deve mais lembrar desse episódio. Sabe, uma pessoa relativamente inteligente deveria ter uma vida supostamente interessante, mas todos os meus momentos cinematográficos sempre parecem pastelão. Pelo menos eu posso escolher a trilha sonora, e essa foi feita pelo Jon Brion, acredito que seja esse o nome, é o mesmo que fez a trilha de Brilho Eterno, tem um pouco de jazz também. Acho que é uma questão de adiar a vida, igual ao texto que eu não escrevo, pra não dar o gostinho do Edmir dizer que ele jogou essa aventura antes dela virar texto, ou a porcaria do ciso que tá empurrando toda a minha arcada dentária pra frente. Me disseram que a gente tem de fazer é na doida, porque é só assim que a vida sai, mas eu insisto em faezr planos e pensar milimetricamente nas variáveis que podem influenciá-lo, até descobrir que há muitas delas, muitas mesmo, mais até do que eu gostaria. Eu ainda tenho sete anos pra ser uma daquelas pessoas interessantes de vinte e poucos anos que não sabem o que fazer da vida. Que droga.

sexta-feira, julho 07, 2006

Me Ama, Por Favor

- Renato eu tem um câncer crescendo em mim.
- O quê? - ele pula da cadeira com taquicardia, essa mulher ainda o mata do coração.
- É isso que tu ouviu. Eu vou ter câncer de próstata e a culpa é tua.
- Porra Maria, pára com isso, Tu ainda me matas do coração.
- Renato, eu cortei meu pau fora por tua causa, porque tu dissestes que só podia se casar se eu fosse mulher, mas tu só me come se for que nem viado. Por que isso Renato?
- A gente casou, não casou? Que tu queres mais, Maria?
- Que tu digas que me ama. O meu pau, eu cortei o meu pau fora porque eu te amo. E tu? Tu não ligas a mínima pro meu amor.
- Pára com isso, vem cá, vem meu bem. Dá um beijinho.
Ela dá um beijo arrependido, com os olhos fechados e lábios umidecidos e mornos:
- Vo fazer um café.
Ela pega o pó do café, pensa em coá-lo na calcinha. Nojento demais, não virou mulher pra ser uma dessas desesperadas. Dramática talvez, até folclórica, mas desesperada não. As panelas ficam no armário de baixo, o saquinho branco é da soda caústica. Um olhar mais demorado na embalagem. Fica olhando a água ferver, as vezes olha de canto de olho pra porta do armário:
- Toma o café.
- Vem cá, deita comigo vem.
Todo dia ela faz o café olhando pro monstro dentro do armário.
Os sábados são sempre horríveis, é dia de surra. Ele sempre chega às 19 prontinho, com o cinto na mão, a fivela presa nos dedos:
- Ai, pára Renato. Não faz isso meu amor.
- Vem cá, porra.
- Não meu amor, não faz isso.
Quando sai sangue ele pára, fica satisfeito. Caí no chão chorando:
- Oh Maria, meu amor me desculpa, meu amor.
- Tu só diz que me ama quando tá bêbado.
- Mas eu te amo meu amor. Eu te amo. Mas Maria, é que não é de verdade.
- O que não é de verdade?
- Não é buceta de verdade Maria - ele chora coma cabeça encostada na coxa dela, passando a mão até próximo a virilha - Não é buceta Maria...
Ela levanta, ajeita a cabeça dele no chão:
- Onde tu vai amor?
- Vou preparar um café pra ti.
Na cozinha ela coloca a mão por dentro da calça, não importava quantos dedos ou força que ela fizesse, nada nem um pouco de prazer. Até a dor que sentia era pouca. Abre o armário de baixo, dessa vez ela pega a panela e o saquinho branco. O pó de dentro é azul, ela pega só uma pedrinha:
- Tá ruim o café, Maria.
- Tá sem açúcar, pra passar o porre.
- Ah, brigado Maria. Tu me ama né?
Coloca a cabeça dele no peito e faz um carinho:
- Lógico que amo. Cortei meu pau fora por tua causa. Não foi?
No outro dia Renato vomitou tudo o que podia. Passou mal o resto da semana também. Quando foi no médico o diagnóstico:
- O Sr. Está com Gastrite.
- Ha meu amor, vou ter de preparar teu almoço todo dia agora.
- Maria, tu és uma santa - passa a mão nos cabelos dela e sorri satisfeito com a devoção da mulher.
O pobre só piora. Ela prefere usar as pedrinhas, amassa com o dedo e salpica na comida:
- Só tu cuida de mim Maria. Tu és uma santa.
- É porque eu te amo.
Um mês depois ele morre, magro, sem sangue. Uma semana depois Maria é presa por assassinato "Travesti é acusado de matar companheiro envenenado". Maria aparece sorrindo pra câmera sentada na delegacia, as mãozinhas na coxa e as pernas cruzadas.