quinta-feira, janeiro 31, 2008

Momentos Kodak

- Credo, ele tá dando a entender que não quer a gente na casa dele!
- Você está enganado, eu estou falando claramente que não quero vocês na minha casa...

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Sorvete

Naquele dia decidiu tomar um sorvete, a cidade inteira parecia cair sobre ela, a chuva torrencial a oprimia, os lugares para se proteger da chuva, com excessão da sua casa, eram sufocantes, por isso mesmo o sorvete era ideal, aquele de creme meio sem gosto do McDonald's com uma porção de M&M's dentro.
Vestia uma blusa leve com estampa de flores discreta, uma saia na altura dos joelhos e sandálias de dedo, roupa de usar em dias quentes. Levava também um guarda chuva bem grande, preto e branco. Bastava pensar que era um dia sem essa chuva, cujo maior problema era criar uma tendência a depressão, que afeta muitas pessoas, ela inclusive.
Resolveu que iria andando, quando chegou, resolveu seguir em frente, parar no próximo quem sabe, andou e andou...

sábado, janeiro 26, 2008

Momentos Kodak

- Pára com isso?!
- O quê?!
- Menino, pára de jogar os bichinhos na criança.
- Mas ela adora, tá rindo, ó só.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Bloqueio na Hora de Escrever

Ela sentou, decidia a escrever, entendia que a única forma de vencer a falta de inspiração era começar a escrever. Decidiu também que iria fazê-lo à moda antiga, pegou uma meia dúzia de folhas para fazer tudo manuscrito, em menos de cinco minutos já estavam todas no chão. configurando a clássica cena do escritor com bloqueio. Optou pelo caderno ao invés de pegar mais folhas, o barulho das folhas arrancadas preenchia um pouco o lugar. "Nessas horas eu deveria fumar", sempre teve a impressão, um misto de cientificismo e conhecimento leigo, de que o cigarro serviria para clarear as idéias, mesmo assim nunca fumou.
Lembrou de um filme, cujo nome e a maior parte da ação já havia esquecido, em que um escritor era trancado pelos filhos em um fosso com comida e sua máquina de escrever, para forçá-lo a voltar a escrever, também lhe deixando o conselho de que sempre poderia começar com a senteça "The cat sat on the mattress...". Não achava os gatos animais especialmente inspiradores, mesmo com toda sua simbologia, não gostava muito de simbologias baratas também.
Pediu a Roberto que lhe trouxesse um pouco d'água, mas aparentemente ele só escutara "Roberto, #+$*/@& ?" , porque seu único movimento foi levantar o controle e mudar o canal. Experimentou perguntar se ele gostaria de fazer sexo desesperado e exibicionista para os vizinhos do prédio em frente, mas o efeito foi o mesmo. Pediu que ele colocasse na MTV, o que foi atendido, espantosamente, no mesmo instante.
Resolveu que o início do seu texto seria "Meu namorado é um idiota...", colocou a personagem principal as voltas com um namorado chamado Roberto - não importava trocar o nome, ele jamais lia o que ela publicava - um homem que em muitos aspectos lembrava Ken, o ex-namoradinho da boneca Barbie, com os adicionais anatômicos que os pobres bonecos não possuiam.
Cansada da falta de sensibilidade do namorado sua heroína recorreu a um terreiro de macumba - um conhecido por fazer coisas que os outros terreiros jamais ousavam fazer - mas não queria poções de amor nem nada do tipo, pediu somente que ele pasasse a comprendê-la. Advertida de que o que ela pedia não teria volta, foi para casa e completou todo o estranho ritual que exigia coisas, que até mesmo uma mulher liberada como ela não costumava fazer. Depois bastava esperar uma semana e a transformação ocorreria.
Na quinta feira em que completava uma semana do ritual, foi acordada por um grito de agonia, correu para o banheiro de onde o som estava vindo mais forte. Encontrou Roberto jogado no box, o chuveiro ligado, com as pernas enconbertas pelo plástico, chorando, jamais poderia imaginar que o efeito seria tão traumático. Tentou acalmá-lo, perguntou o que estava acontecendo, mas quando percebeu o terror genuíno e a vergonha com que ele pedia para que não se aproximasse, percebeu que algo mais grave acontecia. Ajoelhou-se no box junto ao namorado, deseprada, perguntava o que estava acontecendo.
Depois de muito tempo, ele afastou o plástico e ela pôde ver o impensado, no lugar do pênis havia um nada, ele se transformara em uma cavidade feminina, com um indiscutível ar virginal. Eles não foram ao respectivos trabalhos esse dia, ele não voltaria nunca mais ao escritório, tinha certeza de que notariam, algo denunciaria que ele não era mais homem e logo começariam os boatos sobre sua sexualidade e sobre a pobre namorada que nem devia desconfiar que era enganada.
Foram quatro dias para convencê-lo a ir ao médico, parte do tempo foi decidindo qual se um ginecolgista, porque , afinal, agora ele tinha um pequena vagina, ou um urologista, que talvez por algum golpe de sorte já teria encontrado caso semelhante. Por fim decidiram-se por um psquiatra que talvez os acordasse daquela alucinação em conjunto. No final, nenhum dos três especialistas conseguiu uma resposta convincente, mas também nenhum deles acreditou seriamente nos dois, exceto o psiquiatra que acreditava estar diante de um caso de disturbiu de percepção apresentado por um casal onde um era transsexual do feminino para o masculino.
As outras transformações foram ocorrendo aos poucos e causaram menos surpresa. Não faziam sexo, umas vez tentaram, com resultados desastroso para a estabilidade emocional de Roberto, que irrompeu em uma crise de choro, clamando que ainda era um homem, coisa que sua anatomia já desmentia quase completamente nessa época.
Seis meses depois não havia mais jeito, Roberto era mulher por inteiro, já até se acostumara a ter fluxos. Dois sentimentos a invadiram, o primeiro foi o remorso, porque gostava do namorado e agora não poderia mais ficar com ele, até mesmo usar esse pronome agora era errado, e o segundo, e mais incômodo, foi a inveja, sabia que era sua culpa por ele estar daquele jeito, que ele não havia escolhido aquilo, mas inveja o resultado, os seios mais empinados, as pernas sem marca alguma de celulite, a altura, Roberta era uma mulher para ser exibida na rua.
Não aguentou, teve de abandoná-la, juntou suas coisas e lhe deixou um bilhete "A culpa foi minha". Alguns meses depois viu Roberta na TV, virara modelo de sucesso como era de se esperar.
Terminou de escrever e acreditou sinceramente que estava entrando em alguma espécie de loucura desenvolvida no cotidiano. Juntou as poucas coisas que tinha na casa de Roberto, até a escova de dentes de viagem. Falou "Tchau!" que deve ter soado como "@#$%!". Deixou um bilhete "Meu namorado é um idota".

domingo, janeiro 20, 2008

Momentos Kodak

- Se nós não sairmos daqui agora é capaz de eu ter um ataque epilético.
- Meu filho, você não tem epilepsia.
- Ainda posso manifestar...

quarta-feira, janeiro 16, 2008

Leve

Ela entrou no salão sozinha, nem todos se viraram para olhá-la, isso só acontece nos filmes, mas os que não a viram de imadiato perderam um dos fatos simples que geram epifanias - uma bela mulher em roupas leves entrando em um salão. Os conhecidos logo a chamaram, havia esquecido o quanto eles eram ruidosos.
Dançou bastante, de olhos fechados porque a luz feria os olhos. Dançou sozinha, porque os ruidosos eram apenas conhecidos e não os queria por perto, também porque os homens do lugar foram tomados pela insegurança que uma mulher como ela causava, intensificada por sua total ignorância do efeito que causava.
Era só o que queria, dançar. As vezes, abria um pouco os olhos para ter a impressão de que o lugar estava preenchido com estática quando os fechasse de novo. Às 6 voltou para casa, atirou os sapatos pela sala, a bolsa num móvel qualquer, ligou o som baixinho, para não atrapalhar o sono, algo doce para se sentir embalada. Dormiu como alguém liberta de um longo tempo insone.

terça-feira, janeiro 15, 2008

9 p.m

Não tem nada que eu já não tenha feito por você, amor próprio é uma coisa que esqueço com uma facilidade desconcertante quando estou apaixonado. Parece que os ouvidos ficam surdos ao "não" mais sonoro que o outro possa me dar, é a mesma coisa que dizer "estou dizendo 'não' , mas tem um 'sim' nas entrelinhas, entenda-o e continue insistindo comigo, porque só aí é que eu serei seu".
Então passo pra estratégia de te vencer pelo cansaço, convenhamos que a contemporaneidade me dá ferramentas para levar isso ao extremo, existe o msn, o orkut, o seu blog, o meu blog, o seu fotolog, o meu fotolog - um desses eu não tenho, mas é a coisa mais fácil de arranjar. A verdade é que não há escapatória, ou você me ama de volta ou me bota numa medida cautelar. Meus óculos são novos, não me preocupo de observar à distância.
Terapia não ajuda não, porque apesar de tudo sou inteligente, é muito pouco divertido alguém com Q.I abaixo do seu tentar resolver seus problemas. "Você está claramente deprimido", "Minha nossa! Você precisou de seis anos de universidade e cem reais pra me dizer isso? Pelo menos me prescreve algo que abata um elefante pra eu achar que essa consulta valeu a pena".
Não seria pra usar em você, porque eu também não sou baixo dessa forma. Álcool tudo bem, boa-noite-cinderela não. Existem alguns poucos limites a serem respeitados, os do código civíl por exemplo. Que mentira, esses eu quebraria também, só pra correr o risco de você sofrer de síndrome de Estocolmo. Relação aberta também está entre as coisas fora de cogitação, mas essa eu acredito que você tinha a obrigação de ter deduzir sozinho.
É isso, amar de forma esmagadora, estúpida e patética. Desses adjetivos o que mais me dói é o patético, mas eu supero isso. E você me ama de que forma? Ao menos me ama?
P.S: Total verborragia.

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Tava pensando em como criar uma história, sem depender da velha inspiração, mas algo construído, pensado do início ao fim, não completamente isento de inspiração, mas não totalmente dependente dela.
Tarefa árdua, porque exige muito conhecimento e fiquei sabendo, segundo o Adolfo Bioy Casares, que faço parte da nova leva de futuros intelectuais, aqueles que trocaram o grego e o latim, pelo inglês e o francês. Isso é uma droga, porque eu queria fazer parte daqueles primeiros, eles sim eram bons, não queria somente me inspirar neles, queria ser um deles, com o talento e tudo mais.
Sempre acontece de ler coisas que eu gostaria de ter escrito, tem dois autores cujos textos sempre fazem, a Clarice e o Caio, não são todos os textos, mas vários tem trechos ou abordou temas dos quais eu gostaria de ter escrito, porém, não simplesmente escrito do meu jeito e sim daquele jeito, do jeito deles. Mesmo assim não gostaria de ter sido nenhum dos dois, queria ter feito parte da geração do início do século, os que sabem grego e latim.
A verdade é que não sou escritor, nem pretendo ser. Meu futuro provavelmente se encaminho pelo ensino superior, o blog é apenas o meu canto de alívio das idéias, a Ivana Arruda Leite escreveu uma vez no dela falando sobre "escrever no blog", disse que colocar esse pensamentos soltos lá, ajudava a concentração pra fazer as coisas de fora. Acho que o meu passa por aí, nesses últimos tempos, infelizmente, as coisas de fora não me deixavam colocar coisas aqui. Felizmente as férias chegaram.

segunda-feira, janeiro 07, 2008

História Qualquer

Hoje é o terceiro dia que passo pela estrada próxima ao rio e ele está lá, parado, só olhando pra outra margem, ou pra qualquer outra coisa que eu sou incapaz de advinhar. Minha preocupações egoístas giram em torno das possibilidades do que pode acontecer entre nós dois: um, ele é um homem sensível que gosta de apreciar o pôr do sol e me fará muito feliz; dois, ele é um parvo, desocupado e será no mínimo desestimulante ouví-lo. Em todo caso tudo ainda está restrito ao campo das possibilidades, porque eu mesma, sendo retraída, não vou lhe dirigir palavra, mesmo porque uma estranha que se senta ao lado de uma pessoa, do nada, no momento seu momento de reflexão, caso seja o que faz, seria pelo menos incômodo. Odeio ser incômoda.
Um dia eu tive certeza que ele me ollhou na hora em que eu passava, uma olhada discreta, talvez até demais, porque eu estava particularmente bonita. Meu Deus, será que ele não se agrada por mulheres? Não seria a primeira vez... Espanto essa idéia, é muito desanimadora.
Interessante, notei que estava descalço hoje. Será que está sempre assim?
Ontem choveu, passei pelo mesmo caminho mesmo assim, havia uma pequena chance dele estar lá, mas as probabilidades quase impossíveis não me ajudaram, ele não estava. Fiquei no lugar dele, de pé, mas o vento próximo da margem é muito forte, quase leva meu guarda chuva. Tentei procurar o que ele vê, mas a posição devia estar errada, ele sempre fica sentado, o clima não ajudava, mal dava pra ver o outro lado da margem, fui embora logo.
Final de semana é horrível, são dois dias inteiros sem a possibilidade de vê-lo. É patético, mas admito que estou apaixonada por uma imagem, porque por enquanto ele não é mais nada que isso, sem cheiro, sem voz, até agora ele só me veio aos olhos, mas é através deles quem vem o amor, não preciso de mais nada além disso pra saber e admitir que amo.
Ao menos respira? Tenho de prestar atenção se o peito se movimenta, nisso e nos sapatos. Respira e pisca, vive, os sapatos ficam na grama, é um homem que usa sapatos, mesmo sendo despojado ele prefere sapatos. Sei tanto sobre você, como se soubesse desde sempre e apenas relembrasse aos poucos, me desculpe por ter esquecido, é essa vida que nos faz esquecer das coisas importantes.
Admito também pensamentos impuros. Ora, sou mulher não sou?Por que não haveria de tê-los?
Hoje ele me notou, tive certeza, não foi um simples olhar de esguelha, ele virou o rosto na minha direção e me viu passar. E eu despreparada, foi cedo demais pra um encontro desses, se ao menos eu estivesse de sobreaviso, uma mudança de posição, qualquer coisa que indicasse que hoje ele me olharia e seus olhos castanhos, - agora ele se torna mais real, tem olhos castanhos um pouco orientais - não me supreenderiam, foi um olhar súbito, depois voltou a procurar o que quer que seja que procura do outro lado, se é que procura alguma coisa.
Hoje foi horrível, terrivelmente insuportável. Quem era ela? Por que ela estava ali perto dele? Falava histericamente, só o vi balançar um pouco a cabeça, nem se dignava a responder propriamente àquela mulherzinha. Que ela fazia ali? Nem amigos poderiam ser, era vulgar demais para ser amiga dele. Não pense que não vi, ela te beijou, beijou nos lábios e depois ficou rindo como uma estúpida. Como você teve coragem de me aprontar uma dessas? Fico doente com o seu descaso para comigo, é tão típico dos homens serem tão descuidadas com as mulheres. Ela não te conhece.
Está decidido, eu nunca mais passo por ali.
Passei mais algumas vezes, mas por mera necessidade de ir ao banco que ficava justamente por aquele caminho, algumas outras porque a vontade de te ver não passa tão rápido assim. Preciso apanhar mais um pouco antes de esquecer minha paixão. Mas prometo, se nos encontramos de novo não vou mais esquecer dos detalhes, eles são importantes. Detalhes são muito importantes...