domingo, fevereiro 25, 2007

Presente de Aniversário

"Você escreve bem", ela disse. Não, ele estava no corredor, caminhando para a cozinha e a ouviu dizer para a irmã "Ele escreve bem, mas é porque ele lê muito, por isso escreve bem". O livro que havia lhe dado em seu último aniversário ficou esquecido na cabeceira, mas nesse momento soube que ela havia lido a dedicatória. Foi quase como se lhe desse um sorriso e dissesse "Você escreve bem". Passou para a cozinha, encheu um copo d'água, levou até a boca, mas antes de beber a água sorriu. Encheu-se de satisfação, muito mais por como o evento poderia ter sido, do que pelo que havia realmente acontecido. Voltou para o quarto, mudo como havia saido, só com a postura mais pouco mais ereta. Imaginava a continuação, abraçava-a brevemente, depois colocava as mãos em seus ombros contraindo-os um pouco, fechava os olhos por dois segundos, abria-os de novo e lhe dizia "Obrigado, mulher horrorosa. Muito obrigado".

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Tempo

Hoje o John me mandou uma mensagem dizendo que sempre chora no final dos livros do Gabriel García Márquez. Eu não... Lívia chorou lendo "O Canário" da Katherine Mansfield, eu quase nunca a menciono, mas o que ela escreveu me toca bastante. Ainda sim não chorei, só quem conseguiu me arrancar uma lágrima foi "Dançando no Escuro", uma só, bem forçada pra ser sincero, porque achei que devia ter pelo menos uma por toda aquela tragédia. A única coisa que me garante que as minhas lágrimas ainda existem é quando estou deitado, forçando a vista ou só olhando pro vazio e elas vêm, sem tristeza de verdade, que pra mim só é verdadeira quando tem muitas lágrimas. Tristeza sem lágrimas é inverossímil, é coisa de gente travada. O que muito provavelmente é meu caso, afogado na casca de verniz que deixo pra pessoas verem. Até andei polindo ela esses dias. Só tenho sentimentos nos meus sonhos.

sábado, fevereiro 10, 2007

Andanças (Lá se vai toda a respeitabilidade do blog)

Lembrei da primeira vez que nos falamos. Você achou que eu tava triste e quis ser simpática. E me dei mal, cê não tem vergonha de ser grosso desse jeito com as pessoas não? Ah, fiquei assustado quando cê apareceu do nada perguntado "Você tá bem? ". Sei lá, vai que você era uma dessas bichinhas dramáticas suicidas e pulava no rio. Cê ia pular pra me salvar. Lógico que não, não te conhecia o suficiente, hoje eu também não pulava, só te mandava parar de frescura. Mas segunda vez foi mais engraçada. Naquele dia fiquei com medo de ti, achei que cê era meio doido, andando, falando sozinho, de olhos fechados ainda por cima. Teve medo de eu tropeçar? Ai, porque cê me bateu? Lembrei de que eu nunca tinha te batido pelo "Olha moça, seja lá o que você queira não vai dar não, sou viado", isso é coisa que se diga? Ficou toda ofendida "Olha, não que eu tivesse qualquer intenção amorosa com você, tava só querendo ser simpática. Já tinha sacado que você é gay desde aquele outro dia no rio", mentirosa, nem tinha sacado nada. Mano, na primeira desmunhecada que nem essa que você acabou de dar, eu sacava. Me dá um beijo. Pra quê? Tá doida bicha? Porque eu tô indo embora. E daí? Daí que você nunca mais vai me ver, vai que eu gosto e decido virar hétero? Piorou, passar todos esses anos do teu lado, pra depois as outras lá na puta que pariu aproveitarem? Não senhor, vá bicha e fique bicha, lembre de bater fotos dos bofes que forem escândalo. Que horas são? Três e meia, que horas o avião chega, quinze pras quatro, tá confirmado ali no painel. É tchau de vez né? É baby, é tchau de vez. Tem msn, tem orkut, a gente dá um jeito. Dá não, eu sou ausente dessa vida esqueceu? Eu te perturbo on line, esqueceu que eu não tenho vida social? Preciso viver pelas experiências de alguém, desde aquele dia no rio eu te escolhi. Por isso que você escolhe com quem eu fico ou não, é? Exato, você só tem direito de ficar com as bichas que eu gostaria de ter. O avião chegou. Vai baby. É tchau de novo né? É, é tchau de novo, com direito a abraço dessa vez. Tchau baby...

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Corrente

5 coisas que quero fazer antes de morrer:
Sair de casa
Descobrir que diabos eu quero fazer da vida
Escrever um livro
Ter um ralacionamento decente
Ler tudo que eu gostaria

5 coisas que eu faço bem:
Estudar
Brigar
Trepar
Comprar
Cafuné

5 coisas que eu mais digo:
É fantástico
Não é bem assim não
Ah, vá se fuder
Né?
Meu Deus

5 coisas que eu não faço (ou não gosto de fazer):
Socializar
Sair
Comer (Exceto maçã)
Ir no Tupinambá
Usar sapatênis

5 coisas que me encantam:
Inteligência
Bom humor
Beleza
Baixaria
Ana Maria

5 coisas que eu odeio:
Leseira
Ignorância
Violência
Soberba
Incompreensão
*Como a maior parte das pessoas que eu conheço que têm um blog já foram citados pela Sue não vou fazer lista dos 5 que devem responder * Não, eu não conheço muitas pessoas que têm blog

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Chuvarada (Parte 4 -Final de Verdade)

Guilherme olhou para o horizonte da borda da montanha, voltou-se para Éolo:
- E agora pra onde nós vamos?
Ele também fita o horizonte, seu perfil demonstrava um sorriso, apoia o braço esquerdo com o guarda chuva:
- Agora você vai conhecer minha casa.
- E como a gente vai chegar lá?
Éolo fecha os olhos e devagar deixa a cabeça cair para trás:
- Estamos quase lá.
Antes que Guilherme pudesse se dar conta a grama havia desaparecido, agora eles pisavam em algo branco parecido com algodão úmido, porém mais leve, menos denso na verdade:
- Ai meu Deus. Nuvens. Nós estamos nas nuvens - era indisfarçável a excitação do menino, que prontamente saiu correndo.
- Cuidado...
Era tarde demais, o garoto se desequilibrara e caíra, diferente da terra, onde ele não passaria do chão, Guilherme afundou e desapareceu. Éolo encontrou-o logo abaixo deitado em uma densa nuvem de chuva, os cabelos umidecidos e o rosto respigado de água da nuvem que acabara de atravessar:
- Você está bem?
O garoto lhe sorriu pela primeira vez no dia inteiro:
- Bem? Eu estou mais do que bem, isso aqui é incrível.
Éolo sorriu e lhe estendeu um braço:
- Vamos, temos coisas importantes a fazer ainda hoje.
- Tá.
De volta a nuvem superior Éolo agaichou-se um pouco e soprou na direção do menino para secá-lo. Levantou-se e pôs as mãos próximas a boca como se faz para aumentar o poder da voz:
- Cirrus, Cúmulos, Nimbus. Venham aqui agora seus monstrinhos.
Na névoa podia-se diferenciar dois vultos, aproximadamente da altura de Guilherme. Um menino e uma menina. Vieram correndo e agarraram-se à Éolo. Ela tinha os cabelos cinzentos, lisos, cortados um pouco acima da altura do ombro, usava um vestido de mangas bufantesque deixavam os braços quase inteiramente à mostra. O rapazinho, também de cabelos acinzentados, mas os seus ondulados e mais curtos, usava calças que não chegavam ao fim de suas pernas e uma blusa de mangas compridas abotoada até quase a gola. Ambos tinham os olhos idênticos ao de Éolo:
- Guilherme, deixe-me apresentá-lo aos meus monstrinhos. Esta é Cúmulus e este Nimbus.
As duas crianças respoderam quae ao mesmo tempo com sorrisos e "Olá".
- Espera, mais eu podia jurar que havia mais de vocês. Ah, é claro. Onde está Cirrus?
Cúmulus ergue o rosto para olhar Éolo nos olhos:
- Faz dias que não a vemos.
- Ela deve estar por aí.
Éolo pôs uma mão aciam das sobrancelhas como se tentasse apurar a visão, olhou para todos os lados e chegou a conclusão de que a menina não se encontrava em seu reino:
- Nosa pequena ladra está tentando se esconder, mas nenhum filho meu pode esconder-se de mim.
- Ela não roubou nada.
- Claro, claro, por um momento esqueci que você foi tolo o suficiente para lhe dar seu coração. Venha, eu sei onde ela está.
Guilherme deu a mão para Éolo e começaram as descer na nuvem. Flutuaram até chegar na laje do prédio onde moram os parentes de Guilherme. Lá estava Círrus, em seu vestido de mangas longas, os cabelos ondulados soltos, segurando nas mãos algo que brilhavam com uma luz prateada como àquela que vem da lua.
- Círrus, esperava esconder-se de mim?
- Não...eu só...eu não queria que você o tirasse de mim.
- Que insolência, vamos, devolva-o agora.
- Não, ele é meu, me foi dado de boa vontade, você não pode tirá-lo de mim.
- Chega, faça o que digo, o garoto precisa dele e você é minha filha, obedeça.
- Você é sempre assim, sempre me dizendo o que fazer. Você sempre acha que eu não sei nada, mas eu sei. Aqui não é o seu domínio e você não pode exercer poder algum sobre mim - desesperada a pequena sílfide começou a correr. No céu um clarão repentino que somente Éolo percebeu, mas não pôde agir a tempo.
- Círrus cuidado.
A menina tropeçou e ao cair derrubou o que tinah nas maõs e pode-se ver a orbe que brilhava prateado. Quando caiu de sua mão formou-se uma pequena rachadura. A luz diminuiu um pouco de intensidade. Nesse momento Guilherme caiu de joelhos com as mãos no peito como se sentisse uma grande dor. Éolo precipitou-se até Círrus.
- Garotinha tola, há mais coisas em risco do que sua simples desobediência, que quase custou a vida do mortal.
Guilherme se levantou ainda com uma mão no peito e andou até os dois. Tocou Éolo no ombro:
- Pára, deixa ela em paz - sorriu para Círrus, a garota tinah lágrimas nos olhos.
- Eu tava pensando. Será que você poderia me devolver isso aí?
Ela junta a orbe com as duas mãos e a pressiona contra o peito de Guilherme, quando termina um brilho cruza os olhos do rapaz:
- Obrigado, acho que eu não posso visitar você não é?
Éolo toma a liberdade de responder a essa pergunta:
- Infelizmente não jovem. É uma pena, mas o único título que posso lhe conceder agora é o Guilherme, Coração Quebrado.
- Ah - o garoto diz imitando a voz de Éolo - mas eu acredito que esse seja um título bastante adequado.
Círrus dá uma risada tímida. Éolo coloca a mão em seu ombro:
- Então, acredito que seja isso. Pedimos desculpas por todos os transtornos.
Guilherme fica no alto do prédio olhando para o que acontecia abaixo. Ainda que ninguém possa saber como as coisas teriam sido, para o garoto elas jamais poderiam ser as mesmas.
***
Depois de deixar Círrus em seus domínios, Éolo dirigiu-se até o monte Olimpo, até o salão de Afrodite, deusa da beleza e do amor:
- Você não estava e pedindo um simples favor não é mesmo?
- Não meu querido, não para mim.
Ele coloca duas setas quebradas na mesa:
- Espero que elas façam falta a seu filho.
- Entenda Lode Éolo, meu filho participou desse joguinho estúpido com riscos muito altos. Eu não poderia arriscar que ele o perdesse.
- Mas não se importou de arriscar um dos meus.
- Não estava em meu poder decidir isso.
- Que seja, saiba que desse momento nossas relações estão abaladas e não me sinto mais em débito para convosco nem muito menos sua prole.
- Entendo.
- Então, é adeus.
- Adeus Lorde Éolo.
- Adeus Lady Afrodite.
Éolo seguiu para seus domínios. Ambos sabiam que haviam feito o que qualquer pai deveria fazer.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Chuvarada (Parte 3)

O interior do templo era, assim como boa parte dos acontecimentos da última hora, inesperado. Um grande jardim, verde brilhante salpicado pelas cores de pequenas flores que destacavam-se do verde com suavidade e deixavam um leve perfume no ar. Ao redor de uma fonte natural estavam três grandes divãs, deitadas neles três moças, aparentemente idênticas. Elas falavam praticamente ao mesmo tempo, com um segundo de atraso uma da outra, mas jamais se contradizendo:
- Olá Éolo, senhor das monções. Sejam bem-vindo.
Ele lhes dá um sorriso velado, deixando o canto dos lábios um pouco vincado, sem deixar que os dentes apareçam e seu rosto inclina-se um pouco para baixo "Olá". Passa o braço livre pela barriga, levanta o que segura o guarda chuva e inclina-se para frente:
- Deixem-me apresentar...
- Nós sabemos quem ele é.
- Eu suponho que sim, mas deixem-me fazê-lo de qualquer forma. Por mera formalidade - ele lhes dirige outro sorriso velado - este é o jovem Guilherme.
O garoto, mesmo achando as três moças, a pesar de muito bonitas, ainda mais estranhas do que Éolo, lhes deu um tímido "Olá". Ainda deitadas, elas voltam seu olhar para Éolo:
- Mas diga-nos o que lhe fez trazer o jovem mortal até aqui?
Éolo move um pouco a cabeça para o lado e lança um olhar desconfiado:
- Vocês não sabem?
- Com certeza que sim, mas nos alegra muitíssimo vê-lo fazer um pedido.
- Hunf. Bem, nós queremos saber onde está o coração que foi roubado do rapaz.
As irmãs gargalham em quase uníssono:
- Roubado Lorde Éolo? Receamos que talvez seu companheiro de aventuras não tenha sido honesto para convosco.
Éolo volta-se para Guilherme, com ar inquisidor pergunta ao menino:
- Jovem Guilherme, esquecestes de partilhar algum detalhe comigo?
- Não, não deixe de te contar nada Éolo.
De pé e em volta de Éolo, as irmãs se voltam para Guilherme:
- Pois bem jovem, conte-nos como você perdeu seu pobre coração.
Envolvido pela magia do lugar os olhos do garoto brilhando, logo ficaram umidecidos. Levantou o rosto, iluminado pela luz do sol, narrou sobre o dia de chuva no qual sua família visitava seus tios, as crianças decidiram brincar de pique esconde. Estavam no último andar, ele encontrou uma escada que levava para a laje, chovia bem forte. Aproximou-se da beirada e olhou pra baixo, quando ouviu aquela voz doce "Estamos bem alto, né?". Voltou-se e pode ver uma menina, a mais linda que já vira em toda sua vida, olhos azulados, os cabelos cinzentos, mesmo molhados ainda conservavam um pouco das suas ondulações. Guilherme por um segundo viu um clarão e quando sua visão voltou ao normal teve certeza de que estava apaixonado. Eles conversaram por um minutos infitos, até que ela se virou "Preciso ir". Mas antes que ela fosse embora de verdade, ele precipitou-se até ela "E-eu não tenho nada, mas gostaria de pelo menos te dar meu coração, pra você sempre lembrar de mim". Ela ficou realmente emocionada e lhe agradeceu com um beijo no rosto. Quando Guilherme abriu os olhos, ela já não estava mais lá:
- Você deve sre o garoto mais tolo que eu já conheci. Como você simplesmente dá seu coração para alguém que acabou de conhecer?
Com um risinho irônico as irmãs se afastaram um pouco de Éolo:
- Ora Lorde Éolo, o senhor entende muito bem de paixões arrebatadoras.
- Eu me apixonei por ela já disse.
Se sentindo um pouco contrariado Éolo volta-se para as irmãs:
- Mas ainda não nos responderam onde está o coração.
Rindo de forma maliciosa as três voltam para seus divãs:
- Ora Lorde Éolo, lhe passa despercebido o que acontece dentro de seus próprios domínios?
- Absurdo, nenhum de meus súditos faria tal vilania com um mortal.
- Pois é melhor que partas. Antes que sua interferência seja notada e as apostas desse jogo sejam aumentadas.
- Não lhes compreendo.
- Vá Lorde, já lhe dissemos mais do que deveríamos, isso única e exclusivamente porque apreciamos sua companhia.
- Obrigado, vamos partir imediatamente.
- Mas não se sintam desobrigados de pagar pela informação que receberam.
- Éolo, eu não tenho dinheiro algum.
- Calma jovem, deixe que eu lido com isso.
- Faremos algo simbólico, 10 anos mortais.
- Eu não posso dar 10 anos... - Guilherme pareceu desesperar-se com a incomum barganha.
- Nem vai, não se preocupe, 10 anos mortais não são nada para um deus.
Um veio fino e branco atravessa o ar entre Éolo e as irmãs, mas o único sinal de que o tempo se passara para ele foi o quase imperceptível crescimento em seus cabelos:
- Aqui há uma lição para você também altivo lorde, mesmo para os deuses desse mundo não há eternidade, principalmente para aqueles há muito esquecidos como vós. Também lhe concederemos uma última informação, não foi ao acaso que fostes escolhido para esta contenda. Receamos estar na hora de vocês partirem.
Por alguns instantes o mundo pareceu rodar e os dois se viram do lado de fora do templo:
- O que elas quiseram dizer?
Éolo deu um sorriso gentil ao garoto:
- Acredito que fui manipulado meu jovem.
- Pensei que elas fossem suas amigas.
- E são, eu lhe disse que eram velhas amigas, não que eram educadas ou gentis, nem todos os amigos o são. Vamos.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Chuvarada (Parte 2)

O garoto ainda estava assustado com tudo que acontecia quando Éolo o pegou pela mão e o conduziu para fora:
- Espera, mas pra onde nós estamos indo?
- Ora, como assim pra onde estamos indo? Não é óbvio que vamos atrás do seu coração?
- Me solta, eu não vou a lugar nenhum com você.
- Você não entendeu nada do lhe foi dito rapazinho? Você não vai sobreviver por muito mais tempo sem um coração - ele solta a criança que quase instantâneamente cai no chão. O estranho estende a mão ao menino:
- Viu? Você já começou a perder o equilíbrio. Deve ser realmente desagradável não ter um coração.
Convencido de que pelo menos havia alguma coisa errada consigo, Guilherme aceita ajuda para se pôr de pé:
- Mas pra onde nós vamos afinal? Eu já tô todo molhado.
O estranho lhe sorri, seus olhos pareciam menores e completamente azuis quando o fazia, agachou-se até seus rosto ficar na mesma altura do menino, o guarda-chuva aberto, aproximou-se um pouco mais e o guarda chuva protegeu ambos da água:
- Ora meu jovem companheiro, mas esse é o menor de seus problemas - soprou e seu sopro fez com que as roupas e os cabelos do menino secassem, com a sensação de manhãs de verão - agora vamos, já perdemos tempo demais.
- Você é realmente um deus?
- Você tinha alguma dúvida disso?
- É que eu nunca conheci um deus antes e a minha mãe disse que só tem um.
- Pois diga a sua mãe que ela está equivocada.
- Éolo...
- Diga.
- Você ainda não disse pra onde estamos indo.
- Ah, isso. Bem, vamos visitar velhas amigas.
- Elas também são deusas?
- As vezes eu acredito que são mais que isso. Mas nunca se sabe, não é mesmo? - Éolo sorri para Gulherme mais uma vez e faz um movimento lembrando uma reverência de teatro. Quando o guarda chuva libera a visão do menino, ele leva um susto e dá um passo para trás. Quase fatal, pois estavam na beira de um precipício. A imagem de um enorme templo grego, do tipo que só havia visto em desenhos, no topo de uma montanha assustara o garoto. Naquele lugar o vento era tão forte que mesmo Éolo precisava gritar para se fazer ouvido:
- Cuidado jovem, morrer antes de reaver seu coração iria tirar metade da diversão de conseguí-lo de volta
Mesmo o sorriso estampado em seu rosto e os brilhantes olhos azuis não removeram o desespero da criança:
- Do que você tá rindo? Eu podia ter morrido.
- Mas você não morreu. Além disso, nunca dá para saber como as coisas poderiam ter sido, então por agora você não precisa se preocupar com a morte - os braços estendidos, uma mão espalmada e a outra segurando o guarda chuva aberto, fecha os olhos, o vento leva seus cabelos para trás.
- Você é ...
Guilherme se deteve mais uma vez à visão do templo
- Vamos, elas já devem estar esperando.
- Espera, mas... e se eu tivesse morrido? Como eu iria resgatar meu coração?
- Bem, eu precisaria descer até o Hades pra te buscar, o que seria desagradável considerando a profunda antipatia que sinto por Perséfone. E com certeza seria bem menos divertido considerando o péssimo humor que os ex-residentes de lá costumam ter.
Éolo, ainda com o guarda chuva aberto, se adianta subindo o pedaço de montanha esverdeada pela grama que os separa do templo. Guilherme perde o equilíbrio e caí na grama, partes menores de flores silvestres se soltam e são levadas pelo pelo vento. Ele sopra para cima para retirar algumas que ficaram presas no seu cabelo que estava lhe cobrindo a vista:
- Me espera.
Eles chegam à porta do templo:
-Bem, seja educado agora jovem. Nada de imprudências.
***
*Tá eu enrolei, mas eu tava querendo fazer algo bonitinho hoje, por isso ainda não terminei, me perdoem =/ na proxima eu termino, juro.

sábado, fevereiro 03, 2007

Chuvarada (Pro Ronan)

Ele parava diante da janela toda vez que a chuva começava, sem pensar em nada, só observando as coisas que aconteciam nisso que ele chamava de vida. Muita gente só faz isso aos 30 as vezes nunca, ele o fazia aos 9. Nesse dia em especial havia um bando de meninos brincando na chuva. Um relâmpago passou no céu e no segundo de distração que isso causou, um homem apareceu à sua janela. Vestia-se com roupas leves, brancas, estava descalço e segurava um guarda-chuva preto bem grande. Tinha cabelos longos e brancos e a barba cerrada:
- Olá jovem - sorriu parecia não precisar fazer esforço pra ser ouvido, mesmo com a chuva que sempre abafa a sonoridade de tudo ao seu alcance.
- Ah... o-oi - arredio, ele se afastou um pouco da janela.
- Sou Éolo, deus das monções. Vim aqui pra te ajudar - ele afasta um pouco o guarda chuva, levanta o rosto pra sentir os pingos de chuva tocando seu rosto e rapidamente encharcando os cabelos - Mas faz uma bela tarde de chuva, não é mesmo? - Seu sorriso mostrava verdadeiro contentamento.
- Mas... se você é um deus por quê não entra usando seus próprios poderes?
- Ora, certamente eu poderia fazê-lo - seus olhos azuis transparenciam uma docilidade que a criança não estava acostumada a ver em seus pares e lhe sorriu uma terceira vez - mas conto com sua boa educação e gentileza para abrir sua janela e me permitir entrar. Seria muita falta de educação, mesmo tendo boas intenções, que eu invadisse sua casa, não acha?
Mesmo relutante, o menino teve de atribuir razão a lógica que lhe foi apresentada. Com a janela aberta, o suposto deus fechou seu guarda chuva e entrou na casa, mesmo descalço seus pés não deixaram marcas no piso claro. Pelo menos de perto ele aparentava uma estatura que, para um garoto de nove anos, mais do que adequada para ser adjetivada como divina:
- Muito bem, você é uma criança muito educada, mas faltou um pequeno detalhe.
- O quê?
- Ora, eu me apresentei formalmente e você nem fez menção de dizer pelo menos seus títulos.
- Ah, meu nome é Guilherme, mas eu não tenho títulos - o garoto mostrava certo embaraço em relação a possuir títulos, porque não sabendo do que se tratava pssuir um título acreditava que não poderia possuir algum.
- Bem... sem títulos hein? Bom, se tudo der certo até o final de nossa contenda, eu lhe concederei algum - acrescentando um sorriso afável a frase fazia o menino começar a esquecer o estranhamento que a situação lhe causava. Continuou:
- Muito bem jovem Guilherme, provisoriamente este será seu título, depois o trocaremos pois este é comum demais, me diga, por que fui trazido até aqui?
- Ah...e-eu não sei, achei que você tivesse vindo só fazer uma visita.
- Deuses não fazem meras visitas. Alguma coisa te aflige. Diga-me o que acontece.
- Não tem nada de errado.
- Ah, mas disso eu discordo veementemente. Uma criança como você passa os dias trancado em casa, mesmo quando todas as outras estão lá fora brincando. Veja os outros meninos, todos se divertem.
- Ah isso. Sabe é que...que eu estou apaixonado...
- Mas não há problema algum nisso, mesmo que não seja muito saudável acontecer com alguém tão novo. Até com os mais velhos é perigoso, uma vez apaixonei-me por uam flor sabe... Bem, mas isso não vem ao caso. O que há de errado?
- Nada ué, só que eu dei meu coração pra ela, mas... mas eu acho que agora ele tá fazendo falta, ainda nem consigo andar direito.
- Absurdo, como dar o seu coração?
- Ela pediu, eu deu ué.
- Não há de ser verdade, deixe-me ver - Ele toca o peito do menino com a ponta de guarda-chuva e uma expressão de espanto toma conta do seu rosto:
- Inacreditável. Isso é perigoso. Vem, precisamos reaver o seu coração.
*Ronan, demorou mas tá aqui uma parte, vou ver se finalizo amanhã ^^ Espero que você goste