quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Chuvarada (Parte 3)

O interior do templo era, assim como boa parte dos acontecimentos da última hora, inesperado. Um grande jardim, verde brilhante salpicado pelas cores de pequenas flores que destacavam-se do verde com suavidade e deixavam um leve perfume no ar. Ao redor de uma fonte natural estavam três grandes divãs, deitadas neles três moças, aparentemente idênticas. Elas falavam praticamente ao mesmo tempo, com um segundo de atraso uma da outra, mas jamais se contradizendo:
- Olá Éolo, senhor das monções. Sejam bem-vindo.
Ele lhes dá um sorriso velado, deixando o canto dos lábios um pouco vincado, sem deixar que os dentes apareçam e seu rosto inclina-se um pouco para baixo "Olá". Passa o braço livre pela barriga, levanta o que segura o guarda chuva e inclina-se para frente:
- Deixem-me apresentar...
- Nós sabemos quem ele é.
- Eu suponho que sim, mas deixem-me fazê-lo de qualquer forma. Por mera formalidade - ele lhes dirige outro sorriso velado - este é o jovem Guilherme.
O garoto, mesmo achando as três moças, a pesar de muito bonitas, ainda mais estranhas do que Éolo, lhes deu um tímido "Olá". Ainda deitadas, elas voltam seu olhar para Éolo:
- Mas diga-nos o que lhe fez trazer o jovem mortal até aqui?
Éolo move um pouco a cabeça para o lado e lança um olhar desconfiado:
- Vocês não sabem?
- Com certeza que sim, mas nos alegra muitíssimo vê-lo fazer um pedido.
- Hunf. Bem, nós queremos saber onde está o coração que foi roubado do rapaz.
As irmãs gargalham em quase uníssono:
- Roubado Lorde Éolo? Receamos que talvez seu companheiro de aventuras não tenha sido honesto para convosco.
Éolo volta-se para Guilherme, com ar inquisidor pergunta ao menino:
- Jovem Guilherme, esquecestes de partilhar algum detalhe comigo?
- Não, não deixe de te contar nada Éolo.
De pé e em volta de Éolo, as irmãs se voltam para Guilherme:
- Pois bem jovem, conte-nos como você perdeu seu pobre coração.
Envolvido pela magia do lugar os olhos do garoto brilhando, logo ficaram umidecidos. Levantou o rosto, iluminado pela luz do sol, narrou sobre o dia de chuva no qual sua família visitava seus tios, as crianças decidiram brincar de pique esconde. Estavam no último andar, ele encontrou uma escada que levava para a laje, chovia bem forte. Aproximou-se da beirada e olhou pra baixo, quando ouviu aquela voz doce "Estamos bem alto, né?". Voltou-se e pode ver uma menina, a mais linda que já vira em toda sua vida, olhos azulados, os cabelos cinzentos, mesmo molhados ainda conservavam um pouco das suas ondulações. Guilherme por um segundo viu um clarão e quando sua visão voltou ao normal teve certeza de que estava apaixonado. Eles conversaram por um minutos infitos, até que ela se virou "Preciso ir". Mas antes que ela fosse embora de verdade, ele precipitou-se até ela "E-eu não tenho nada, mas gostaria de pelo menos te dar meu coração, pra você sempre lembrar de mim". Ela ficou realmente emocionada e lhe agradeceu com um beijo no rosto. Quando Guilherme abriu os olhos, ela já não estava mais lá:
- Você deve sre o garoto mais tolo que eu já conheci. Como você simplesmente dá seu coração para alguém que acabou de conhecer?
Com um risinho irônico as irmãs se afastaram um pouco de Éolo:
- Ora Lorde Éolo, o senhor entende muito bem de paixões arrebatadoras.
- Eu me apixonei por ela já disse.
Se sentindo um pouco contrariado Éolo volta-se para as irmãs:
- Mas ainda não nos responderam onde está o coração.
Rindo de forma maliciosa as três voltam para seus divãs:
- Ora Lorde Éolo, lhe passa despercebido o que acontece dentro de seus próprios domínios?
- Absurdo, nenhum de meus súditos faria tal vilania com um mortal.
- Pois é melhor que partas. Antes que sua interferência seja notada e as apostas desse jogo sejam aumentadas.
- Não lhes compreendo.
- Vá Lorde, já lhe dissemos mais do que deveríamos, isso única e exclusivamente porque apreciamos sua companhia.
- Obrigado, vamos partir imediatamente.
- Mas não se sintam desobrigados de pagar pela informação que receberam.
- Éolo, eu não tenho dinheiro algum.
- Calma jovem, deixe que eu lido com isso.
- Faremos algo simbólico, 10 anos mortais.
- Eu não posso dar 10 anos... - Guilherme pareceu desesperar-se com a incomum barganha.
- Nem vai, não se preocupe, 10 anos mortais não são nada para um deus.
Um veio fino e branco atravessa o ar entre Éolo e as irmãs, mas o único sinal de que o tempo se passara para ele foi o quase imperceptível crescimento em seus cabelos:
- Aqui há uma lição para você também altivo lorde, mesmo para os deuses desse mundo não há eternidade, principalmente para aqueles há muito esquecidos como vós. Também lhe concederemos uma última informação, não foi ao acaso que fostes escolhido para esta contenda. Receamos estar na hora de vocês partirem.
Por alguns instantes o mundo pareceu rodar e os dois se viram do lado de fora do templo:
- O que elas quiseram dizer?
Éolo deu um sorriso gentil ao garoto:
- Acredito que fui manipulado meu jovem.
- Pensei que elas fossem suas amigas.
- E são, eu lhe disse que eram velhas amigas, não que eram educadas ou gentis, nem todos os amigos o são. Vamos.

Um comentário:

Sic disse...

Termina, termina, termina e passa lá no meu blog, tem uma coisa pra ti