sexta-feira, março 31, 2006

12 Andares

Por acaso eu trabalho do décimo segundo andar de um prédio:
-Tchau Ana.
Me chamar Ana também foi obra do acaso, minha mãe estava sem idéias no dia e viu uma pichação assinada com esse nome. O fato de eu não cair toda vez que olho pra baixo pelo batente da escadas também é acaso:
-É, seria fatal.
O elevador chega e eu cumprimento o acensorista. Será que um dia eu deixo ele me atacar dentro do elevador? Do jeito que as coisas estão, eu quem iria agarrá-lo. Mas eu não sou pra ele, não sou pro bico dele. Mulher de fino trato não é pra ele, mas é impossível não imaginá-lo me apertando contra o espelho do elevador, aquele suor horrível de gente pobre, mãos cabeludas e mal tratadas arrancando minha calcinha, me penetrando de forma furiosa sem nem ao menos se dar ao trabalho de baixar sua calças. E eu? Eu iria levantar a cabeça pro teto pra não sentir o cheiro dele. Teria de ficar olhando as pás do ventilador rodando. Assim que o elevador chegasse ao térreo diria um "Tchau fulano".
Descobri faz algum tempo que sou burra, quase um bicho. Quase não, pior que um bicho. Não aprendo nada, nem por condicionamento, até os ratos aprendem levando choque, mas eu sempre aperto o interruptor da cozinha e ele sempre me dá o mesmo choque.
Se um dia eu cair de verdade, espero que 12 andares dêem pra lembrar toda minah vida.

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