quinta-feira, outubro 12, 2006

Um Final Feliz (Um Qualquer)

Ela acorda, o Sol já está alto. A luz que entra pela janela toca o chão de madeira e deixa a poeira que flutua no ar visível. Em duas horas ela vai alcançar a cama, mas hoje ela não vai estar deitada, não hoje. Hoje ela levantou antes do Sol expulsá-la, escolheu os sapatos, o vestido, os brincos, se maquiou impecavelmente, não esqueceu os óculos escuros de lentes grandes.
A brisa faz os cabelos e o vestido ondularem um pouco para o lado. Ela não tenta conter nenhum dos dois. Qualquer inibição estragaria tudo, nada de "desculpa", nada de "com licença". Nem as lágrimas ela conteve. Qualquer forma de auto-controle e ela acabaria voltando pra cama, esperando o Sol chegar no travesseiro.
Chegou às 9 em ponto. Ele estava lá sentado, olhando para a estátua de bronze, como se ela pudesse responder a alguma coisa que nenhum ser humano fosse capaz de compreender. Ela tira os óculos, fica ainda mais linda com os olhos umidecidos. Ele se adianta para falar:
-O...
-Eu te amo - interrompe, ele está usando a blusa favorita dela, os sapatos são horríveis, ela lembra que nunca lhe deu sapatos.
-Eu ia dizer "oi".
-Eu sei, mas eu tinha de dizer que eu te amo antes de qualquer coisa.
-Eu tava perguntando perguntando pra estátua por que Eu te amo?
-É porque eu também te amo, porque eu não aguento mais fingir que eu não te amo, porque até o Sol me incomoda quando eu não tô contigo - os olhos cheios de lágrimas, não tem a intenção de conter nenhuma, até ali ela não havia chorando um dia sequer.
Ele colocou um braço na cintura e o outro em volta dos ombros, desajeitado sem saber se queria um abraço ou tomá-la para si. Os beijos foram salgados e longos, longos não, pausados na verdade, eram beijos em que os lábios paravam só para sentir um no outro. Tocou a testa dela com a dele. Ela ajeitou as sobrancelhas dele:
-Sempre dessarumado - sorriu e ele a beijou de novo.
-Os sapatos são novos. Mas são feios, né?
-Demais, depois a gente compra um par decente.
-A gente podia comprar aquele sofá.
-Tá fazendo isso só pra me agradar, né?
-Olha... deixa desse teu cinismo. Vem cá, ainda não quero me desgrudar de ti.
-Cortei o cabelo.
-Tá perfeito. Você veio linda só pra me causar ainda mais remorso.
-Meu querido, eu te amo, mas eu também precisava dessa pequena vingança - a felicidade no sorriso defez o peso da ironia.
Ela perdeu um pouco de peso, ficou ainda mais fácil de levar nos braços. O sexo foi o melhor, sexo de reconcialiação sempre tem uma selvageria e carinho maiores por conta da saudade. Naquele dia não houve espaço para o sofrimento. Eles ficaram juntos por mais alguns anos. Foram felizes com outras pessoas depois. Sempre dá para ser feliz de novo.

5 comentários:

Moara disse...

ai pára! adorei.
casa comigo?

hohohho!

Sic disse...

égua baby, tô de lágrimas nos olhos juro...lindo

Sempre dá pra ser feliz de novo, e semrpe dar pra ser mais feliz contigo por perto...

Desgraçado, lindo, era tudo o que eu precisava...

Alguém tem que escrever sobre amores que dão certo, né?

Te amo

Anônimo disse...

rrazô

Anônimo disse...

Rapha!!!(olha a intimidade) simplesmente lindo!!!
tava inspirado hj no estagio eh?? afinal tem tanta coisa p fazer q da ate tempo de escrever desse jeito neh!!! hehehehe
Esse Final feliz me lembrou alguma cena vivida ha alguns dias atras... sem comentarios...

bjos

Antó disse...

Nossa! Rapha , que suave...
adorei o detalhismo de algumas cenas, que fui capaz de visualizar, o texto me arrepiou!
Magnifico!
Parabéns!