terça-feira, janeiro 17, 2006

Ela se Foi

Ela gostava de me morder. Isso ditava até o sexo, na verdade, principalmente o sexo. Uma vez, eu estava tão entregue que nem percebi o sangue escorrendo do meu dedo, quem parou tudo foi ela "Me desculpa". Fiquei surpreso, dei um sorriso "Nem doeu". Nesse dia deitamos um sobre o outro por muito tempo, como nos filmes. Não dá pra fazer isso sempre, os filmes mentem. Fazem parecer confortável. Não é, agora a gente já sabe.
Eu sempre colocava cogumelo na comida. Ela gostava. Lembrava Alice. Um dia até me fez prometer arranjar um tal de muscaria. "Vamos atravesssar o espelho. É mais divertido". Nesses dias, fazíamos na frente dele. Sempre mordiscava meu pescoço enquanto eu cozinhava. "É o aperitivo".
Ela diz que pareço uma menina. "Sua lésbica". Rolar na cama, bagunçar lençóis, parar em cima do travesseiro, se olhar nos olhos por um minuto. Prender ela pelos pulsos, roubar um beijo. Ela luta um pouco. Dificulta. Mas se rende pra desolação que eu sinto.
Quando chove ela nem me olha. Fica na janela. "Você ainda vai cair". Voa um sapato na minha direção. Depois voa outro. Fico quieto. A porta bate.
Fico lá sentado. Fumando um atrás do outro. A porta abre. "Me dá um".
"Eu te amo. Você me ama?". "Lógico que não. Você é burro demais.". Ainda sim ela me beija. A mordida nos meus lábios ainda lateja.
Um dia ela me manda embora. "Mas a casa é minha.". Ela pega o maço em cima da mesinha e bate a porta. Eu corro. Dou de cara com a porta. Tô sentado de costas pra ela.
E se ela chegar e não conseguir abrir a porta? Tá chovendo. Vou esperar aqui. Ela vai ouvir minha cabeça batendo na porta. Vai saber que eu tô aqui.

Um comentário:

Sic disse...

AMEI Rafa, poxa nem deu pra eu comentar no texto passado :(, enfim pc podre tu sabes como é...tô com saudade, mas deixa a gente sabe como matar essa desgraçada que só existe em português...

Beijos mortinhos de saudades.

P.S: Já escreveste algum? estou olhando a um tempão pra frente do pc e nada...