sexta-feira, janeiro 27, 2006

Carlinhos, o Prodígio do Assovio

Carlos Osvaldo Pinto nasceu num desses interiores onde todo mundo nasce na mão de parteira. Demorou uns dias a mais pra nascer, então veio ao mundo com um tom meio arroxeado "Esse não teve pressa de chegar, vai ver já sabia o que lhe esperava".
De cara a parteira percebeu logo "Esse aí vai ser artista". Quando lhe indagaram o por quê, ela simplesmente explicou que todo artista nasce assim, meio estranho que nem Carlos Osvaldo. Realmente, quando se parava para olhar o bebezinho, podia-se notar algo de diferente na criança.
A mãe achou ótimo, assim que a criança começou a pegar coisas comprou uma daquelas caixinhas amarelas de giz de cera que vêm com 6 cores e um caderninho. Não funcionou, no início porque Carlos Osvaldo, como qualquer criança de sua idade, tinha mais prazer em levar o giz e o caderno a boca do que um ao outro. Depois, já crescido era por ser inábil mesmo.
Um dia sua mãe estava estendo as roupas no varal e ouviu o canto se um sabia, devia ser novinho ainda, cantava com entusiasmo de quem havia acabado de aprender a fazê-lo. Carlos Osvaldo parecia encantado com aquilo. Todo dia o menino ia pra porta ouvir o sabiá cantar.
Quando ela ia lavar a roupa no rio, Carlinhos sempre a acompanhava, carregava uma trouxinha pequena, correspondente ao seu tamanho. Enquanto ela lavava, o menino brincava no rio. Distraída, só foi perceber que não havia mais barulho na água quando ouviu o canto do sabiá. Levantou o rosto e viu algo maravilhoso, quem cantava, na verdade assoviava, era o Carlinhos e junto dele, todos parados, ouvindo como se o admirassem, estavam uns três sabiás bem bonitos.
Era isso. O menino assoviava, essa era a arte do pequeno. Arte curiosa essa, não era cantar, mas era com certeza melodiosa.
Com o tempo aprendeu outros cantos, mas os favoritos eram o do sabiá e o do bem-te-vi, o do primeiro justamente por ser o primeiro, o segundo, mesmo não tendo nada de muito especial, era muito bom para pregar peças. Sempre que passava uma moça conhecidamente fogosa, Carlinhos se escondia e imitava o bem-te-vi, a coitada saía toda encabulada, pensando nos mal-feitos de sua vida.
O próximo passo era aprender a assoviar músicas. Isso nunca agradou muito a Carlinhos, mas assim que começou a aprendê-las o fez com maestria e logo chamou a atenção do vilarejo. Sempre que a banda da cidade tocava o hino nacional que, a bem da verdade, era a única música que ela tocava, Carlinhos tinha seu próprio microfone e ia acompanhando a bandinha, todo envaidecido.
Uma vez um menino chamado Tavinho, invejoso da atenção que Carlinhso recebia, tentou lhe passar gripe para prejudicar-lhe os pulmões. Felizmente isso não deu certo, porque Tavinho acabou pegando gripe demais e caiu de cama antes de poder passar para Carlinhos.
Por muitos anos ele continuou sendo o prodígio de sua cidade. Nunca mais imitou passarinho, mas em compensação, até música erudita Carlinhos, agora já um homem, sabia assoviar.
Seu talento era admirado por todos na cidade, mas sua mãe achava que seu filho era grande demais para aquela cidadezinha, que nem no mapa estava "Meu filho, você tem de ir para a cidade grande, lá tem aqueles shows de talentos. Você tem de ficar famoso meu filho".
Assim Carlinhos decidiu ir para a cidade grande. Iria mostrar seu talento pro mundo, ou pelo menos para os lugares onde os shows são transmitidos. O pobre do Carlinhos penou um bom tempo na capital, até fome ele passou, mas alguns meses depois ele conseguiu, iria se apresentar num dos tais shows de talentos:
-Muito bem meu filho, qual o seu nome e o que você vai fazer?
-Bo - boa noite... é, me chamo Carlos Osvaldo e eu vou assoviar.
-Ah...É... isso aí pessoal, palmas pro Carlos Osvaldo.
Carlinhos só tinha um minuto, mas nem se tocou disso e escolheu uma música de Mozart, e as músicas dele sempre duram mais do que o tempo na televisão permite.
Antes que terminasse foi interrompido "Muito bemmm. Esse foi Carlos Osvaldo. Vamos ao próximo competidor da noite".
Mesmo tendo feito bonito no 1 minuto que teve, Carlinhos não ganhou nada. Na verdade, ele nem esperava ganhar coisa alguma, acreditava estar ali para se apresentar.
Muito decepcionado, sentou-se num banquinho da praça. Ouviu uma pombinha arrulhar, arrulhou de volta e pombinha se chegou aos seus pés. Ficou a noite inteira assim, arrulhando para os pombinhos e eles se juntando próximo dele. De manhã, fez os sons de vários outros pássaros e eles sempre vinham ao seu encontro. Assim Carlinhos ficou ali, com seus olhos brilhando, estava feliz de verdade, sentado ali e falando com os passarinhos.

Um comentário:

Sic disse...

Eu acho sinceramente essa sua veia lúdica infantil ótima, já te disse isso, estou ficando apaixonada pelos seus personagens diminutivos no nome e grandes na fantasia...

P.S 1: Eu sou completamente adepta do sexo de 20 minutos, por falar nisso tem aí disponível? kkkkkkkkkkkkkk Calma isso não foi uma cantada não misturo trabalho e sexo e tu sabes disso kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk