domingo, fevereiro 05, 2006

Outra de Borboletas

Rosana tinha 5 anos apenas e gostava muito de correr atrás de borboletas. Pegava uma rede parecida com a que o pai usava. Ele era alemão e como todo alemão que aparecia por essas bandas naquela época, era um naturalista. Estavam os dois sempre a caça de espécimes, ele pra catalogar e ela pelo simples prazer de soltá-las "Oh, desculpe dona borboleta. Não, eu jamais lhe faria mal. Suba na minha mão e irei soltá-la", e as libertava mesmo, fazendo uma reverência aos agradecimentos recebidos das borboletinhas.
Um dia, travava uma luta ferrenha para prender uma borboletinha muito bonita toda amarela. Passou a rede pelo ar com muita habilidade, mas não conseguia pegá-la, divertia-se muito com isso, era o mesmo que ter uma grande amiga para brincar. Finalmente, como se estivesse cansada de voar ela pousou nos cabelos da garota. Uns poucos fios cairam para os olhso atrapalhando a vista, Rosa deu um sopro para cima "Ei, você está bagunçando meus cabelos. Desça daí. Ah está cansanda, bem não estaria tão cansada se não fosse pela teimosia não é mesmo?".
Rosana percebeu que alguma coisa levanta alguns fiozinhos de cabelo do seu lado esquerdo. Quando virou o rosto pôde ver outra borboletinha, idêntica a que estava pousada no seu lado esquerdo "Que maravilha, vocês se multiplicaram. Isso é tão bom". Distraída como estava, ela não percebeu seu pai chegando, até que ouviu o "pluc" da tampa de uma garrafinha se fechando. Só teve tempo de ver a outra borboleta fugir.
Mesmo protestando bastante seu pai não lhe deu ouvidos. Quando lembrou que a borboletinha seria espeada com um alfinete bem fino, entrou em desespero, tinha de fazer algo por ela. Entrou na tenda que o pai havia armado e sem que ele percebesse pegou a garrafa de cima da mesa. Correu, correu tanto que até o último dos seus dias, jamais conseguira lembrar de ter corrido tanto.
O problema de ter corrido tanto é que perdera-se na floresta. A borboleta que foi batizada de Amarilda por Rosana acompanhou-a o tempo todo. Quando cansou e estava prestes a desmaiar, sentiu ser arrebatada do chão, quase como se voasse. Antes de desmaiar de verdade pôde ver um amarelo intenso, deviam ser os raios do Sol que, agora que devia etsar tão alto, podiam ser vistos em sua plenitude.
Só acordou horas depois, quando seu pai furioso e chorando a sacudia, com medo dela estar morta. Depois disso ela foi proibida de participar das incursões com o pai. Todos puderam ver o quanto isso a entristecia, mas ninguém tentou intervir.
Já crescida Rosana tornou-se uma mulher muito bela e seu ar melancólico um estranho atrativo aos homens. Naquela época as moças não podiam escolher com quem se casariam. Então quando o filho de um fazendeiro pediu ao pai que fizesse os arranjos para o casamento, o pai dela, já velho e com a visão um pouco turva, deixou que ele a desposasse.
Rosana não perdeu o ar melancólico, que era tristeza de verdade, mas só quem sabia disso era ela, para os outros alguém tão bonita e bem casada não tinha tristezas verdadeiras "Isso é enfado de mulher romântica. Quando tiver o primeiro filho isso passa".
O primeiro filho veio, era um menino loiro que lembrava muito o avô. Quando eles cresceu, Rosana viu que ele tinha seus olhos tristes e brilhantes. Se culpava terrivelmente pela tristeza que havia passado ao filho, ele era um criança, não tinha culpa alguma, ainda era inocente.
Um dia enquanto ela se arrumava os cabelos num coque e seu filho a admirava, Rosana viu um vulto amarelado pela janela. Pôs a escova na penteadeira e foi para a janela, era esse o seu sinal, tinha se ser. Chegou perto do filho "Meu filho, mamãe vai precisar sair. Não fica com medo, tá? Mamãe vai ficar bem".
Ela desatou a parte dos cabelos que ainda estava presa e saiu pela entrada principal. Procurou por todos os lugares do jardim. Até que viu pousar na porteira uma borboleta amarela, idêntica aquela outra. Quando ela levantou vôo correu paar seguí-la, correu quase como daquela outra vez, mas já não era uma menina e nem usava aquelas roupas frouxas de criança, usava roupa de mulher adulta que mais parecia uma prisão do que uma vestimenta.
Teve aquele mesmo sentimento de estar sendo arrebatada para o alto. Dessa vez não desmaiou e viu. Antes tinha uma borboleta só e ela se multiplicou como da outra vez, 2, 10, 100, mais borboletas do que Rosana conseguia contar. Elas quem lhe levantavam do chão e era delas o brilho que confundia com o Sol e jamais se sentira tão feliz de novo.

2 comentários:

Sic disse...

Bem, eu preciso comentar? já que todo mundo só de me ver sabe o meu sentimento por borboletas! Lindo Rafa, e as crianças são seu forte meu querido, no bom sentido óbvio...

P.S: ainda acho que o senhor podeira se aventurar em dar forma as letras, ia ficar lindo demais!

Sic disse...

Já sabe quem é minha opção de ilustrador!