sábado, novembro 17, 2007

Real

Quando estou andando começo a narrar, é uma tentativa de transformar o fatos comuns em algo mais próximo do extraordinário, pelo menos fora do comum. Fora do comum seria encontrar alguém incrivelmente interessante no meio do mundo de gente que atravessa a BR pra entrar ou sair do shopping. No estado em que as coisas estão até parar de falar alguém ou "a criatura" e usar o devido "ele" já seria bastante fora do comum. No final das contas, atravessar ali sem ser violentamente esbarrado, nem esbarra em alguém seria fora do comum, acredito que até mesmo extraordinário.
É importante correr alguns riscos pra que as coisas fora do comum possam acontecer, as vezes eu faço isso. Hoje, foi ir ao cinema, às dezoito e vinte cinco decidi assistir o filme das dezenove horas, troquei de roupa e fui. Narrando a preocupação com o horário, a irritação com a lentidão das pessoas e a quantidade de gente, até o filme conseguir me deixar quieto, esquecido do mundo.
Parado, esperando um sinal incrivelmente demorado fechar, foi quando me dei conta dessas coisas. Porém, elas dificilmente fogem do comum na minha vida, dá pra inumerar algumas: eu vou todo arrumado para o cinema, mesmo quando vou sozinho; sou um ávido consumidor de sapatos, acabei de gastar quase trezentos reais em mais dois pares, absolutamente necessários devo ratificar; falo muito sozinho, mas bem baixo, detesto pessoas se intrometendo nas conversas alheias; e eu narro a minha vida, até quando só estou parado esperando um sinal.

Nenhum comentário: