O gato deitou no tapete, tentado se aquecer e escapar do vento gelado que invadia a sala pela janela. Ana não se movia, ficava sentada à janela observando aquela mesma chuva torrencial de todos os dias, sempre no mesmo horário, às três, logo após ela se levantar da sesta.
Há três meses que todos os dias eram assim, logo depois que a chuva passasse o gato iria se enrolar em sua perna e ela o traria para o colo, continuaria olhando pra fora, vendo a nuvem de chuva se afastar para a baía, fazendo o horizonte adquirir uma tonalidade acinzentada. Dava pra ver as mulheres recolhendo as roupas do varal e um grupo de moleques que sempre saía pra jogar na lama.
Nesses exatos três meses, em que as tardes eram preenchidas coma apreciação do mundo, Ana passava as dores de sua primeira desilusão amorosa, Ana amava Mário, que amava de volta, pelo menos até o primeiro mês em que ele esteve longe. Esperava casar-se assim que ele voltasse da universidade em outro estado. Não voltou, e para Ana mandou uam carta, revelando seus novos planos, nos quais ela havia sido substituída por uma moça chamada Adélia, a qual não tinha culpa alguma e era uma boa moça, tão boa quanto Ana, e se havia de ter algum culpado, esse só poderia ser o destino.
Tempo, tempo iria fazer tudo ficar melhor, isso lhe foi garantido por todos, inclusive por Mário em sua carta desmanchando seu antigo compromisso. Então, a moça resolveu esperar o tempo passar. No primeiro mês, tudo ainda estava recente demais, no segundo ela só tinha a certeza de que ainda doía bastante e passou a olhar tudo aquilo que se podia ver da janela do seu quanto, no segundo andar da sua casa. No terceiro mês, a dor continuava igual.
Espantava-a como tudo sempre parecia ocorrer sempre da mesma forma. Até que um dia, no vigésimo sétimo dia do terceiro mês, ela notou uma pequena flor que crescia no muro da casa em frente a sua e que foi levada pelo vento. No vigésimo oitavo dia, ela estava de volta e supreendentemente, foi levada por uma lufada de vento, não podia ser coincidência, porém, para se certificar, no vigésimo nono dia, ela prestou atenção em todos os detalhes, e como esperava tudo se repetiu, tudo exceto ela.
Ela contou os minutos no relógio, a chuva sempre caía às três, então ela passou a olhar também para o ponteiro dos segundos e esse também mostrava que às três em ponto era extamente.Ela percebeu algo talvez banal, todo dia era exatamente igual ao outro, porém essa constatação era justamente o que havia de mais extraordinário acontecendo. Todo dia era exatamente igual ao anterior. (Talvez continue)
Um comentário:
Odílho quando tu não temrinas as coisas kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
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