Aqui na Amazônia não há estações, fazemos de conta que quando chove muito é inverno e quando chove pouco é verão, mas isso é só uma forma de tentar dar alguma ordem às coisas, é uma ordem que não é nossa, mas a utilizamos por aproximação. E o outono e a primavera? Acontecem o ano quase inteiro (as mangas caem no segundo semestre, os jambos no primeiro...), então não faz sentido separar alguns meses pra elas.
Contudo, essa sensação de tempo imóvel que tentamos ludibriar parece não ser só nossa, quem nos olha de fora muitas vezes tem a idéia de que o lugar parou, que os nortistas obrigatoriamente têm uma porção indígena em sua genealogia, o suficiente para agrupá-los todos na categoria "índio", bem próximo àqueles descritos pelos colonizadores, preguiçosos, lascivos e inadequados para o trabalho, hoje o termo é "pouco empreendedores".
A floresta é também um caso peculiar, por um lado, se o tema é turismo, e a sua mais nova vertente é o ecológico, estamos no local certo, florestas à perder de vista, grandes e imponenetes rios, fauna exuberante, tudo garantia de proporcionar uma experiência de vida única para os visitantes. Por outro, se a discussão for meio ambiente, ela está em grave perigo, ameaçada pela fronteira da soja, pelo desmatamento, pela pecuária, pela biopirataria e, uma das ameaças mais graves, pela incapacidade da população local de gerenciar o território.
Com visões tão distintas sobre a mesma região, precisamos de uma perspectiva com um pouco mais de parcimônia. Sim, existe um bom pedaço de floresta intocada - pela escala da região Norte isso significa muita coisa - e precisamos cuidar para que ela continue nas "redondezas" para as próximas gerações, sem que isso signifique expulsar todos os atuais residentes. Também precisamos reconhecer que há um sério problema acerca de uma grande área pressionada pela exploração excessiva dos recursos naturais, cuja utilização dos serviços ambientais provavelmente ultrapassa seu limite, o que significará a sua breve extinção.
O tripé "termina" no que concerne a população local, temos grandes centros urbanos e também um grande número de comunidades tradicionais (seringueiros, extrativistas, ribeirinhos, caçadores...), grandes conhecedores da região, verdadeiramente eruditos quando se trata dos saberes locais, porém, com necessidade de se adequar também à realidade global e para isso precisam de orientação, não porque ignoram o que acontece fora de suas comunidades, mas por isso exigir determinadas competências que não se formaram aqui e precisam ser adequadas à nossa realidade, e a melhor forma de fazê-lo é de dentro para fora. Quem sabe essa seja uma das ações com maior probabilidade de sucesso para garantir a conservação dos recursos e para a racionalização dos serviços ambientais, isto é, torná-los lucrativos. Não dá para esquecer que o tempo passa por aqui também, só é mais difícil de "vê-lo".
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