"Literata e histérica" era assim que estava escrito num conto de Onetti, era exatamente assim que ele se sentia. Suas equivocadas tentativas de dar alguma grandiosidade a sua vida, o tamanho descomunal que os pequenos problemas tomavam, a ânsia por um drama genuíno, porém, tudo esbarrava numa vida livre de quaisquer acontecimentos grandiosos, nada jamais passava da ordem do comum.
Se fosse descrever-se, precisaria começar com os adjetivos "literato" e "histérico", primeiro para dar-lhe ao menos um certo senso de profundidade ao evocar um autor um tanto esquecido, depois porque era verdade.
Gastava muito tempo contando histórias a si mesmo. Desejava ser escritor, porém suas ambições literárias esbarravam em uma falta de voz própria e, quiçá, talento. Isso o deixava ainda mais desesperado. Punha-se em todas as histórias que lia ou assistia, imaginava-se fazendo parte daquele mundo, pelo menos como um figurante com um pouco mais de destaque "Eu estaria pronto para deixá-los passar, saberia que os dois precisavam de ajuda e os rostos iluminados pela paixão sentida pelos protagonistas me convenceriam de que eram boas pessoas". Seria tão bom viver num mundo que tivesse trilha sonora.
As vezes corria alguns riscos, pequenos, porém significativos em sua vida. Fechava os olhos enquanto andava, até bater em alguma coisa ou ser assaltado pelo medo de alguém surpreender-lhe andando de olhos fechados, as pessoas não compreendem. Elas jamais compreendem.
Pensava no futuro, com a certeza de que o que lhe falta seria uma certa maturidade, essa quando alcançada lhe abrirá as portas de tudo que lhe parecia mais obscuro no presente. Conseguirá se expressar com desenvoltura, todos irão compreender que era uma sensibilidade discreta aquilo que lhes causava estranhamento em relação ao menino. Mas, por enquanto, ele era como Onetti descrevera: "Literato e histérico".
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