*Caso do vestido é um poema do Drummond, esse texto foi um trabalho para Literatura e Comunicação. O exercício era fazer em prosa uma versão da amante ou do marida (o poema mostra a versão da mulher).
***
Eu estava sentada na mesa quando a vi, ela veio até a minha casa de novo, dessa vez procurando por ele, mas há muito que já não o via, nem sabia por onde andava. Desesperou-se de novo, me pedindo para devolve-lo, mas lhe expliquei que não era mais meu, era do mundo de novo e que por lá ela deveria procura-lo. “Que fizestes com o coitado sua demônia?”, perguntou ela, “Muito pelo contrário, devias ter me perguntando o que eu não deveria ter feito. Não vês o quanto eu era distinta de ti, jovem e bonita e agora parecemos duas irmãs decrépitas” respondi.
Ela me olhou no fundo dos olhos e enchi-me de vergonha, cega pelo desespero nem notara o quanto irmãs tínhamos nos tornado. Contei-lhe tudo desde o princípio, quando ele me enxergara de passagem por sua cidade, naquela época em que os homens, para mim, não eram meus semelhantes, eram insetos que invariavelmente suicidavam-se na minha chama.
A malevolência da mulher, que faz um homem se render aos seus pés e enlouquecer, me era bastante familiar, mas a do homem, essa era uma completa estranha para mim. Pois mesmo a mais pérfida mulher jamais estará incólume de se apaixonar, mas o demônio na alma do homem é insensível, depois de obter o que quer esvazia-se de sentimento na mesma medida em que o outro se enche de esperanças de amor.
Eu não cederia as coisas estúpidas que ele, como todo homem, acreditava ser suficiente para conquistar uma mulher. Quando me veio com gabolices e juras vazias, mandei-o para casa. Depois queria comprar-me, encheu-me de ouro até que não conseguisse mais sair do lugar, tornando-se ainda mais aborrecido, mandei-o para casa mais uma vez.
Ela me olhou no fundo dos olhos e enchi-me de vergonha, cega pelo desespero nem notara o quanto irmãs tínhamos nos tornado. Contei-lhe tudo desde o princípio, quando ele me enxergara de passagem por sua cidade, naquela época em que os homens, para mim, não eram meus semelhantes, eram insetos que invariavelmente suicidavam-se na minha chama.
A malevolência da mulher, que faz um homem se render aos seus pés e enlouquecer, me era bastante familiar, mas a do homem, essa era uma completa estranha para mim. Pois mesmo a mais pérfida mulher jamais estará incólume de se apaixonar, mas o demônio na alma do homem é insensível, depois de obter o que quer esvazia-se de sentimento na mesma medida em que o outro se enche de esperanças de amor.
Eu não cederia as coisas estúpidas que ele, como todo homem, acreditava ser suficiente para conquistar uma mulher. Quando me veio com gabolices e juras vazias, mandei-o para casa. Depois queria comprar-me, encheu-me de ouro até que não conseguisse mais sair do lugar, tornando-se ainda mais aborrecido, mandei-o para casa mais uma vez.
Minha desgraça foram as amizades, que eu mantinha por perto muito mais por entretenimento, pois só se mantinham por perto para agourar os homens caídos. De tanto falarem, tentei olha-lo com outros olhos. Quando ela veio pela primeira vez, pedindo para que ficasse com ele, olhei-a com desdém, e disse-lhe com desfaçatez que o teria somente por causa dela.
Ele veio logo depois, continuava um tanto feio, com o olhar oblíquo e poucos cabelos, mas já não lhe era de todo indiferente. Deixei que ficasse ao pé de minha cama, mas logo estava por toda parte, tinha roupas e sapatos em meu armário e eu lhe preparava o jantar. Não me importavam mais colares e anéis, somente o homem deus que havia em minha vida.
Nos primeiros meses fui correspondida, adorada como uma deusa e amada também. Meu primeiro e único erro foi de uma inocência que não me era própria e, na verdade, desconhecida, uma jura patética de amor, escapuliu-me como se fosse um “bom dia”. Nesse exato instante, o brilho da paixão fugiu-lhe dos olhos, porém isso escapou-me aos olhos de mulher apaixonada.
O monstro do homem tomou-lhe as ações. Não ficava em casa, nem amava com a mesma intensidade, quase não me amava mais na verdade. Enlouquecida, roguei-lhe em desespero que parasse com aquela loucura, que me amasse como antes, mas só consegui que me olhasse com desdém “Tu és enfadonha”.
Ele levantou-se para ir embora, de joelhos me agarrei em seu corpo, implorando para que ficasse. Arrastou-me até que as forças me faltassem, segurando em seus pés e gritando que o amava, ele se soltou com um chute que quase me parte em duas. Fiquei jogada, chorando, vendo-o partir sem nem ao menos se virar.
Incrédula, sai procurado-o. Quase louca, entrei em igrejas pedindo ao Senhor que o livrasse de qualquer demônio que tivesse se apossado dele, mas o demônio era o do homem, e neste o Senhor não mandava. Encontrei-o algumas vezes, em todas fui rejeitada. Tentei toda sorte de convencimento, principalmente os desesperados, tentando fazer com que a pena o comovesse e fizesse voltar para mim. Porém, isso só lhe atiçava a crueldade, divertia-se com a minha humilhação “Então te matas por amor, assim levo teu corpo como troféu”.
Foi assim que nos tornamos irmãs. A dona se compadeceu de mim, abraçadas choramos por horas. Quando ia embora, perguntei-lhe das filhas, ela me contou que ainda eram pequenas, peguei o vestido que ele dizia ser seu favorito, havia guardado-o como lembrança, entreguei para ela e lhe disse “Leva, coloca num lugar onde tuas meninas possam ver. Para que elas jamais esqueçam quanta maldade há no corpo.”
Ele veio logo depois, continuava um tanto feio, com o olhar oblíquo e poucos cabelos, mas já não lhe era de todo indiferente. Deixei que ficasse ao pé de minha cama, mas logo estava por toda parte, tinha roupas e sapatos em meu armário e eu lhe preparava o jantar. Não me importavam mais colares e anéis, somente o homem deus que havia em minha vida.
Nos primeiros meses fui correspondida, adorada como uma deusa e amada também. Meu primeiro e único erro foi de uma inocência que não me era própria e, na verdade, desconhecida, uma jura patética de amor, escapuliu-me como se fosse um “bom dia”. Nesse exato instante, o brilho da paixão fugiu-lhe dos olhos, porém isso escapou-me aos olhos de mulher apaixonada.
O monstro do homem tomou-lhe as ações. Não ficava em casa, nem amava com a mesma intensidade, quase não me amava mais na verdade. Enlouquecida, roguei-lhe em desespero que parasse com aquela loucura, que me amasse como antes, mas só consegui que me olhasse com desdém “Tu és enfadonha”.
Ele levantou-se para ir embora, de joelhos me agarrei em seu corpo, implorando para que ficasse. Arrastou-me até que as forças me faltassem, segurando em seus pés e gritando que o amava, ele se soltou com um chute que quase me parte em duas. Fiquei jogada, chorando, vendo-o partir sem nem ao menos se virar.
Incrédula, sai procurado-o. Quase louca, entrei em igrejas pedindo ao Senhor que o livrasse de qualquer demônio que tivesse se apossado dele, mas o demônio era o do homem, e neste o Senhor não mandava. Encontrei-o algumas vezes, em todas fui rejeitada. Tentei toda sorte de convencimento, principalmente os desesperados, tentando fazer com que a pena o comovesse e fizesse voltar para mim. Porém, isso só lhe atiçava a crueldade, divertia-se com a minha humilhação “Então te matas por amor, assim levo teu corpo como troféu”.
Foi assim que nos tornamos irmãs. A dona se compadeceu de mim, abraçadas choramos por horas. Quando ia embora, perguntei-lhe das filhas, ela me contou que ainda eram pequenas, peguei o vestido que ele dizia ser seu favorito, havia guardado-o como lembrança, entreguei para ela e lhe disse “Leva, coloca num lugar onde tuas meninas possam ver. Para que elas jamais esqueçam quanta maldade há no corpo.”
Um comentário:
"...Deixei que ficasse ao pé de minha cama, mas logo estava por toda parte..."
Isso será plagiado Ha ha ha risada diabólica
ADOREI!
Beijos e preciso de uma revanche no jogo, não sei perder...
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